sábado, 16 de janeiro de 2021

[0269] As Escolas do concelho de Almada e o Rock (anos 60, 70 e 80)

Durante a preparação da exposição NA MARGEM: uma história do rock, com que o Museu da Cidade de Almada nos brindou em 2019, foi recenseado o surgimento de mais de quinhentos grupos musicais no concelho de Almada no período de 1961-2018 (quase seis décadas).

Mais de metade desses grupos surgiu na década de 1990. Muitos tiveram vida efémera, mas alguns sobreviveram e tiveram audiência nacional, como os «UHF», o mesmo acontecendo a vários músicos, caso do Tim, desde há muito nos «Xutos e Pontapés».

O relativo sucesso das bandas mais recentes, apesar do apoios que perderam, pelas escolas (ao se encerrem em si mesmas) e por algumas infraestruturas (como aconteceu há pouco tempo com o «Ponto de Encontro», em Cacilhas), baseou-se na influência que as rupturas sociais exerceram sobre as musicais nas décadas anteriores.


Na década de 60, a falta de salas de concertos levou os grupos musicais de então a recorrer a colectividades, a cafés e esplanadas, a escolas (à Escola Comercial e Industrial Emídio Navarro, ao Externato Frei Luís de Sousa e, a partir de 1965, à extensão do Liceu D. João de Castro, mais tarde Liceu Nacional de Almada) e aos núcleos urbanos (na Trafaria, no Monte da Caparica, na Sobreda e na Costa de Caparica).
A ampliação da rede escolar nas décadas de 70 e de 80 permitiu que as escolas assumissem um papel central na formação, difusão e fruição dos novos grupos musicais. Às dos anos 60, situadas no eixo central de Almada, juntaram-se a Escola Técnica Elementar D. António da Costa, e a sua secção no Feijó, a futura Pintor Columbano, a Escola Técnica Anselmo de Andrade, as Escolas Preparatórias Elias Garcia, da Trafaria e Comandante Conceição e Silva e a Escola Secundária Nº 1 do Laranjeiro.
A falta de recursos deu frequentemente lugar à criatividade, como a que António Antunes descreveu:

 

Queríamos tocar! Então a gente não tinha nada, não havia uma bateria, não havia uma guitarra … não havia nada … a gente só queria formar uma banda […]. Eu comecei a comprar potenciómetros, trastes, cartões, coisas assim do género, depois fomos aqui algures, talvez à Mecânica Piedense, comprar uma tábua e então foi descocar aquilo, foi fazer um braço … fazer os buraquinhos para, como é que se chama aquelas coisas da guitarra, os captadores de som … aquelas coisas assim … e começamos a montar duas guitarras. E depois o nosso amigo tinha andado na Emídio, percebia alguma coisa de mecânica e começou a montar uns amplificadores e foram os primeiros amplificadores que eu me lembro dos UHF.

 

Algumas escolas tiveram o privilégio de proporcionar um local de estreia a alguns grupos musicais, como aconteceu com os «Procyon» em 1983, na Escola Secundária do Pragal (ex Liceu Nacional de Almada), e os «Brainhead», em 1987, na Escola Secundária de Cacilhas.

 

Fontes: catálogo do Museu da Cidade de Almada (2019; pp. 20, 32, 36 e 40)

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