sábado, 4 de dezembro de 2021

[0313] O Dia Mundial da Conservação da Vida Selvagem

O Dia Mundial da Conservação da Vida Selvagem teve origem nos Estados Unidos, em 2012, visando sensibilizar e envolver os cidadãos na conservação de todo o tipo de vida selvagem. E a sua celebração tem lugar no dia 4 de Dezembro.

Os problemas com a vida selvagem não são apenas os que resultam da «caça» (dos animais) e do «corte» (das plantas). Também são os que resultam da «concorrência». Por exemplo, a biomassa dos mamíferos está actualmente distribuída assim: seres humanos, 36 %; mamíferos domésticos (especialmente vacas e porcos), 60 %; mamíferos selvagens, 4 %. E o mesmo sucede com a biomassa das aves: domésticas (galinhas, patos, gansos), 75 %; selvagens, 25 %.

O estreitamento a que a vida selvagem tem sido submetida não afecta por igual todos os grupos de seres vivos: os Artrópodes continuam a ser metade de toda a biomassa animal, enquanto que os seres humanos e o seu gado são apenas 8 %.

Relação evolutiva entre os filos dos Poríferos, dos Celenterados, dos Moluscos,
dos Anelídeos, dos Artrópodes, dos Equinodermes e dos Cordados,
cada um deles representado por um dos seus membros mais conhecidos


Fontes
: sítio da Calendarr Portugal; livro de Arsuaga (2021; p. 135 para a imagem e p. 496 para os números)

domingo, 28 de novembro de 2021

[0312] Três escolas aniversariantes na Nossa Banda

Esta semana há três escolas do concelho do Seixal que estão de parabéns: no dia 25 de Novembro a Escola Secundária Manuel Cargaleiro completou 36 anos desde a sua inauguração, em 1985; ontem, 27 de Novembro, foi a vez de a Escola Básica 2 + 3 de Corroios completar os seus 34 anos; e hoje, 28 de Novembro, é a Escola Secundária João de Barros que completa os 35 anos desde que, em 1986, nela foram iniciadas as aulas.


Não foram anos fáceis, os da segunda metade da década de 1980, dado o grande incremento de população jovem nos concelhos de Almada e Seixal e a vetustez e a escassez das instalações escolares então existentes (ver a mensagem «0019», sobre o Encontro-Debate realizado na Escola Secundária Emídio Navarro, em 22 de Novembro de 1986, onde foram abordados os problemas existentes nas escolas destes dois concelhos).

Hoje estas escolas começam a defrontar-se com o problema inverso: o da redução do número de alunos.
E a Escola Secundária Manuel Cargaleiro continua como escola isolada, enquanto que as outras duas fazem parte do Agrupamento de Escolas João de Barros:



  

domingo, 21 de novembro de 2021

[0311] Três mil anos de história de Almada em exposição

Inaugurada há dias, está patente na Casa da Cidade a exposição permanente Entre dois mares e um rio. Almada, 3 mil anos de história.

A história é bem mais longa do que os «três mil anos» sugerem, pois a ocupação humana desde o Paleolítico está bem documentada. Mas a exposição privilegia os momentos em que ocorreram grandes transformações. E o primeiro aconteceu entre os séculos VIII a IV a. C., estando testemunhado na estação arqueológica de Almaraz, entendida como o Prelúdio de uma Cidade: mercadores e navegadores fenícios trouxeram o alfabeto, a roda de oleiro, o fabrico de pasta vítrea, o trabalho do ferro e os planos ortogonais na arquitectura. Esta dinâmica esmorece a partir do século V a. C., provavelmente a favor do que se passava na margem Norte do Tejo.

Cena ribeirinha conjecturada junto a Almaraz (Iº milénio a. C.)

Os séculos I a V d. C. colocaram este território Nos confins do Império Romano. O Baixo Tejo já fora militarmente ocupado nos finais do século II a. C., passando a integrar a província da Lusitânia do Império Romano desde que esta foi constituída, entre 16 e 13 a. C., sob o controlo da cidade de Olisipo (Lisboa). Nos finais do século I a. C. surgem complexos fabris associados à exploração de recursos marinhos, como a fábrica de salga de peixe de Cacilhas e, possivelmente, também em Porto Brandão. O garum aí produzido era armazenado em ânforas fabricadas nas proximidades e exportado. E a fertilidade do solo local facilitou o surgimento de diversos focos habitacionais ou agrícolas.

A ocupação islâmica conduzira a um povoamento essencialmente rural, tendo deixado topónimos que o atestam, como Trafaria, Murfacém e Alfazina. Nos séculos XII a XVIII d. C., depois da conquista do castelo de Almada pelos cristãos, em 1147, desenvolvem-se as Vilas e Lugares na região. A vila de Almada expande-se para poente, até à sua estabilização no século XV. Vastas áreas do Sul manter-se-iam quase despovoadas, com áreas não cultivadas destinadas à exploração florestal e à caça. Entre os séculos XVII e XVIII o povoamento do interior aumentou e nas margens ribeirinhas intensificou-se o comércio, os ofícios e as pequenas manufacturas, fixando-se em permanência, “na então designada «paria de pescaria da costa», algumas comunidades piscatórias. O terramoto de 1755 destruiu a maioria dos edifícios; a reconstrução altera o traçado do núcleo urbano de Almada, que perdura ao longo do século XIX.

Os terrenos baratos e a proximidade do transporte ferroviário e do porto de Lisboa favoreceram, nos séculos XIX e XX d. C., o Fazer pela Vida do concelho de Almada acompanhando a industrialização que ocorre um pouco por todo o país. Ao longo das margens do Tejo instalam-se fornos de cal, tanoarias, fiações e tinturarias, a indústria química, a conserveira e a corticeira, bem como moagens, armazéns de vinho e estaleiros de construção naval. A pesca atlântica percorre a costa desde a Cova do Vapor ao Cabo Espichel. A grande escala fabril surge com o Arsenal e Base Naval do Alfeite, em 1938, e com o estaleiro da Lisnave, em 1967. A imigração fornece a mão-de-obra, a população aumenta. Se o veraneio se tornou impossível nas zonas ribeirinhas, abre-se, como alternativa, o do atlântico. Prolifera o associativismo cultural, cívico, de lazer e desportivo, com relevo para o teatro e para o cinema.

A partir de 1970 o fenómeno da desindustrialização deslocaliza a Timex, a H. Parry & Son e a Lisnave; aumenta o papel do comércio, dos serviços e do turismo; as freguesias desequilibram-se urbanisticamente e as infraestruturas básicas saturam-se; instalam-se instituições ligadas ao ensino, à investigação e às novas tecnologias; e as dinâmicas associativas alteram-se. Está-se em Um Território, duas Cidades.

Fontes
: folheto dos Museus de Almada (2021); imagem capturada por Eva Maria Blum de um vídeo patente na exposição

sábado, 13 de novembro de 2021

[0310] A Natureza na Nossa Banda (I): o sapal de Corroios

Estão actualmente em exposição, no terreiro em frente ao Moinho de Maré de Corroios, as ilustrações com que Carlos Xavier Varela Pita descreve a Natureza que aí nos envolve. Tratando-se do trabalho desenvolvido no âmbito de um Mestrado em Ilustração Científica, foi possível consultar, no correspondente Relatório de Estágio, o modo como o Sapal de Corroios foi entendido:

Sapal de Corroios

A zona denominada Sapal de Corroios é uma extensa área de sapal salgado, com aproximadamente 143 hectares, localizada no concelho do Seixal, na zona ocidental da baía com o mesmo nome […]. É considerada a zona húmida mais bem conservada do estuário do Tejo, a sul de Alcochete, sendo considerada Domínio Público Hídrico, e incluída na Reserva Ecológica Nacional (REN). […] Do ponto de vista geológico e morfológico, o sapal desenvolve-se sobre sedimentos essencialmente vasosos e é cortado por numerosos canais meandrizados, que se bifurcam e recombinam, apresentando, por vezes, um padrão ramificado. Os canais de maré dos sapais não são formas erosivas, mas formas que resultam da deposição de sedimentos, lateral e verticalmente, nos bancos de vaza que os confinam […]. Os sapais são ecossistemas que incluem vegetação halófita (plantas tolerantes à salinidade), apresentando zonamento característico determinado pelo tempo de imersão. A vegetação é um fator condicionante da evolução do sapal, sendo os seus sistemas radiculares e estruturas aéreas importantes na fixação de material em suspensão, contribuindo para a estabilização do solo (materiais lodosos) […]. A baía do Seixal, na qual se inclui o Sapal de Corroios, apresenta uma variedade e abundância de vida selvagem que contrasta com as áreas circundantes, intensamente urbanizadas e transformadas pelo homem. […] Esta região é particularmente importante para as aves migradoras, principalmente para as espécies invernantes. Durante os meses de inverno procuram abrigo e alimento no Sapal de Corroios largos milhares de aves, constituindo um ponto de elevado interesse ornitológico […]. Nas áreas de lodo que ficam a descoberto durante a maré vazia, é possível observar um grande número de espécies de aves, com destaque para as aves do grupo das “laro limícolas”, enquanto que durante a maré cheia, as manchas de vegetação que permanecem emersas proporcionam refúgio a várias aves aquáticas […]. Apesar de se encontrar no meio de uma zona fortemente edificada, o Sapal de Corroios é um bom local para observar diversas espécies de aves aquáticas, com destaque para as limícolas. Um dos melhores locais de observação situa-se junto ao Moinho de Maré de Corroios, especialmente durante a maré baixa […]. A zona adjacente ao sapal, e o próprio sapal durante a maré alta, assumem bastante relevância enquanto área de alimentação e abrigo para várias espécies de peixes que utilizam o estuário como área de viveiro, bem como para espécies residentes, sendo um local particularmente importante para espécies piscícolas detritívoras. Na baía ocorrem ainda várias espécies de invertebrados, que assumem um papel importante na cadeia trófica, servindo de alimento a várias espécies de aves e peixes.

Morraça; Gramata-branca; Gramata

Devido às condições adversas de salinidade encontradas nos sapais, estes apresentam uma baixa diversidade florística, sendo esta limitada quase exclusivamente às espécies halófitas, que se encontram bem adaptadas do ponto de vista morfológico e fisiológico ao habitat peculiar que colonizam. Segundo o “Estudo de Investigação, Caracterização e Valorização Ambiental da Baía Do Seixal” realizado pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizado em 2011 […], as plantas halófitas mais abundantes no Sapal de Corroios distribuem-se por nove géneros e cinco famílias (Chenopodeaceae, representada por 6 géneros e Asteraceae, Poaceae, Polygonaceae e Juncaceae com um género cada). Destas, as espécies mais abundantes são Halimione portulacoides e Sarcocornia fruticosa, duas espécies da família Chenopodeaceae, ocupando cada uma cerca de 1/3 da área total de sapal inventariada. Em termos de ocupação no sapal, a espécie pioneira da família Poaceae, Spartina maritima, é a terceira mais abundante, ocupando cerca de 12% da cobertura total. No entanto, outras espécies halófitas podem ser encontradas, e depois outras espécies halófitas com menor expressão como, por exemplo: Polygonum maritimum (Polygonaceae), Atriplex halimus (Chenopodeaceae), Juncus maritimus (Juncaceae), Inula chritmoides (Asteraceae) e Suaeda vera (Chenopodeaceae).

Mainá-de-crista; Guincho
Fuinha-dos-juncos; Flamingo
Garça-real; Alfaiate; Pernilongo; Maçarico-de-bico-direito; Borrelho-grande-de-coleira; Perna-vermelha; Pato-real

A zona do Sapal de Corroios, bem como a restante baía do Seixal, apresenta uma grande diversidade da avifauna. Com efeito, Hélder Costa […] e o sítio da internet “Aves de Portugal” […], referenciam o Moinho de Corroios e a Ponta dos Corvos como locais preferenciais para observação de aves na vizinhança de Lisboa. O número de espécies que podem ser avistadas é substancial. De facto, Hélder Costa […] contabiliza a identificação de 118 espécies entre 2006 e 2009, enquanto que Manuel Lima […] refere a ocorrência de 94 espécies na zona da Baía do Seixal. De acordo com o “Estudo de Investigação, Caracterização e Valorização Ambiental da Baía Do Seixal” realizado pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizado em 2011 […], as aves observadas na área da Baía do Seixal pertencem maioritariamente ao grupo das chamadas “laro limícolas”, aves de hábitos aquáticos, que inclui um grande número de espécies das famílias Charadriidae (vulgarmente designadas “borrelhos”), Scolopacidae (“pilritos” ou “maçaricos”) e Laridae (“gaivotas”). Em complemento às “laro-límicolas”, podem ainda ser observadas na Baía do Seixal aves das famílias Anatidae (“patos”), Phalacrocoracidae (“corvos-marinhos”), Ardeidae (“garças”), Threskiornithidae (“colhereiros”), Phoenicopteridae (“flamingos”), e ainda das famílias Recurvirostridae (“pernilongos” e “alfaiates”) e Sternidae (“gaivinas”) […]. A maioria destas espécies é migradora, e os números de indivíduos encontrados na Baía do Seixal e no Sapal de Corroios demonstram-no, aumentando significativamente durante os meses de inverno. De facto, a chegada dos primeiros migradores desta fauna “invernante” começa no final do verão, geralmente a partir do mês de agosto. Daí em diante o número de indivíduos vai aumentando, e cresce mais rapidamente a partir de novembro, até atingir os valores máximos anuais em janeiro. As espécies deste grupo ainda se mantêm na área durante o mês de fevereiro, começando em março a sua partida para norte.

Tainha-fataça; Enguia
Cavalo-marinho
Charroco; Caboz-comum

De acordo o “Estudo de Investigação, Caracterização e Valorização Ambiental da Baía Do Seixal” realizado pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizado em 2011 […], foi documentado um total de 20 espécies piscícolas na Baía do Seixal. Embora possam ser encontradas algumas espécies que usam a baía como áreas de viveiro, como os linguados, o robalo-legítimo e vários esparídeos, a ictiofauna da zona é dominada por duas espécies residentes, o charroco e o caboz-comum. Por outro lado, a ocorrência na Baía do Seixal de diversas espécies de singnatídeos, e de cavalos-marinhos em particular, constitui uma indicação da qualidade ambiental da zona, uma vez que estes peixes são considerados bastante sensíveis à degradação do ambiente em que se inserem. Merece destaque ainda a presença da enguia, espécie que atualmente se encontra ameaçada em toda a área de distribuição. Alguns peixes residentes no estuário do Tejo utilizam a Baía do Seixal como habitat de reprodução, como são os casos dos cabozes, singnatídeos, peixe-rei-do-Mediterrâneo e charroco. A tainha-liça, a tainha-garrento, o robalo-legítimo, os esparídeos e os linguados utilizam o estuário como local de viveiro. Os migradores catádromos encontram-se representados no local pela enguia e pela tainha-fataça.

Camarão-negro; Cranguejo-verde
Choco; Amêijoa-japonesa

No que respeita aos invertebrados aquáticos, o estudo realizado pelo COFCUL […] identificou a ocorrência de nove espécies de crustáceos decápodes, sendo que as mais bem representadas na Baía do Seixal são o camarão-negro (Crangon crangon) e o caranguejo-verde (Carcinus maenas). É ainda de destacar o choco-vulgar (Sepia officinalis), a espécie de cefalópode mais abundante (a outra espécie identificada é o chopito-anão-orelhudo, Sepiola atlântica) que se reproduz na Baía e é uma das espécies ali pescadas. Das inúmeras espécies de invertebrados que colonizam as vazas lodosas das zonas intertidais (isópodes, gastrópodes, anfípodes, poliquetas e bivalves), merece destaque a ameijoa-japonesa (Ruditapes phillippinarum), espécie exótica que proliferou com grande abundância e é apreciada pelos mariscadores da região.

 

Fontes: PDF de Pita (2013; texto, nas pp. 8-12; e imagens, no Apêndice)

domingo, 7 de novembro de 2021

[0309] Teatro: 25ª Mostra em Almada, 38º Festival no Seixal


PROGRAMA

29 OUTUBRO | SEXTA | 21H30
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA – ACADEMIA ALMADENSE
ALPHA TEATRO, ASSOCIAÇÃO CULTURAL
SOMBRIOS | M/16 | 90’ | ESTREIA

30 OUTUBRO | SÁBADO| 21H30
31 OUTUBRO | DOMINGO| 16h00
RECREIOS DESPORTIVOS DA TRAFARIA
GRUPO DE INICIAÇÃO TEATRAL DA TRAFARIA
CIRCUITO ORDINÁRIO | M/12 | 70

06 NOVEMBRO | SÁBADO | 16H00
CONVENTO DOS CAPUCHOS
EMBALARTE
O MUSEU ANDANTE – JÚLIO POMAR | M/6 | 40’

06 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H30
SALA DE ENSAIOS – TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITE
TEATRO BOCAGE
EPIFANIAS | M/16| 60’

06 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H30
07 NOVEMBRO | DOMINGO | 16H00
RECREIOS DESPORTIVOS DA TRAFARIA
GRUPO DE INICIAÇÃO TEATRAL DA TRAFARIA
DIAS FELIZES | M/12 | 90’ | ESTREIA

07 NOVEMBRO | DOMINGO | 16H00
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
TEATRO EXTREMO
PORTUGAL DOS PEQUENITOS | M/12 | 60’

07 NOVEMBRO | DOMINGO | 16H00
SALA DE ENSAIOS TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITE
TEATRO BOCAGE
FERNANDO (QUE) PESSOAS? | M/12 | 50’

12 NOVEMBRO | SEXTA | 21H30
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
ACTOS URBANOS – ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DO ESPECTÁCULO
FÓSFOROS | M/14 | 65’

12 NOVEMBRO | SEXTA | 21H30
AUDITÓRIO COSTA DA CAPARICA
GRUPO DE TEATRO DA GANDAIA
ALMA ÉPICA | M/6 | 60’ | ESTREIA

12 NOVEMBRO | SEXTA| 21H30
13 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H30
AUDITÓRIO FERNANDO LOPES-GRAÇA
COMPANHIA DE TEATRO MUSICAL PLATEIAS D’ARTE
UMA NOITE NA BROADWAY | M/6 | 90’

13 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H30
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA – ACADEMIA ALMADENSE
GRUPO DE TEATRO PÉ DE PALCO
ANASTÁCIA & COMPANHIA | M/12 | 85’

13 NOVEMBRO | SÁBADO | 17H00
PONTO DE ENCONTRO- CASA MUNICIPAL DA JUVENTUDE EM CACILHAS
TEATRO ABC.PI
repuSUPER | M/3| 30’

14 NOVEMBRO | DOMINGO | 11H30 E 16H00

TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
PRODUÇÕES ACIDENTAIS
MOONSTROS | M/3 | 40’ | ESTREIA

14 NOVEMBRO | DOMINGO | 21H30
AUDITÓRIO COSTA DA CAPARICA
GRUPO DE TEATRO DA GANDAIA
INTEMPORAIS | M/6 | 60’ | ESTREIA

15 NOVEMBRO | SEGUNDA | 21H30
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA
GRUPO DE TEATRO DA GANDAIA
INTEMPORAIS | M/6 | 60’ | ESTREIA

18 E 19 NOVEMBRO | QUINTA E SEXTA | 21H30
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
A LAGARTO AMARELO
O FAROL | M/12| 80’ | ESTREIA

18 NOVEMBRO | SEXTA | 21H30
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA
GRUPO DE TEATRO DA GANDAIA
ALMA ÉPICA | M/6 | 60’ | ESTREIA

19 NOVEMBRO | SEXTA| 21H30
20 NOVEMBRO | SÁBADO |16H00 E 21H30
AUDITÓRIO FERNANDO LOPES-GRAÇA
COMPANHIA DE TEATRO MUSICAL PLATEIAS D’ARTE
AS CANTIGAS DO CINEMA PORTUGUÊS | M/6 | 120’

19 E 20 NOVEMBRO | SEXTA E SÁBADO | 21H30
RECREIOS DESPORTIVOS DA TRAFARIA
COMPANHIA DE TEATRO ET AL
A NOSSA REALIDADE | M/16 | 75’ | ESTREIA

19 NOVEMBRO | SEXTA | 21H30
20 NOVEMBRO | SÁBADO | 18HOO E 21H30
21 NOVEMBRO | DOMINGO | 18HOO E 21H30
AUDITÓRIO COSTA DA CAPARICA
GRUPO DE TEATRO DA GANDAIA
INTEMPORAIS | M/6 | 60’ | ESTREIA

20 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H30
SALÃO DE FESTAS DA INCRÍVEL ALMADENSE
CÉNICO DA INCRÍVEL ALMADENSE
AUTO DA BARCA DO INFERNO DO SÉC.XXI – 2ª TEMPORADA | M/12 | 55’ | ESTREIA

20 NOVEMBRO | SÁBADO | 18H00 E 21H00
PONTO DE ENCONTRO – CASA MUNICIPAL DA JUVENTUDE EM CACILHAS
MARINA NABAIS DANÇA
SILÊNCIO ESPAÇO MOVIMENTO | M/6 | 60’

21 NOVEMBRO | DOMINGO | 17H00
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA – ACADEMIA ALMADENSE
CRÈME DE LA CRÈME
O AVIADOR E A ROSA | P/ TODOS | 45’ | ESTREIA

21 NOVEMBRO | DOMINGO | 11H00

SALÃO DE FESTAS DA INCRÍVEL ALMADENSE
CÉNICO DA INCRÍVEL ALMADENSE
GRAÇA, A FADA ENGRAÇADA | M/3 | 40’ | ESTREIA

23 E 24 NOVEMBRO | TERÇA E QUARTA| 21H30
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA – ACADEMIA ALMADENSE
GRUPO DE TEATRO DA ACADEMIA ALMADENSE
JANGADA | M/12 | 60’ | ESTREIA

23 NOVEMBRO | TERÇA | 21H30
PONTO DE ENCONTRO – CASA MUNICIPAL DA JUVENTUDE EM CACILHAS
NOVO NÚCLEO TEATRO
SIMBIOSE | M/14 | 60’ | ESTREIA

25 E 26 NOVEMBRO | QUINTA E SEXTA| 21H30
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
TEATRO UBU/ARTE33
O ÚLTIMO BURRO | M/16 | 75’ | ESTREIA

25 NOVEMBRO | QUINTA | 21H30
CONVENTO DOS CAPUCHOS
KILIG
O VENDEDOR DE ENCICLOPÉDIAS | M/12 | 45’ |ESTREIA

26, 27, 28 NOVEMBRO | SEXTA A DOMINGO | 21H30
SALÃO DE FESTAS DA INCRÍVEL ALMADENSE
NINHO DE VÍBORAS - ASSOCIAÇÃO CULTURAL
O PÚBLICO | M/16 | 130’

27 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H00
PONTO DE ENCONTRO – CASA MUNICIPAL DA JUVENTUDE EM CACILHAS
ARTES E ENGENHOS – ASSOCIAÇÃO CULTURAL
NÃO VAI HAVER MASCARADOS | M/14 | 85’ | ESTREI

27 NOVEMBRO
| SÁBADO | 22H30
PONTO DE ENCONTRO – CASA MUNICIPAL DA JUVENTUDE EM CACILHAS
ARTES E ENGENHOS – ASSOCIAÇÃO CULTURAL
HARE | M/16 | 50’ | ESTREIA

27 NOVEMBRO | SÁBADO | 21H30

RECREIOS DESPORTIVOS DA TRAFARIA
GRUPO DE TEATRO O GRITO
A SOLIDÃO DAS HORAS | M/16 | 60’ | ESTREIA

28 NOVEMBRO | DOMINGO | 16H00
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
TEATRO & TEATRO – ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DO ESPECTÁCULO
O AQUÁRIO | M/14 | 65’ | ESTREIA

28 NOVEMBRO | DOMINGO | 18H30
AUDITÓRIO FERNANDO LOPES-GRAÇA
TKM- UNIVERSIDADE SÉNIOR DOM SANCHO I DE ALMADA
NOS TEMPOS DA SEVERA | M/12 | 90’ | ESTREIA

ATIVIDADES COMPLEMENTARES


29 OUTUBRO | SEXTA | 18H00
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
ACTOS URBANOS – ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DO ESPECTÁCULO
EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA DOCUMENTAL SOBRE OS 10 ANOS DOS ACTOS URBANOS | P/ TODOS | ENTRADA LIVRE

29 OUTUBRO
| SEXTA | 20H30
SALA DE CINEMA DA ACADEMIA ALMADENSE
APONTAMENTO MUSICAL DE ABERTURA DA 25ª MOSTRA DE TEATRO DE ALMADA | M/6 | ENTRADA LIVRE

9 NOVEMBRO
| TERÇA | 21H30
10 NOVEMBRO | QUARTA | 21H30
11 NOVEMBRO | QUINTA | 21H30
AUDITÓRIO OSVALDO AZINHEIRA – ACADEMIA ALMADENSE
TEATRO UBU/ARTE33
PROJEÇÃO DO FILME: COMO RESISTIR A 233. C | P/ TODOS | ENTRADA LIVRE

12 NOVEMBRO
| SEXTA | 20H00
SALA PABLO NERUDA – FÓRUM MUNICIPAL ROMEU CORREIA
PRODUÇÕES ACIDENTAIS
LANÇAMENTO DA REVISTA WOS – WOMEN ON SCENE | P/ TODOS | ENTRADA LIVRE

14 NOVEMBRO
| DOMINGO | 11H00
TEATRO UBU/ARTE33
PASSEIO POR CACILHAS COM FRANCISCO SILVA | ENTRADA LIVRE
“O ÚLTIMO BURRO EM CACILHAS”

17 NOVEMBRO
| QUARTA | 15H00 E 18H00

SALA PABLO NERUDA – FÓRUM MUNICIPAL ROMEU CORREIA

MARINA NABAIS DANÇA

OFICINA DO SILÊNCIO | DESTINATÁRIOS: PÚBLICO SÉNIOR E COMUNIDADE EDUCATIVA | 120’ | ENTRADA LIVRE

27 NOVEMBRO | SÁBADO | 16H30
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
ACTOS URBANOS – ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DO ESPECTÁCULO
CONVERSA/DEBATE ACTOS URBANOS: DA FORMAÇÃO À COMPANHIA?
/ P/TODOS | ENTRADA LIVRE

28 NOVEMBRO | DOMINGO | 18H00
TEATRO-ESTÚDIO ANTÓNIO ASSUNÇÃO
TEATRO & TEATRO – ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DO ESPECTÁCULO
CONVERSA/DEBATE ESCRITA TEATRAL A QUATRO MÃOS
| P/TODOS | ENTRADA LIVRE



A 38ª edição do Festival de Teatro do Seixal, a decorrer de 11 de Novembro a 4 de Dezembro, no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal, no Cinema S. Vicente, no Auditório Municipal de Miratejo e em diversas coletividades do concelho, propõe este ano, após um regresso à normalidade, o «regresso ao extraordinário»: ao sonho, à luta e aos mais altos desejos e aspirações da alma humana.

#RegressoAoExtraordinario

 

A iniciativa acolhe novamente a melhor arte dramática que se faz no território nacional, com a participação de companhias locais e de todo o país.
Num trabalho da Mala Voadora, «Festival» é a peça de abertura este ano, escrita por Jorge Andrade, a partir de «Sum», de David Eagleman, como último espetáculo de uma trilogia em torno da ideia de felicidade, é um espetáculo de ficção científica cuja ação decorre num escritório, onde se encontram quatro pessoas que se dedicam  a imaginar o que poderá ser a vida depois da morte, sendo que o seu profissionalismo passa pela sua capacidade especulativa.

11 de Novembro, quinta-feira, 21.30 horas
FESTIVAL
Mala Voadora (Porto)
Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal
Duração: 70 min
M / 16 anos. Ingresso: 8 euros

13 de Novembro, sábado, 21.30 horas
AMÍLCAR GERAÇÃO
Projeto teatral Paralelo20, com produção da Culturproject (Lisboa)
Sociedade Filarmónica União Arrentelense
Duração: 60 min
M / 12 anos. Entrada livre

14 de Novembro, domingo, 16 horas
REFÚGIO
Teatro e Marionetas de Mandrágora (Espinho)
Associação de Moradores dos Redondos
Duração: 50 min
M / 6 anos. Entrada livre

18 de Novembro, quinta-feira, 21.30 horas
ANASTÁCIA & C.ª
Pé de Palco (Seixal)
Ginásio Clube de Corroios
Duração: 85 min (mais 10 de intervalo)
M / 12 anos. Entrada livre

19 de Novembro, sexta-feira, 21.30 horas
DUAS PEÇAS DE XADREZ
Câmara Municipal da Moita e CEA (coprodução)
Cinema S. Vicente
Duração: 50 min
M / 12 anos. Ingresso: 5 euros

20 de Novembro, sábado, 21.30 horas
A CORAGEM DA MINHA MÃE
Artistas Unidos (Lisboa)
Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal
Duração: 90 min
M / 12 anos. Ingresso: 8 euros

25 de Novembro, quinta-feira, 21.30 horas
A SOLIDÃO DAS HORAS
O Grito (Seixal)
Clube Recreativo da Cruz de Pau
Duração: 60 min
M / 16 anos. Entrada livre

26 de Novembro, sexta-feira, 21.30 horas
MEMÓRIAS DE UMA FALSIFICADORA
Horta – Produtos Culturais, São Luiz Teatro Municipal, Museu do Aljube e Truta (coprodução)
Duração: 60 min
Sociedade Filarmónica Operária Amorense
M / 12 anos. Entrada livre

27 de Novembro, sexta-feira, 21.30 horas
DAMAS DA NOITE
Casa das Artes de Famalicão, Culturproject, Loup Solitaire, Teatro Nacional D. Maria II e Teatro Nacional S. João (coprodução)
Duração: 60 min
Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal
M / 16 anos. Ingresso: 8 euros

2 de Dezembro, quinta-feira, 21.30 horas
MENECMA OU O EFEITO DE MANDELA
Grupo de Teatro Almagesto (Seixal)
Auditório Municipal de Miratejo
Duração: 75 min
M / 12 anos. Entrada livre

3 de Dezembro, sexta-feira, 21.30 horas
AUX
Animateatro (Seixal)
Auditório do Pavilhão Municipal do Alto do Moinho
Duração: 60 min
M / 12 anos. Entrada livre

4 de Dezembro, sábado, 21.30 horas
A ÚLTIMA REFEIÇÃO
Teatro da Terra (Seixal)
Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal
Duração: 75 min
M / 12 anos. Ingresso: 8 euros


Fontes: sítios da Mostra de Teatro de Almada e da Câmara Municipal do Seixal

sábado, 30 de outubro de 2021

[0308] As Crianças e a Cidade

O Dia Mundial das Cidades é comemorado amanhã, 31 de Outubro.


Francesco Tonucci, autor do livro «A Cidade das Crianças», que deu origem à rede internacional City of Children, considera que o acesso das crianças ao espaço público, com autonomia em relação aos adultos, é uma das formas de participarem nos lugares onde vivem; e considera que isso também pode melhorar a autonomia dos adultos.


Excertos de uma entrevista que Francesco Tonucci concedeu a Abel Coentrão, jornalista do «Público»:

A ideia da Cidade das Crianças não é minha. Em Fano, o meu município, preparava-se, nos anos 90, uma semana dedicada à infância, durante a qual havia congressos, exposições, actividades, e que terminava, num domingo, com a cidade a oferecer-se às crianças, fechando as ruas para que estas pudessem brincar. O executivo municipal pediu-me que, sendo de Fano, assumisse a direcção científica do projecto. A contrapartida que exigi foi que aquilo deixasse de ser um evento, para se tornar em algo contínuo, permanente, de mudança da cidade, assumindo as crianças como parâmetro. Esse foi o núcleo filosófico da proposta.

A proposta que eu estava a fazer mudava as regras do jogo. De um projecto que era “para” as crianças, no qual se faziam muitas coisas “para” elas, eu pretendia passar a um projecto “com” as crianças e, “das” crianças. Ou seja, queria que os adultos pudessem aprender algo, escutando as crianças. Este é o coração do projecto: a participação delas.

Trata-se de uma utopia, pois a cidade nunca será das crianças. Eduardo Galeano explicava que essa é a função da utopia. Quando te aproximas, ela fica um pouco mais longe. E a pergunta é: para que serve? Para fazermos caminho, progredir. Eu sei que nunca conseguiremos, mas que ao movermo-nos nessa direcção, estamos a fazer uma boa política. A cidade de Pontevedra é um caso emblemático. Assumiu com uma coerência radical a ideia de devolver a cidade às pessoas. E o espaço público é o espaço de todos, o que significa que não pode ser apenas o espaço dos automóveis. E só num espaço devolvido às pessoas, as crianças podem se movimentar tranquilamente, sair para brincar, ir à escola sem a companhia de adultos, e vivendo, por isso, experiências de uma verdadeira cidadania. O acesso ao espaço público é uma das formas de participação das crianças na vida das cidades. Mas apenas se elas não estiverem a ser levadas pela mão de um adulto. Neste caso estarão apenas a percorrer a cidade, a acompanhar alguém, não a vivem como protagonistas. A participação tem um toque de protagonismo.

Outra forma de participação das crianças é através das suas palavras, das suas ideias, das suas opiniões. Por detrás disto temos dois artigos da Convenção dos Direitos da Criança. Neste último caso, o artigo 12, que diz que as crianças têm direito a expressar a sua opinião cada vez que se tomem decisões que as afectem. E que prossegue, assinalando que essa opinião tem de ser tida em conta. É um artigo impressionante. Que raramente se cumpre ... Sim. E acredito que quase não se pode cumprir. Nós, os adultos, não temos um direito deste tipo. Os nossos governantes não se comprometem a consultar-nos cada vez que se tomam decisões. Consultam-nos a cada cinco anos, quando terminam o mandato, e nos perguntam se gostamos ou não. E nós confirmamos, ou elegemos outros. Mas este artigo é muito claro, em relação ao direito das crianças. Isto implica uma responsabilidade muito grande para os adultos, dado que quase todas as decisões que tomamos afectam, de alguma maneira, a infância. Na família, na escola, na cidade. E nós pensamos, por exemplo, nos hospitais pediátricos, ou nos museus. Temos conselhos de crianças em instituições deste tipo e é sempre impressionante ver como a participação produz adesão, identificação, e efeitos positivos. Por exemplo, em departamentos de saúde, como o internamento em oncologia pediátrica, é muito importante que elas possam participar. Um amigo meu, especialista nesta área, não tem dúvidas de que isso favorece a própria terapia. E isso não é óbvio para uma parte do universo da medicina.

Há pouco tempo, na cidade de Latina, capital de Lácio, perto de Roma, que está na nossa rede, o conselho de crianças descobriu que o regulamento da polícia municipal tinha um artigo que proibia a brincadeira em lugares públicos. As crianças discutiram a questão com o adulto animador do conselho, dizendo que alguém se teria enganado, pois há um artigo da Convenção dos Direitos da Criança (CDC) que diz que elas têm direito a brincar, e não compreendiam que o não pudessem fazer num lugar público. Escreveram uma carta ao presidente da Câmara, a assinalar o equívoco. O autarca discutiu a carta com o resto do executivo municipal, respondeu às crianças a dizer-lhes que tinham razão, propôs uma alteração ao regulamento, que era já antigo, e o artigo passou a ter uma redacção em que assumem que, respeitando o artigo 31 da CDC, o município “favorece” a brincadeira em “espaços públicos e de uso público”, que seriam, neste caso, os espaços privados – como em condomínios – mas que têm um uso público.

Num congresso sobre a “cidade para brincar: 20-30”, em que participei, durante dois dias as intervenções passaram, basicamente, por ampliar a oferta de parques infantis, reconhecer o direito de todas as crianças desta cidade a terem um lugar para brincar perto de casa, em cada bairro, com jogos, por melhorar estes jogos, adequando-os a crianças com deficiências. Defendeu-se, também, que estes espaços deveriam ter serviços, como água e casas de banho. Quando chegou a minha vez, pedi desculpa, porque estava contra tudo o que tinha ouvido. A minha tese é que uma cidade estará apta para brincar quando não tivermos que criar mais locais específicos para as crianças estarem.

A cidade apta para brincar é aquela em que uma criança pode sair de casa sem ser pela mão de um adulto, encontrar amigos na rua e decidirem, juntos, ao que brincar, onde, e como. E decidir onde o farão faz parte do jogo. Pensar que brincar é ir todos os dias ao mesmo sítio, aproveitar os mesmos jogos, alguns deles em solidão, pois só podem ser usados por uma pessoa de cada vez, e acompanhado por um adulto é algo muito estranho. Que só poderia ser pensado por alguém que, pobrezinho, não tenha tido a oportunidade de brincar, quando era criança.

Quase todos os adultos foram crianças, mas quase ninguém se recorda disso. E os nossos autarcas estão em crise por isso e pedem a ajuda das crianças, para que elas lhe ofereçam o outro ponto de vista. E eles comprometem-se a escutá-las e a ter em conta o que dizem, e a pôr em prática algumas dessas ideias. Não é possível concretizar tudo, mas se não o fizer, deve justificar, perante aquelas crianças, as suas opções.

O mais interessante é aproveitar estes elementos que as crianças oferecem para repensar a política. Às vezes as crianças pedem uma coisa pequena, como no exemplo que dei de Latina. É preciso tornar isso público, dizer a todos que o regulamento mudou, porque eles tinham a lei do lado deles. E chegar, no caso, aos condomínios, que gerem espaços privados de uso público, e convencê-los a mudar os regulamentos desses espaços. Em contrapartida, pode-se criar uma placa, para pôr nesses lugares, dizendo que respeitam o artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança. A comunicação é importante. Vejam os cartazes que existem nos parques, indicando um conjunto de proibições. O que proponho é que se façam cartazes a dizer: “Convidamos as crianças a brincar neste lugar!” Ou, melhor ainda: “Convidamos os adultos a não incomodar as crianças que brincam!”. Gosto deste tipo de coisas porque, seguramente, vão criar um debate. Os jornalistas vão falar disso. E é perfeito para começarmos a discutir a cidade. Os pais normalmente querem lugares limpos, as crianças gostam de rebolar e sujar-se… Como se concilia isto? Num dos múltiplos encontros que tivemos online, por causa da pandemia, uma rapariga de Bogotá, Andrea, dizia-me que “Aleijar-se é muito importante”. Encantam-me estas frases que são genuinamente de crianças, que não a escutaram de um adulto. Nenhum adulto diz a uma criança: “Vai e aleija-te, é importante.” Em Itália temos uma estatística impressionante e vergonhosa. A primeira causa de morte até aos 26 anos são os acidentes de automóvel e de moto. Do meu ponto de vista, isto é intolerável. E por isso aprecio Pontevedra, que celebrou dez anos sem qualquer morte nas ruas. Isto é um tema urgente, para a democracia. E aleijarmo-nos é fundamental para não morrermos. Porque quem esfolou os joelhos a andar de bicicleta, com alguma probabilidade saberá mover-se com mais segurança numa motorizada. Eu não permitiria que se conduzissem motos sem se passar pela experiência da bicicleta. Nesta, podemos cair muitas vezes. Na mota, às vezes basta cair uma vez. Perante estas coisas, não podemos continuar a dizer, “sim, entendo”, sem resolver o problema. Em 1996 a ideia comum era já que a cidade tinha muitos riscos e perigos. E que para proteger as crianças era preciso fechá-la em casa, na escola, ou num parque, de preferência com uma cerca em volta. E essa sensação, parece-me, piorou. Ou não concorda? As crianças italianas e portuguesas sofrem com isso. Num estudo realizado há uns 15 anos, Itália aparecia em penúltimo lugar, e Portugal em antepenúltimo, num índice de autonomia das crianças do ensino básico, dos seis aos 11 anos. No meu país esse índice era de 7%. Portugal era pouco mais. Isso era impressionante. Na Alemanha 70% das crianças iam sozinhas para a escola e na Finlândia essa taxa era de 90%. Com climas bem piores que os nossos. Há quem diga que isso acontece por razões culturais. Mas, no meu tempo, e há 50 anos, as crianças italianas iam sozinhas para a escola. Brincavam na rua. Foi uma mudança rápida. E se formos ver os dados do Ministério do Interior, nessa altura as cidades eram mais perigosas do que hoje, pelo menos em Itália. Não sei como seria em Portugal.

Na verdade, podemos dizer que a cidade de hoje é mais segura, mas o medo é maior. E aqui abre-se outro tema muito interessante, do ponto de vista social. Isto significa que o medo perdeu a relação com os perigos, que estão desfasados. Isto é muito grave, tendo em conta que ter medo é um sentimento fundamental para a defesa pessoal, mas em excesso chega a provocar uma paralisia. E hoje é assim. Tenho-me perguntado como chegámos até aqui. Nós saíamos à rua para brincar não porque os nossos pais fossem avançados para o seu tempo mas porque não havia remédio. Os meus pais tinham medo e diziam-me para ter cuidado, porque já havia carros e outros riscos. Mas isso era independente do facto de eu sair ou não, porque isso tinha mesmo que acontecer. Não só porque eu o desejava, mas porque a casa era demasiado pequena e humilde para a minha mãe aguentar com quatro rapazes, numa divisão com uma mesa. Ficaria impedida de cumprir as suas tarefas. É uma história comum a muitas famílias, em Portugal ... O estranho disto é que as coisas mudaram ao mesmo tempo que os pais mais jovens têm mais conhecimento, e participam, mesmo os homens, muito mais na vida da família que a geração do meu pai, ou mesmo a minha. O que eu imagino é que, um dia, um pai teve a ideia, partilhada com todos os outros pais, que a sua filha ou filho não podiam sair sozinhos. Que tinham de os acompanhar. E, ao abrir a porta, faz a pergunta dramática: “Onde o levarei?” Estas duas questões foram o motor de uma produção comercial, do mercado, por um lado, e de um interesse político, por outro, como acontece com as perguntas que correspondem a necessidades. E nalgum momento pareceu a todos que isto era muito natural. E agora é muito complicado pedir às crianças que participem num processo de planeamento e pedir-lhes que imaginem lugares para brincar. Eu digo sempre: “Não o façam!”. Porque vão sempre desenhar baloiços e escorregas. Estes são os estereótipos que desenvolveram.

O alcaide de Pontevedra, Miguel Anxo Lores, é médico. E dizia-me: “Quando analisei a velocidade do trânsito, dei-me conta de que a 50 km/h morre um em cada dois peões atropelados. E a 30 km/h a percentagem baixa para um em cada 20. Para mim, isso é razão suficiente para mudar. Não me interessa mais nada. E toda a cidade passou a ter os 30 km/h como limite. Por outro lado, ele diz-me sempre: “A mim, não me interessa fazer receita com multas por excesso de velocidade, se isso pode matar alguém. A mim, o que me interessa é que na minha cidade não seja possível matar uma pessoa na rua.” A questão é a estrutura da cidade, não a norma. Quando ele fala da nossa relação, refere sempre: “Eu escutei o que dizias, e convenceste-me!”. Ele ouviu-me numa conferência em que eu desconhecia que, na assistência, estava o autarca, e desse dia recorda uma outra parte da minha intervenção. Disse, como sempre digo, que quando apresento o meu projecto a autarcas, nenhum me diz que não gosta, ou que não lhe interessa. Dizem-me sempre que ficam encantados, mas acrescentam: “dê-me um ano ou dois para eu resolver o problema do tráfego automóvel, e depois falamos”. Claro que a situação do tráfego não se resolve, e não falamos mais. Mexer com a mobilidade em automóvel não é fácil. Gera debates infindáveis ...

Às crianças, não lhes interessa nada uma cidade só para eles. Quando fazem propostas, nunca propõem coisas infantis. Para elas é evidente que a cidade tem que ser adequada para os seus irmãos mais pequenos, para os seus pais, avós, os idosos em geral, os cães e as plantas. Têm uma ideia de cidade muito ecológica e muito democrática. Só nós, os adultos, fomos capazes de pensar uma cidade só para nós, adultos e varões. Uma cidade para gente em idade activa ... Sim, a questão do género não se resolveu ainda, mas melhorou bastante, porque as mulheres lutaram muito. Mas ainda têm dificuldade em mover-se pela cidade com boas condições. A pandemia voltou a mostrar-nos essa fractura, no emprego por exemplo. Em Itália, pelo menos, uma grande percentagem dos que perderam emprego por terem de ficar em casa, para cuidar das crianças, eram mulheres.

Durante o isolamento da pandemia escrevi um livro em que reflectia sobre como a escola perdeu uma grande ocasião para mudar, durante esta pandemia. Chama-se “Pode um Vírus Mudar a Escola?”. E a resposta à pergunta é não. E é pena, porque a situação era tão intensa, a crise era tão forte, que quem quisesse poderia ter mudado a escola, e ninguém se oporia. Mas o que a escola fez, em Itália e noutros países, foi aproveitar as tecnologias para não mudar nada. E aproveitou até para se libertar, quase, de tudo o que era um distúrbio, uma moléstia, pois nem teve de organizar o recreio, deixou de ter as birras entre crianças. O ecrã transformou-se num púlpito onde o docente estava perante o seu aluno, para dar aulas e ditar deveres de casa. Isto fracassou. Se a escola for capaz de fazer um mínimo de auto-análise verá que fracassou. As crianças não gostaram nada disto e os estudantes mais velhos chegaram a protestar contra isto. Nos conselhos de crianças da rede de Cidades das Crianças, nós aproveitamos os mesmos ecrãs para escutarmos os mais novos. Estes ecrãs não são unidireccionais. Podem ser púlpitos, mas também podem ser praças, lugares de encontro, de intercâmbio, uma oportunidade para os professores darem a palavra aos seus alunos, ver como estavam a lidar com a pandemia, e abandonar os programas.

A questão dramática da escola é que as crianças se aborrecem. O que é grave é que ninguém se preocupa, ou se espante, com o facto de elas se aborrecerem. Porque os seus pais, na verdade, também se aborreceram. E os professores igualmente. Parece normal. Mas é evidente que, se uma pessoa se aborrece, não aprende. A aprendizagem exige interesse, participação, insisto.

Fontes: entrevista de Francesco Tonucci a Abel Coentrão no jornal «Público» (2021)

domingo, 24 de outubro de 2021

[0307] Sesimbra: «cidade educadora»

O município de Sesimbra aderiu em 2011 à Associação Internacional das Cidades Educadoras. Esta associação é constituída por «cidades», representadas pelas suas autarquias, e dela fazem actualmente parte 510 municípios, de 34 países, sendo a Rede Portuguesa de Cidades Educadoras composta por 83 cidades.

Ao aderir a esta associação os municípios subscrevem a Carta das Cidades Educadoras, que passa a constituir o seu elemento unificador: cada cidade-membro trabalha para que a educação seja o eixo transversal de todas as suas políticas, intercambia experiências com outras cidades (quer a nível nacional quer internacional) e colabora com organismos como a ONU e a UNESCO.
O trabalho da Rede Portuguesa tem proporcionado a criação de grupos de trabalho temáticos, como o do Projeto Educativo Local (responsável pela elaboração e edição do documento “Contributos para a construção de um Projeto Educativo Local de uma Cidade Educadora”), o da Cidadania e Participação, o das Cidades Inclusivas e o do Experimentar para Aprender.

Um dos instrumentos desenvolvidos pelo município de Sesimbra é o …

Através dele, e anualmente, são divulgados junto da comunidade educativa, e em particular junto das escolas, os recursos externos de que dispõem para desenvolver os seus próprios projectos.
Para 2021-22, os grandes tópicos que organizam esses recursos são:

O que cada um destes apoios significa está descrito em www.sesimbra.pt/educar-em-rede/sesimbra-educar-em-rede. E os proporcionados pela Câmara Municipal estão especificados em https://www.sesimbra.pt/pages/2270, incluindo, entre outros, os prestados pelo Arquivo, pela Biblioteca, pelo Cineteatro, pelo Museu, pelo Parque da Várzea e pela Lagoa Pequena.

 

Fontes: sítios referidos

sábado, 16 de outubro de 2021

[0306] As conversas no Centro de Arqueologia de Almada

 


Em 2019 o Centro de Arqueologia de Almada (CAA) lançou o projecto Conversas com sócios e amigos do CAA, através do qual se partilham experiências e reflexões sobre temas diversos relacionados com a História, a Arqueologia, o Património e a Educação Patrimonial, entre outros.
Estas conversas são realizadas uma vez por mês, preferivelmente numa quinta-feira às 18 horas. E consistem em duas partes: uma apresentação, com a duração máxima de uma hora, seguida de debate.


Até agora foram realizadas quinze conversas, tendo as dez primeiras sido presenciais:

14 de Fevereiro de 2019, apresentação de José Carlos Quaresma:
O papel do CAA na investigação e na defesa do património arqueológico: uma análise no panorama português.

14 de Março de 2019, apresentação de Jorge Raposo:
Como se fizeram e se fazem a Al-Madan impressa e a Al-Madan online (1982-2019).

4 de Abril de 2019, apresentação de Francisco Silva:
Patrimónios do Concelho de Almada, uma visão abrangente.

23 de Maio de 2019, apresentação de Eva Maria Blum:
Memórias sobrepostas. Patrimonialização no âmbito do planeamento urbano. O caso de Almada Nascente.

12 de Setembro de 2019, apresentação de Jorge Raposo (no Quarteirão das Artes, no Âmbito da Exposição Desenho Arqueológico do Centro de Arqueologia de Almada e em parceria com o Quarteirão das Artes e o #cidadãoexemplar):
Conversa sobre desenho arqueológico.

24 de Outubro de 2019, apresentação de Elisabete Gonçalves, Ana Braga e José Carlos Serra:
Era uma vez os pedagógicos. O serviço educativo do Centro de Arqueologia de Almada.

16 de Novembro de 2019, apresentação de Carlos Marques da Silva:
Azulejos on the Rock. Padrões de Rochas ornamentais em Azulejos Lisboetas do Século XIX.

14 de Dezembro de 2019, apresentação de Ana Braga:
Participação e património cultural: abrimos a porta?

23 de Janeiro de 2020, apresentação de Mariana Ferreira dos Santos:
Aves na arte rupestre.

27 de Fevereiro de 2020, apresentação de Vanessa Dias:
O inventário do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros, incorporada no Museu Nacional de Arqueologia, no programa Matriz.

Estas conversas foram filmadas, podendo o visionamento da sua gravação ser solicitado ao CAA (
c.arqueo.alm@gmail.com).


A pandemia levou a uma paragem de um ano nestas conversas.
Em 2021 elas foram retomadas, via ZOOM
, tendo como anfitriões a Mariana Santos e o Francisco Silva. Cada uma das novas cinco conversas foi gravada e a gravação disponibilizada no canal do CAA no Youtube:

4 de Março de 2021, apresentação de
Ana Tomé e Jesse Rafeiro:

Retraçar os Capuchos da Caparica. Reconstituição do núcleo primitivo.
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=ex4bWc-xFgQ.

7 de Abril de 2021, apresentação de
Joel Santos, Jorge Raposo e José Carlos Quaresma:
Projecto AmphoraeFinder: uma ferramenta digital para o estudo das ânforas romanas.
Vídeo:
https://youtu.be/oVK3A3oOSRw.

13 de Maio de 2021, apresentação de
Carlos Marques da Silva:
Geodiversidade e identidade local: elementos identitários geológicos na heráldica municipal portuguesa.
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=be-gvFkRVvo.

15 de Junho de 2021, apresentação de
Vítor Mestre:
Reconciliação de tempos e vivências no património construído. Intervenções de conservação, restauro e reutilização contemporânea.
Vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=n5WYF8je33I.

15 de Julho de 2021, apresentação de
Pedro Esteves:
Os últimos 40 anos na educação, vistos por um professor.
Vídeo:
https://youtu.be/wINuV7mlNy4
<https://youtu.be/wINuV7mlNy4.


Nesta altura o CAA está a preparar as conversas de 2021-22, tendo decidido manter, nos próximos meses, a forma online (e a disponibilização dos vídeos em https://www.youtube.com/channel/UCrtyLb860hESf3Es8YPVCmg/videos).

Estão já agendadas:

Quinta-feira, 28 de Outubro de 2021, às 18h00, apresentação de Paula Gil:
Estatuária Urbana.

Sábado, 27 de Novembro de 2021, às 18h00, apresentação de Vítor Santos:
Os primeiros tempos do CAA.

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2021, às 18h00, apresentação de Jorge Raposo:
Quinta do Rouxinol.

Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2022, às 18h00, apresentação de Elisabete Gonçalves:
Educação Patrimonial no Território. O Contributo do CAA entre 1998 e 2018.

Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2022, às 18h00, apresentação de Carlos Rocha:
Toponímia.


Quem tiver interesse em apresentar, nestas conversas, um tema, uma experiência, uma reflexão, pode enviar um email para o CAA (c.arqueo.alm@gmail.com) com as seguintes indicações: nome, tema proposto e contactos (email, telemóvel).

Fontes: informações de Eva Maria Blum (coordenadora do projecto) e de Elisabete Glória (membro da direcção do CAA)