domingo, 28 de fevereiro de 2021

[0274] Beleza e sombra (V): a complexidade das Dicotiledóneas

Como distinguir, entre as plantas com flor, as «Monocotiledóneas» (mensagem «0270») das «Dicotilidóneas»?
O nome dado a estes dois grandes grupos ajuda a perceber: as plantas «mono» têm uma primeira folha que está especialmente preparada para a germinação; e as «di» têm duas dessas folhas. Estes dois casos estão ilustrados nas figuras seguintes:


Mais de dois terços das plantas com flor são Dicotiledóneas (igualmente chamadas «Eudicotiledóneas»). Elas são caracterizadas por:

·      As sementes possuírem dois cotilédones (daí as «duas folhas»);

·      A raiz é aprumada (o que lhe permite atingir maiores profundidades; as raízes das monocotiledóneas são fasciculadas, portanto mais curtas);

·      As folhas possuírem nervuras reticuladas (contrariamente às das monocotiledóneas, que são paralelas);

·      O seu ciclo de vida ser longo.

 

Algumas das mais importantes famílias de plantas Dicotiledóneas em Portugal são:
A família das Fabáceas (ou leguminosas), cujos frutos têm a típica forma de vagens, como as ervilhas, os feijoeiros, a Soja, a Olaia, a Glicínia e as acácias (muitas espécies de Fabáceas possuem nódulos nas raízes, onde se alojam bactérias fixadoras de azoto):


As vagens da Olaia

 A família das Fagáceas, que inclui os castanheiros e os carvalhos (nomeadamente o Sobreiro), tendo estes dominado a nossa floresta continental até pelo menos à Idade do Bronze:


Sobreiro (Parque da Paz, 2011)

A família das Oleáceas, onde figuram a Oliveira e o Freixo:


Oliveira frutificando (Altura, Algarve)

A família das Rosáceas, que agrupa as árvores de fruto, como a Cerejeira, a Macieira, o Morangueiro, a Nespereira e o Pessegueiro:


Folhas e flores do Pilriteiro (Parque da Paz)

 E a família das Vitáceas, constituída por trepadeiras, sendo a mais importante a Vinha:


O transporte do vinho em batelões
(azulejo em Pinhal Novo, Setúbal)

 

Fontes: Wikipédia; livro de Bingre & outros, 2007; pp. 53-54, 58, 60-61 e 65-66)

Imagens: Wikipédia (comparando as mono e as dicotiledóneas); fotografias de Pedro Esteves (as duas primeiras) e de Eva Maria Blum (as outras três)

domingo, 21 de fevereiro de 2021

[0273] O projecto «Inscrever a Europa nos Muros das Cidades»

A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia foi a principal base de trabalho para a realização de um projecto de expressão pública pelos alunos de várias das escolas do nosso país (e, num caso, pela população de uma vila).

Em cada um desses casos, uma equipa do Centro de Informação Europeia Jacques Delors trabalhou com professores e alunos, durante uma semana, visando que o produto final, um painel de azulejos, ficasse patente num local destacado da respectiva localidade.

As localidades e as escolas envolvidas foram:

 

2003

Alcabideche (Cascais): Escola Ibn Mucana.
Porto: Colégio Luso Francês.
Serpa: Escola Básica Integrada de Serpa, Escola Secundária de Serpa, Escola Oficina de Pintura de Azulejos e Louça Cerâmica, Escola Básica Integrada e Jardim de Infância de Pias.

2004

Guimarães: Escola Básica 2+3 de S. Torcato, Escola Secundária Martins Sarmento, Escola Secundária Francisco de Holanda e Centro de Formação da Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Locais.
Belém (Lisboa): Colégio de Pina Manique.
Tomar: Escola Secundária de Santa Maria do Olival.
Tondela: Escola Secundária de Tondela.
Vila Franca de Xira: Escola Básica 2+3 de Vialonga.

2005

Felgueiras: Escola Básica 2+3 de Idães, Escola Básica 2+3 de Airães, Escola Básica 2+3 Manuel Faria e Sousa e Escola Básica 2+3 Dr. Leonardo Coimbra.

2006

Reguengos de Monsaraz: Escola Secundária Conde de Monsaraz.
Tavira: Escola Secundária de Tavira.

2007

Oeiras: Escola Básica 2+3 de Caxias.
Mira Sintra: Escola Secundária Matias Aires.
Ulgueira: habitantes da vila.

2008

Loures: Escola Básica 2+3 Luís de Stau Monteiro.

 

Eis uma fotografia do painel que concretizou o projecto em Serpa:


Em https://www.inscrire.com/projet/inscrire-les-droits-humains-au-portugal/ é possível obter mais informações sobre cada um destes projectos,

 

Fontes: sítio da Association Inscrire Les Droits Fondamentaux
Fotografia: Eva Maria Blum

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

[0272] Educação Patrimonial VII

 Corroios, onde o concelho do Seixal se inicia para quem vem de Almada, foi a terra que, em 1976,  “acolheu” Manuel Lima, como residente e como professor. Naturalmente, Manuel Lima ganhou “apego, carinho e entusiasmo pelas coisas que a ela dizem respeito.”

Durante mais de uma década pesquisou-a através das mais diversas “áreas de saberes”. “Trabalho de campo, pesquisa bibliográfica, consulta de organismos técnicos especializados e principalmente recolha oral”: uma “pesquisa transdisciplinar”, com “abordagens entrelaçadas”.
No livro em que reuniu os diversos artigos que foi escrevendo e publicando sobre a sua terra, Manuel Lima “aborda de uma forma globalizante conhecimentos locais, nas áreas não só da geologia, da biologia ou da geografia, mas também do domínio do ambiente, da história, das ciências sociais ou económicas.” Não se trata de um livro publicado agora, mas sim há 20 anos, sendo intuito desta mensagem lembrar o potencial com que o seu conteúdo nos continua a desafiar:

 

Corroios. Minha Terra co(m a)rroios



Diz-nos Manuel Lima, na nota prévia com que no-lo apresenta: “a maioria da população da freguesia de Corroios reside neste território há relativamente pouco tempo, desconhecendo por vezes as raízes culturais desta terra.” Ora, “só conhecendo a sua área residencial melhor se poderá integrar e participar na vida colectiva.
Em particular, é “cada vez maior a necessidade de enraizar a escola no meio, preparando-a para dar respostas aos problemas da sociedade local.”

 

Os saberes familiares e os saberes locais serão os primeiros contextos em que cada criança enraíza o desenvolvimento do seu próprio saber sobre o mundo. Contextos concretos, portanto capazes de proporcionar um sentido aos contextos mais abstractos que lhe irão chegar quando for solicitada a interagir com os saberes globais.
Então, quais são os contextos que Manuel Lima nos descreve no seu belo livro sobre Corroios?
Alterando a ordem pela qual eles são nos apresentados, como capítulos, para começarmos pela natureza e depois chegar à acção humana:
Os recursos hidrológicos e geológicos. Que, antes de serem «recursos» (ponto de vista do Homem), são a Terra antes da existência da Vida.
O Sapal de Corroios e o seu ecossistema. A interacção primordial entre a Terra e o Mar, com a Vida a nascer dela.
Património vegetal. A primeira grande expansão da Vida: a das plantas.
Ornitologia e antigas actividades cinegéticas. A segunda expansão da Vida: a dos animais, aqui representados pelas aves. Mas a não confundir, por enquanto, com o modo como o Homem dela procurou viver.
Antigas quintas e actividades rurais. Se as actividades cinegéticas recordam o nosso passado de Caçadores e Recolectores, as quintas recordam o nosso passado como Agricultores.
Património construído, tal como o crescimento urbano e populacional. Depois da sedentarização, o crescimento em número, devido à agricultura e a outros contributos civilizacionais.
Modos de vida e actividades do passado, bem como as antigas artes, profissões e ofícios. O modo como vivemos até há não muito tempo atrás, e que ainda é a matriz das nossas Culturas e das nossas Técnicas.
Indústria a economia local. Tudo tem vindo a mudar desde a Industrialização, e o âmbito local não lhe é alheio.
Colectividades e outras associações. Elas têm sido uma das respostas culturais às grandes mudanças que estão em curso desde há dois séculos.
Educação e escolas. E aqui residirão as esperanças para que o prosseguimento dessas mudanças se enraíze em todos nós.
Protecção do ambiente. Último capítulo, e aí bem colocado: teremos de voltar a olhar para o princípio, se nos queremos proteger de nós próprios.

 

Como integrar toda esta riqueza de saberes nos currículos escolares é, portanto, o permanente desafio com que este livro nos confronta.

Será então necessário observar como as escolas o estão, ou não, a trabalhar!

 

Fontes: livro de Lima (2001; citações das pp. 7-8)

sábado, 6 de fevereiro de 2021

[0271] As Escolas do Piedense

Conforme breve anúncio aqui dado (mensagem «0191»), foi apresentado, no dia 2 de Junho de 2019, no salão nobre do Estádio Municipal José Martins Vieira (Cova da Piedade), o livro

Escolas do Clube Desportivo da Cova da Piedade
50 Anos ao serviço do ensino popular e da democracia
.


A Cova da Piedade resultou de três vagas migratórias. Na transição do século XIX para o século XX, os beirões chegaram para trabalhar, essencialmente, na indústria e nos serviços; depois vieram os algarvios, sobretudo de São Brás e de Silves, para trabalhar na cortiça; e, a partir do início da década de 40, como consequência da mecanização do trabalho agrícola no Alentejo, chegaram os alentejanos.
Em 1947, ainda na ressaca da IIª Grande Guerra, os sócios de dois dos clubes da Cova da Piedade decidiram fundi-los num só. O mais antigo, fundado em 1914, era o União Piedade Futebol Clube; o mais recente, fundado em 1928, era o Sporting Clube Piedense. Apesar das marcadas rivalidades existentes entre muitos dos seus dirigentes e sócios, nasceu assim o Clube Desportivo da Cova da Piedade (CDCP).

 

As «escolas» começaram pouco depois.
Em 1948, dando continuidade às creches que a indústria corticeira local já garantia, foi criada uma escola Pré-Primária, talvez a primeira no país, que também foi pioneira ao juntar meninas e meninos dos 4 aos 7 anos de idade. Primeiro abriu na Rua das Salgadeiras; depois, dada a grande procura, também na Rua União Piedense. Funcionou até 1978.

As aulas de Cultura Geral foram iniciadas em 1963, perdurando, sob outras formas, até hoje. Incluíam exposições de artes plásticas, visitas de estudo e debates com intelectuais, como Ferreira de Castro, Bernardo Santareno, Matilde Rosa Araújo, Assis Esperança, Fernando Gusmão, Morais e Castro e Joaquim Benite. Foi com esta cobertura que se ajudou a preparar o Congresso da Oposição Democrática, realizado em 1973, em Aveiro.

Também em 1963 se iniciaram as aulas noturnas, de preparação de adultos para os exames do 2º e do 5º ano do Liceu (hoje 6º e 9º ano) e para o acesso à Universidade.

 

Segundo o testemunho de Artur Jaime Ferreira de Castro Rodrigues, “As Escolas pré-primárias ajudaram a colmatar lacunas numa freguesia onde as pessoas tinham uma grande vontade de aprender e de se manter informadas. A título de exemplo: lembro-me de que, nas fábricas de cortiça, sobretudo no período do movimento anarquista, quando a maioria dos operários eram analfabetos, se quotizavam entre si, do pouco que ganhavam, para terem um leitor na Sala de Escolha, o que revela a forte consciência colectiva que se estabelecia em torno da necessidade de aceder à informação. Outro exemplo dessa necessidade é reflectida através do importante papel que as bibliotecas das várias organizações associativas (Clube Recreativo Piedense, SFUAP e Cooperativa Piedense) tiveram.

 

Fontes: livro do Colectivo das Escolas do Clube Desportivo da Cova da Piedade (2019; pp. 8, 11, 16, 19, 20, 21, 22, 25, 26, 27 e 30)

Nota 1: nos diversos textos que compõem este livro surgem duas datas (nas pp. 25 e 26) para a fundação do Sporting Clube Piedense, 1928 e 1932; adoptei a primeira apenas por provir da mesma fonte que indica a fundação do União Piedade Futebol Clube.

Nota 2: de igual modo notei uma não coincidência testemunhal em relação à data de início da Pré-primária (1948 na p. 8 e 1947 na p. 25); adoptei a primeira data por estar integrada num testemunho mais alargado (integrando outras datas).