sábado, 25 de setembro de 2021

[0303] O relatório «Education at a Glance» de 2021

O relatório Education at a Glance deste ano foi divulgado há dias pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Um dos temas que a jornalista Clara Viana dele destacou foi o das questões relacionadas com o «género». Escreveu ela: “Quase nada mudou no fosso entre rapazes e raparigas que se instalou no sistema de ensino. Eles continuam a chumbar mais, estão em maioria nos cursos que não têm o superior como saída óbvia e em minoria entre os licenciados. Mas no mercado de trabalho continuam a ganhar mais.

Para o ilustrar, deu o exemplo das repetências. No seguinte quadro figuram as percentagens de alunos repetentes, em 2019, no Ensino Básico e no Secundário, quer em Portugal, quer na OCDE, estando sob elas, entre parêntesis, as percentagens correspondentes aos rapazes:

Outro dos temas abordados por Clara Viana é o dos jovens que não trabalham nem estudam. Neste outro quadro figura a sua evolução percentual, de 2019 para 2020, em Portugal, na OCDE e nos países com o melhor e o pior registo da OCDE, respectivamente a Holanda e a África do Sul:



Fonte: Clara Viana, no jornal Público (2021)

domingo, 19 de setembro de 2021

[0302] O associativismo docente após o 25 de Abril


Em Portugal, o associativismo docente quase desapareceu durante o regime político que terminou em 25 de Abril de 1974.

O Movimento da Escola Moderna, destinado à generalidade dos professores interessados na sua perspectiva pedagógica, já dera os seus primeiros passos nos anos 60, mas a sua formalização só ocorreu em 1976. Depois, ainda nos anos 70, surgiram a Associação de Professores de Português (1977) e a Associação Nacional de Professores de Educação Visual e Tecnológica (1979). Para comparação, foi também nesta década que se constituiu a Confederação Nacional das Associações de Pais (1977).
Os anos 80 foram aqueles em que surgiu um maior número de novas associações de docentes: a Associação de Professores de História em 1981, a Associação Portuguesa de Professores de Inglês em 1985, a Associação de Professores de Francês e a Associação de Professores de Matemática em 1986, a Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia, a Associação de Professores de Filosofia e a Associação de Professores de Geografia em 1987 e a Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual e o Conselho Nacional das Associações de Professores e Profissionais de Educação Fisica em 1989.
Foram ainda fundadas outras associações de que não foi possível localizar o ano da sua origem. Igualmente para comparação, a Sociedade Portuguesa das Ciências da Educação foi fundada em 1990.

Tão ou mais importante do que o surgimento de cada uma destas associações foi a constituição, em 1992, do Secretariado Inter-Associações de Professores. Em 2010, faziam dele parte:
a Associação Nacional de Professores de Educação Visual e Tecnológica,
a Associação Nacional de Professores de Electrotecnia e Electrónica,
a Associação Portuguesa de Professores de Alemão,
a Associação Portuguesa de Professores de Francês,
a Associação de Professores das Ciências Económico-Sociais,
a Associação de Professores para a Educação Intercultural,
a Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual,
a Associação de Professores de Geografia,
a Associação de Professores de História,
a Associação de Professores de Matemática,
a Associação de Professores de Português,
o Conselho Nacional das Associações de Professores e Profissionais de Educação Física e
o Movimento da Escola Moderna.

E era assim que este Secretariado se apresentava:

O Secretariado Inter Associações de Professores — SIAP — é uma plataforma de entendimento entre várias associações de professores. Actua no âmbito das questões pedagógicas comuns aos vários saberes e áreas disciplinares, interdisciplinares e transdisciplinares, de política educativa, não se imiscuindo no campo laboral, que reconhece competir aos sindicatos. Tem vindo a assumir-se como um fórum de discussão pedagógica entre professores, tendo em vista:
à Contribuir para uma maior intervenção dos professores e suas associações pedagógicas na definição da política educativa nacional;
à Intervir na definição, implementação, avaliação e reformulação de questões relativas à educação;
à Participar activamente na política de formação dos professores;
à Organizar, conjuntamente, acções de formação de professores no âmbito interdisciplinar e transdisciplinar.

No entanto, o SIAP acabou por deixar de cumprir este papel. Já em 2009, Sérgio Niza, membro do Movimento de Escola Moderna, descrevera a preocupação com que via a tendência que se adivinhava para a inacção do Secretariado:

A emergência das associações pedagógicas nas últimas três décadas do século XX, entre os anos 70 e 80, decorre de motivações político-culturais, no caso dos grupos de estudo e movimentos pedagógicos ou da tentativa de afirmação de uma função complementar à de outras organizações como as associações sindicais e particularmente as sociedades científicas que pretendiam apropriar-se do saber didáctico das respectivas disciplinas, no momento em que era introduzida a Didáctica no ensino superior.

Na década seguinte, surge o secretariado inter-associações de professores (SIAP), fundado em Julho de 1992, com o objectivo de intervir activamente na reforma educativa liderada por Roberto Carneiro, tentando assumir-se como parceiro social junto do Ministério da Educação […]. Muitas das dificuldades do SIAP radicam no seu equívoco fundador: a necessidade de promover um contrato federador das associações pedagógicas, para se fazerem representar colegialmente e assim poderem colaborar numa reforma concebida e dirigida pelo Estado. No Seminário de Matosinhos (2008) tornou-se evidente, uma vez mais, que algumas associações não desejavam delegar numa outra instância congregadora a sua voz nas relações que mantêm com o Estado.

Por falta de finalidade estratégica própria, o SIAP tem vivido a reboque das políticas educativas em constante deriva. ”

“Deparamo-nos, portanto, com muitos temas de reflexão e de activação do trabalho inter-associativo:

1 – A problemática da reconstrução da profissão e da formação e a consequente valorização do trabalho docente, o que implica a passagem da sua condição de ofício ou pré-profissão, ao estatuto pleno de profissão.
2- A necessidade de estudar e compreender melhor o tão prolongado mal-estar docente.
3- A construção conjunta de conhecimento profissional através de acção, de investigação e de reflexão crítica compartilhada pelos próprios professores.
4- O estudo da complexidade da profissão e dos seus riscos psicológicos, como actividade centrada na interacção humana.

E se se quiser alargar esse trabalho inter-associativo a outro tipo de organizações associativas e académicas terão de confrontar-se com:

- O como se caminhou para a dispersão e indefinição das funções dos professores nas escolas;
- O quanto a sobredeterminação da centralidade da governação do Estado e o reforço da hierarquização nas escolas vem provocando uma desqualificação e proletarização do trabalho dos professores;
- O como a universitarização da formação de professores tem desvalorizado a natureza específica do conhecimento profissional.

Estão hoje criadas as condições históricas e sociais para recentrar neste fórum permanente de pedagogia e profissionalidade que é, ou pode ser, o SIAP, duas vocações fundamentais que se podem entrecruzar:

 

A. A do trabalho sobre a natureza específica do conhecimento profissional e os processos da sua construção, de modo a possibilitar uma fundamentação da actividade profissional docente.

Terão de ser os próprios a construir o conhecimento das práticas sociais que são as suas, podendo acontecer, por vezes, no quadro de uma colaboração com unidades de investigação universitária, na condição de assumirem o estatuto de parceria verdadeira.

B. A da reflexão ético-democrática como componente intrínseca dos hábitos de análise crítica de cada professor nas suas práticas sociais, assumindo-se como agente duma profissão formadora (transformadora), ou dito de modo mais pertinente, de uma função de agente do desenvolvimento humano, como nenhuma outra.

A ética, o esforço contínuo de reflexão crítica, deverá ou não ser entendida como uma matriz clarificadora dos juízos de valor a processar na resolução dos múltiplos dilemas que tecem a interacção pedagógica?

 

Fontes: sítios das associações referidas; e livro de Niza (2015; pp. 594 e 596-587)

sábado, 11 de setembro de 2021

[0301] As escolas TEIP da Nossa Banda (III)

O Agrupamento de Escolas da Caparica (concelho de Almada) é composto pelas seguintes escolas:

Escola Básica e Secundária do Monte de Caparica;
Escola Básica da Costa da Caparica;
Escola Básica José Cardoso Pires;
Escola Básica nº 2 Costa da Caparica; e
Escola Básica de Vila Nova de Caparica.

Tem o seguinte logotipo:


E, em 2021, tinha Biblioteca, Desporto Escolar, Clube de Protecção Civil e dois blogues, o da EB1 / JI da Costa da Caparica e o da EB José Cardoso Pires.

 

E o Agrupamento de Escolas José Saramago (concelho de Palmela), é composto por:
Escola Básica e Secundária José Saramago;

Escola Básica Águas de Moura;
Escola Básica Cajados;
Jardim de Infância Lagameças; e
Jardim de Infância Lagoa Calvo.


O seu logotipo é o seguinte:

E, em 2021, tinha uma Biblioteca, Desporto Escolar, o P.E.S. (Educação para a Saúde), A Melhor Turma e o E.P.I.S. (Sucesso Escolar)

 

Fontes: sítios dos agrupamentos

sábado, 4 de setembro de 2021

[0300] O testemunho de Carlos Fiolhais sobre os professores

Depois de na mensagem «0296» termos tido a opinião do Galopim de Carvalho sobre a profissão docente, desta vez temos a opinião de Carlos Fiolhais.

REGRESSO ÀS AULAS

Pela primeira vez, desde que comecei a ensinar, há 44 anos, não regresso às aulas. Dei em Julho a «última aula» em Coimbra, dizendo que poderia, se houvesse interesse, vir a dar mais «últimas aulas», o que tem vindo a acontecer. A diferença é que não vou iniciar nenhum curso para uma nova leva de alunos.
Já me perguntaram se não sinto um vazio. Respondo que não, pois tenho, tal como a Natureza em geral, horror ao vácuo. Tenho muitas coisas para fazer, a começar desde logo por ler uma pilha de livros que me aguarda há muito. É agora tempo para tudo aquilo que andava adiado. Como diz o belo trecho do Eclesiastes (3:1,2), «Para tudo há um momento, e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu:/ tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou.»
Mas, mesmo apartado do ensino formal, quero deixar uma palavra aos professores que vão agora começar um novo ano lectivo. A escola é a mais útil das invenções da Humanidade, uma vez que é ela que, ao longo do tempo, lhe tem garantido o futuro. Pode o pai não saber artes ou a mãe não saber matemática, mas a escola, da qual os professores são o imprescindível núcleo, tem por obrigação transmitir o melhor da herança humana. É a continuação da Humanidade que tem lugar sempre que professores e alunos voltam às aulas em Setembro. Uma criança com seis anos que esteja a entrar para o 1.º ano do ensino básico jamais voltará à mesma idade. É, para ela, o tempo de aprender a ler, escrever, contar, e tudo o resto que a escola proporciona. A profissão de professor, que abracei há décadas, é apaixonante, porque confere o privilégio de participar activamente no processo de passagem de testemunho entre as gerações. Os meus primeiros alunos têm hoje mais de 60 anos, ao passo que os últimos têm só 20. E, de cada vez que o professor está diante de novos alunos, sabe que essa é uma ocasião irrepetível na vida daqueles jovens.
A escola mudou nas décadas em que fui professor no activo. Mas foi mais na aparência do que na essência, com o PowerPoint a substituir o quadro negro e, nos últimos meses, com o Zoom a substituir a sala de aula. Porém, os meios tecnológicos não passam de quinquilharia, que será um dia substituída por outra. O essencial da escola não mudou nem pode mudar: é o contacto criativo e fértil entre professores e alunos, que prepara estes para a vida. Esquecendo o essencial, hoje em dia impera a miragem tecnológica: a preocupação do Governo na área da educação é fornecer miríades de computadores. Ele pensa que o pagamento aos quinquilheiros o dispensa da sua missão de fomentar o processo profundamente humano que deve ocorrer na sala de aula. Mas é aí que, com consciência humanista, começa o futuro.
Em Portugal, para além da propaganda político-tecnológica, há boas e más notícias. Uma boa é a diminuição do abandono escolar, mas uma má é a abstrusa reforma do ensino da Matemática. João Araújo, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, afirmou que se está a assistir à «destruição do ensino da matemática,» quando se querem fazer sessões de divulgação em vez da «construção metódica e estruturada do saber». O matemático João Queiró escreveu nestas páginas: «Essas mudanças vão no sentido do triunfo da ignorância dos jovens, pela desistência de lhes transmitir o conhecimento matemático acumulado e apurado durante séculos ou milénios.» Outras disciplinas também são maltratadas: Galopim de Carvalho, o grande mestre das Ciências da Terra, disse que «as sucessivas tutelas parecem estar mais interessadas nas estatísticas do que na qualidade do ensino,» e Miguel Barros, presidente da Associação de Professores de História, disse que «a situação do ensino da História é, nalguns casos, catastrófica».

Que podem fazer os professores? Não é fácil, dada a subalternidade a que têm sido remetidos, mas têm de resistir em nome da Humanidade de que são guardiões. Não só podem como devem continuar a dar o melhor de si aos seus alunos. Fala-se muito dos «heróis» do SNS, mas há também campeões nas nossas salas de aula, que dão triplos saltos sem receberem encómios. É a eles que quero saudar, louvando-os e encorajando-as, neste regresso às aulas.


Fonte: opinião de Fiolhais no jornal «Público» (2021)
Imagem: Wikipédia