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domingo, 18 de outubro de 2020

[0256] Educação Patrimonial (IV)

Os processos de patrimonialização têm dado origem a importantes iniciativas de educação / formação, sendo a inspirada pelo Campo Arqueológico de Mértola uma das mais antigas. Recentemente, no âmbito das candidaturas da Olaria Negra de Bisalhães (Vila Real) e do Figurado em Barro de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade (respectivamente reconhecidas pela UNESCO em 2016 e em 2017), surgiram outras iniciativas semelhantes, visando dar continuidade aos ofícios locais que estavam em risco de se perder.


Respigadas entre outras iniciativas deste género, mas não dependentes do reconhecimento por uma entidade supervisora, estão as seguintes:

As Artes e Ofícios do Espectáculo, desde 1991 associadas à Escola de Circo do Chapitô (Lisboa):


A Arte do Junco, no Mosteiro de Santa Maria de Cós (Alcobaça);

A Tecelagem, a Cestaria e a Gaita de Fole, na Escola de Artes e Ofícios resultante da parceira entre os municípios de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca e a Escola Profissional do Alto Lima;

A Cordoaria, a Tanoaria, a Olaria e a Azulejaria, desde 2013 na Escola de Artes e Ofícios de Ovar.


Na Nossa Banda, onde ainda se sentem os antigos cruzamentos do mundo rural com os ofícios do rio e do mar, temperados pelas tradições mais recentes das indústrias e das artes como as da música e as do teatro, não se justificaria a criação de uma Escola de Artes e Ofícios, capaz de contribuir para o estabelecimento de pontes entre as muitas e meritórias iniciativas e de ajudar a inventar um futuro para essas actividades?

 

Imagem: sítio do Chapitô 

sábado, 15 de fevereiro de 2020

[0224] A Reserva Ecológica Nacional do concelho do Seixal


A versão mais actualizada dos limites e dos conteúdos desta reserva foi estabelecida através da Portaria nº 3 de 2016 (18 de Janeiro). As suas origens remontam, no entanto, a cerca de duas décadas e meia antes.

Em 1997, numa publicação da Câmara Municipal do Seixal, o professor Manuel Lima destacou e descreveu as principais zonas que então a integravam (a tracejado no seguinte mapa):


Os mais de 733 hectares desta reserva correspondem a cerca de 8 % da área total do concelho do Seixal, sendo grandemente constituída por um contínuo de sapais, portanto marcados pelos níveis das marés que ritmam as águas do estuário do Tejo e ambiente favorável para uma grande diversidade de plantas e de animais.

A principal excepção a este contínuo é a zona dos Redondos da Catrapona, situada no interior do concelho, que se destaca pelo seu pinhal, não lhe correspondendo, também, qualquer património cultural.

O modo como os ocupantes das margens destes sapais deles tiraram proveito (e nalguns casos ainda tiram) está bem patente numa grande diversidade de evidências arqueológicas.
As águas situadas no subsolo do sapal de Corroios, as areias que cobrem a Ponta dos Corvos e os barros que se vão formando em qualquer sapal, foram, e continuam a ser hoje, recursos geológicos. E os vestígios de antigos fornos mostram uma das possíveis formas de eles serem aproveitados (um, romano, em Corroios; outro, de cal, na Azinheira).
As quintas, que por aqui foram abundantes, testemunham o trabalho da terra e a abundância dos produtos que dela se retiravam: a fruta, o azeite e o vinho. E porque nem toda esta riqueza se destinava a consumo local, existem muitos vestígios de estaleiros destinados à construção naval em madeira e de portinhos por onde chegavam as matérias primas e se escoava o que a Lisboa se destinava. E também existem os restos de diversos moinhos de maré (dois em Coina, quatro na Azinheira, quatro na Ponta dos Corvos), estando um deles (em Corroios), hoje, musealizado.
Mais recentes são as grandes estruturas que lembram o tempo em que diversas indústrias se situaram nestas bandas: para a produção de tijolos, de lanifícios e de vidros, para a preparação da cortiça (caso da Fábrica Mundet, situada à entrada do Seixal), para a seca do bacalhau (a Companhia Atlântica, na Ponta dos Corvos) e para produção de aço (a Siderurgia Nacional, em Paio Pires).

Fonte: Lima (1997)


sábado, 2 de fevereiro de 2019

[0176] Uma visão artística do património do Seixal


Situado na marginal que acompanha o Rio Judeu na direcção do Seixal (a Avenida da República), e logo a seguir ao desvio para a Avenida José Afonso, foi inaugurado em 2018 um mural de azulejos de Albino Moura intitulado Cidade do Seixal.

Neste mural podem ser encontrados elementos do património natural, edificado e laboral associados a este concelho: os seixos fluviais que, supõem-se, terão estado na origem do seu nome; os flamingos e outras aves que são hoje visíveis no esteiro e em terra; a primeira riqueza trabalhada nesta região, a piscícola e a agrícola; as grandes ferramentas que exploraram essa riqueza, como os moinhos (de vento, de maré), as embarcações (em particular a Muleta), as redes e, mais tarde, as fábricas (nomeadamente as que transformaram a cortiça); e os edifícios em que tradicionalmente se viveu e também aqueles com que as instituições, antigas e modernas, se afirmaram:

(composição de 3 fotografias, recortadas, de Eva Maria Blum)

sábado, 23 de junho de 2018

[0146] Tópicos sobre o património histórico do concelho do Barreiro


Da exposição permanente do Espaço Memória do Barreiro



Povoado Neolítico, na Ponta da Passadeira: com cerca de 5 000 anos; vestígios que o associam à caça, à pesca, à recolecção de marisco, à olaria e ao eventual culto do touro.

Vinhas: está documentada a sua existência em Coina (1257) e no Lavradio (1298); na primeira metade do século XIX elas ocupavam um terço do solo do concelho.

Salinas: existiam no Lavradio (antes de 1317) e no estuário do Coina (desde 1322); perduraram, juntamente com a agricultura, até ao início do século XX.

Fornos Cerâmicos: os da Mata da Machada (séculos XV e XVI) usavam a argila e a lenha das proximidades, produzindo malgas, pratos, candeias, tigelas, copos, escudelas e talhas, pesos de rede, telhas, formas de biscoito (para o Vale do Zebro) e formas de pão de açúcar (para os engenhos açucareiros); mesmo se pode dizer do forno de Santo António da Charneca, da mesma época.

Complexo Real de Vale do Zebro: no século XV tinha 27 fornos, um armazém de cereal, um cais de embarque, um moinho de maré com 8 moendas (o maior do estuário do Tejo, nessa época); produzia o «biscoito» (o nome proveio das duas cozeduras a que era sujeito, para ficar completamente desidratado), que era conservado em barricas e não azedava durante as viagens marítimas (precisava de ser humedecido antes de poder ser consumido; a ração diária era de 428 gramas por pessoa); danificado pelo terramoto de 1755, foi reconstruído, acabando por servir para outros fins.

Moinhos de maré: foi referenciada a existência de 11; o primeiro data de 1484; há vestígios dos de Coina, Telha, Palhais, de três na Alburrica (Grande, Pequeno e do Cabo) e do d`El Rei (Vale do Zebro); no século XVIII foi construído o de Braancamp, maior que o de Vale do Zebro; antes destes moinhos houve moinhos fluviais.

Moinhos de vento: aproveitavam os ventos predominantes de Norte; haveria uma dúzia no século XVIII, que perderam valor comercial com a chegada da moagem industrial; na Alburrica, subsistem os moinhos Nascente e Poente (1852), de tipologia portuguesa, e o Gigante (1852), de três pisos e pás de madeira, de tipologia holandesa, tal como o moinho do Jim, que se situou na antiga praia do Norte, hoje Av. Bento Gonçalves (1827).

Construção naval: para embarcações de longo curso, desde o século XV até ao século XIX, situada na Ribeira da Telha (Azinheira Velha, Santo André), próximo de uma mancha florestal (Mata da Machada); trabalhou em articulação com a construção naval da Ribeira, em Lisboa; paralelamente desenvolveu-se a construção e a reparação naval, destinadas à pesca e à navegação no rio.

Muleta: esta embarcação aparenta ter raízes no Mediterrâneo oriental; possui um mastro inclinado, com verga para uma grande vela latina, dois panos na ré e seis na proa; e possui «tartaranha» (rede de arrasto e de alar) e redes de deriva; exigia uma campanha de 15 homens, um mestre e 2 moços auxiliares; em 1901 só havia uma a laborar; foi substituída pelo Bote-de-fragata em 1928.

Real Fábrica de Espelhos e Vidros Cristalinos de Coina: fundada no século XVIII, por D. João V; laborou entre 1719 e 1749, sendo transferida para a Marinha Grande devido à proibição de utilizar a madeira dos pinhais reais, apesar de ter usado, durante algum tempo, hulha importada.

Linha Ferroviária de Sul do Tejo: começou a ser explorada comercialmente em 1861; em 1884 foi-lhe acrescentado a ligação a um cais fluvial, tornando atrativo o seu uso pela indústria.

Indústria Corticeira: a primeira notícia da inauguração de uma fábrica de cortiça no Barreiro é de 1865; em 1920 havia aí 40 fábricas e mais de 1000 operários (um terço da população activa barreirense; houve quem trabalhasse a partir dos 7 anos de idade; no fim do século XIX a jornada de trabalho era de 12 horas); a CUF veio proporcionar condições mais atractivas para os trabalhadores, a que se juntou a pressão do crescimento urbano, levando ao desaparecimento desta indústria.

Companhia União Fabril (CUF): instalou-se no Barreiro, para se expandir, pois o seu desenvolvimento estava limitado em Lisboa; em 1907 já tinha armazéns e um cais acostável; depois teve um ramal de caminho-de-ferro e novos terrenos para Sul do terreno inicial, situado junto ao rio; constrói um bairro operário em 1908; no final dos anos 50 emprega mais de 8 mil operários e na década seguinte mais de 10 mil; a recessão dos anos 70 questionou o seu modelo de grande concentração industrial.

Associativismo: são centenárias a Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense «Os Penicheiros» e a Sociedade União Democrática Barreirense «Os Franceses» (1870); a Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense e a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste (1894); a Sociedade Filarmónica União Agrícola 1º de Dezembro (1896); o Futebol Clube Barreirense e a Cooperativa «Corticeiros» (1911); e a Cooperativa Popular Barreirense (1913).

Fonte (catálogo): Camarão & Carmona (2015)

domingo, 15 de abril de 2018

[0130] O Moinho de Maré da Mourisca



Terá funcionado entre 1601 e 1967.
Fazia parte de uma economia onde se salientavam o Arroz, as Ostras e o Sal.


Foi reconstruído em 1995 pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
As 8 moendas originais foram reduzidas a 6, servidas por 4 rodízios (dois destes alimentam duas moendas, cada um).


Tem associado um porto pafafítico e um observatório de aves aquáticas.


As aves aquáticas aqui observáveis são sobretudo invernantes:




Na página «Documentos» (na pasta «NossaBanda») estão acessíveis dois documentos sobre este Moinho e outro sobre a Reserva Natural do Estuário do Sado.

Fotografias (parcialmente reproduzidas): Eva Maria Blum

Ilustrações: Marcos Oliveira (folheto do ICNF, sem data)

domingo, 30 de outubro de 2016

[0010] Nas velhas instalações do Presídio da Trafaria: três exposições sobre a outra / a nossa banda

As três exposições:
«As Vinhas de Almada. O vinho na história local» (da autoria do Centro de Arqueologia de Almada);
«Objecto - Projecto» (realizada no âmbito da Trienal de Arquitectura, com curadoria do arquitecto Godofredo Pereira); e

«O Presídio e a Trafaria. 450 Anos de História» (da autoria do Centro de Arqueologia de Almada).


Qualquer destas exposições, a seu modo, coloca a questão da relação entre as duas margens do Tejo:
os vinhos que Almada e o Seixal produziam e que Lisboa consumia ou exportava; as funções que, a partir do século XVI, foram atribuídas à Trafaria (a quarentena de pessoas e de mercadorias; a defesa militar e o presídio; a moagem e a pequena indústria, de conservas, de explosivos), ou que mais recentemente aí foram descobertas (os banhos terapêuticos);
a gradual dinâmica social que a margem Sul desenvolveu como consequência desta relação funcional …;
o que, nas claras palavras de Godofredo Pereira, pode ser dito assim: “Trata-se de uma exposição [ele refere-se à segunda] sobre o papel da frente ribeirinha de Almada no desenvolvimento urbano de Lisboa.” Almada cresceu “como espaço de apoio às funções mais nobres da capital”; ela, em particular, “destaca a arquitetura dos equipamentos coletivos, surgidos por necessidade e realizados em economia de meios, desde associações de socorro mútuo, a cooperativas de consumo, passando pelas sedes de clubes recreativos ou de diversos espaços culturais. São estes equipamentos que vão fazendo a cidade, dando forma não só aos seus ritmos diários mas também às suas aspirações políticas e sociais – aos seus projetos. É sobre esta cidade, inseparável de Lisboa, que vai crescendo nos interstícios da logística e do urbanismo capitalista que a exposição Objecto – Projecto se debruça.” O que, interpreta-se, parte de um pressuposto: “a cidade é um problema político, de conflito entre vários projetos.” (citações retiradas de uma entrevista feita pela «Agenda de Almada» de Outubro de 2016).

Os edifícios do Presídio (a prisão propriamente dita mais os locais de residência e administração) não se encontram em bom estado, mas essa condição também nos faz pensar na sua História …

Um grupo de gente preocupada com as ligações entre Educação e Património visitará estas três exposições no próximo dia 11 de Novembro, a partir das 14h00. Se formos mais, sempre se conversa.

Porquê a expressão «Outra Banda»? Porque não «Nossa Banda»?
Tem esta questão algo a ver com a Educação?