domingo, 23 de junho de 2019

[0195] Como surgiram os Serviços Educativos nos nossos museus

Entre 1961 e 2008 o número de museus portugueses mais do que triplicou (de 96 para 300) e o número dos seus visitantes mais do que decuplicou (de 740 mil para mais de 8 milhões). Entre os visitantes, os que o fizeram no âmbito de actividades pedagógicas passaram de menos de 20 % do total, em 1994, para mais de 25 %, em 2008. Catarina Moura, coordenadora do Serviço Educativo do Museu Nacional de Arte Contemporânea, contou uma história do surgimento dos serviços que apoiaram este tipo de visitas.


Subindo e Descendo (M. C. Escher, 1960)

Em 1936 a lei portuguesa já previa e recomendava “a visita dos alunos e professores dos estabelecimentos de ensino aos museus de arte e monumentos nacionais”, mas foi só em 1953, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, que “um grupo de mulheres pioneiras, autodidactas, num trabalho isolado e de absoluto mérito”, iniciou “uma nova era nos museus”, acompanhando as visitas de alunos e professores e fazendo a mediação com a respectiva colecção.
Depois, nos anos 70, a Fundação Calouste Gulbenkian criou um Serviço Educativo, “com monitores que promoviam visitas guiadas e actividades dirigidas ao público”, iniciativa que, em breve, foi replicada informalmente, mas convictamente, em “muitos museus” do Estado, tornando-se “uma realidade incontestável” apesar de nascida “à margem da lei”. Os novos educadores, então pagos à hora, ou dependentes de um subsídio da Gulbenkian, enfrentaram “todas as adversidades, perante a incredulidade de muitos directores e conservadores”, e demonstraram, na prática, “a possibilidade e a vantagem educativa em estabelecer relações de cumplicidade e criar laços simbólicos entre acervos e públicos.”
Apenas nos anos 80 a “carreira de monitor do serviço educativo” dos museus do Estado foi reconhecida na lei, o que terá estimulado a criação destes serviços em muitos dos nascentes museus autárquicos que, por se encontrarem mais próximos das comunidades, começaram a propor programações mais interactivas com os seus visitantes.
Em 1993 este novo grupo de profissionais decidiu começar a encontrar-se com regularidade, de modo a beneficiar de trocas e reflexões a uma escala maior, pois o seu número era muito reduzido em cada Serviço Educativo. O objectivo desses encontros não seria pequeno, atendendo ao que David Anderson afirmara:
Os objectos têm o poder de mover a mente e o coração das pessoas, exibi-los não chega. Mas, eles por si não são cultura, cultura é o que fazemos com eles”.
Em 2001, “inexplicavelmente”, estes encontros cessaram.

Fontes: livro de Rosa e Chitas (2010; p. 43); pdf de Moura (2012), onde são citados o Decreto-Lei nº 27 084 (artº 10º) e Aderson (conservador do Victoria and Albert Museum, em Londres)

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