sábado, 23 de junho de 2018

[0146] Tópicos sobre o património histórico do concelho do Barreiro


Da exposição permanente do Espaço Memória do Barreiro



Povoado Neolítico, na Ponta da Passadeira: com cerca de 5 000 anos; vestígios que o associam à caça, à pesca, à recolecção de marisco, à olaria e ao eventual culto do touro.

Vinhas: está documentada a sua existência em Coina (1257) e no Lavradio (1298); na primeira metade do século XIX elas ocupavam um terço do solo do concelho.

Salinas: existiam no Lavradio (antes de 1317) e no estuário do Coina (desde 1322); perduraram, juntamente com a agricultura, até ao início do século XX.

Fornos Cerâmicos: os da Mata da Machada (séculos XV e XVI) usavam a argila e a lenha das proximidades, produzindo malgas, pratos, candeias, tigelas, copos, escudelas e talhas, pesos de rede, telhas, formas de biscoito (para o Vale do Zebro) e formas de pão de açúcar (para os engenhos açucareiros); mesmo se pode dizer do forno de Santo António da Charneca, da mesma época.

Complexo Real de Vale do Zebro: no século XV tinha 27 fornos, um armazém de cereal, um cais de embarque, um moinho de maré com 8 moendas (o maior do estuário do Tejo, nessa época); produzia o «biscoito» (o nome proveio das duas cozeduras a que era sujeito, para ficar completamente desidratado), que era conservado em barricas e não azedava durante as viagens marítimas (precisava de ser humedecido antes de poder ser consumido; a ração diária era de 428 gramas por pessoa); danificado pelo terramoto de 1755, foi reconstruído, acabando por servir para outros fins.

Moinhos de maré: foi referenciada a existência de 11; o primeiro data de 1484; há vestígios dos de Coina, Telha, Palhais, de três na Alburrica (Grande, Pequeno e do Cabo) e do d`El Rei (Vale do Zebro); no século XVIII foi construído o de Braancamp, maior que o de Vale do Zebro; antes destes moinhos houve moinhos fluviais.

Moinhos de vento: aproveitavam os ventos predominantes de Norte; haveria uma dúzia no século XVIII, que perderam valor comercial com a chegada da moagem industrial; na Alburrica, subsistem os moinhos Nascente e Poente (1852), de tipologia portuguesa, e o Gigante (1852), de três pisos e pás de madeira, de tipologia holandesa, tal como o moinho do Jim, que se situou na antiga praia do Norte, hoje Av. Bento Gonçalves (1827).

Construção naval: para embarcações de longo curso, desde o século XV até ao século XIX, situada na Ribeira da Telha (Azinheira Velha, Santo André), próximo de uma mancha florestal (Mata da Machada); trabalhou em articulação com a construção naval da Ribeira, em Lisboa; paralelamente desenvolveu-se a construção e a reparação naval, destinadas à pesca e à navegação no rio.

Muleta: esta embarcação aparenta ter raízes no Mediterrâneo oriental; possui um mastro inclinado, com verga para uma grande vela latina, dois panos na ré e seis na proa; e possui «tartaranha» (rede de arrasto e de alar) e redes de deriva; exigia uma campanha de 15 homens, um mestre e 2 moços auxiliares; em 1901 só havia uma a laborar; foi substituída pelo Bote-de-fragata em 1928.

Real Fábrica de Espelhos e Vidros Cristalinos de Coina: fundada no século XVIII, por D. João V; laborou entre 1719 e 1749, sendo transferida para a Marinha Grande devido à proibição de utilizar a madeira dos pinhais reais, apesar de ter usado, durante algum tempo, hulha importada.

Linha Ferroviária de Sul do Tejo: começou a ser explorada comercialmente em 1861; em 1884 foi-lhe acrescentado a ligação a um cais fluvial, tornando atrativo o seu uso pela indústria.

Indústria Corticeira: a primeira notícia da inauguração de uma fábrica de cortiça no Barreiro é de 1865; em 1920 havia aí 40 fábricas e mais de 1000 operários (um terço da população activa barreirense; houve quem trabalhasse a partir dos 7 anos de idade; no fim do século XIX a jornada de trabalho era de 12 horas); a CUF veio proporcionar condições mais atractivas para os trabalhadores, a que se juntou a pressão do crescimento urbano, levando ao desaparecimento desta indústria.

Companhia União Fabril (CUF): instalou-se no Barreiro, para se expandir, pois o seu desenvolvimento estava limitado em Lisboa; em 1907 já tinha armazéns e um cais acostável; depois teve um ramal de caminho-de-ferro e novos terrenos para Sul do terreno inicial, situado junto ao rio; constrói um bairro operário em 1908; no final dos anos 50 emprega mais de 8 mil operários e na década seguinte mais de 10 mil; a recessão dos anos 70 questionou o seu modelo de grande concentração industrial.

Associativismo: são centenárias a Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense «Os Penicheiros» e a Sociedade União Democrática Barreirense «Os Franceses» (1870); a Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense e a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste (1894); a Sociedade Filarmónica União Agrícola 1º de Dezembro (1896); o Futebol Clube Barreirense e a Cooperativa «Corticeiros» (1911); e a Cooperativa Popular Barreirense (1913).

Fonte (catálogo): Camarão & Carmona (2015)

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