No passado dia 16 de Fevereiro foi
publicado na IIª série do Diário da República o anúncio da inscrição da Arte-Xávega (Costa da Caparica, Almada) no Inventário Nacional
do Património Cultural Imaterial, na sequência de proposta
apresentada pela Associação Grupo de Caretos de Podence.
A Costa de Caparica é referida
pela primeira vez na cartografia em 1816, designada por «Cabanas da Costa».
Há referências mais antigas, como
a que aí reporta 5 mortos como consequência do maremoto que se seguiu ao
terramoto de 1755.
Tratava-se de um local insalubre,
devido às águas paradas, situadas entre o areal e a arriba.
Há conhecimento da sua ocupação
sazonal por pescadores; mas é só em 1770 que aí se instalam algumas companhas
vindas de Ílhavo e de Olhão, as primeiras a norte da actual Rua dos Pescadores, as
segundas a sul.
Os barcos usados, conhecidos por
«Meia Lua», tinham a proa e a popa elevados, para vencer a rebentação, e o
fundo chato, para deslizar na areia.
(descrição
proveniente da divulgação feita pelo Centro de Arqueologia de Almada)
Caparica, Aguarela, Carlos Pinto Ramos
Imagem: Cabral Moncada Leilões
Esta forma de pesca sofreu nas
últimas décadas uma evolução técnica (os barcos já não são os «Meia-Lua», a tracção
das redes deixou de ser manual).
No sítio da Direcção-Geral do
Património Cultural, que aprovou a inscrição da «Arte-Xávega» como Património
Imaterial, pode ler-se e ver-se:
“A Arte-Xávega consiste numa
técnica tradicional de pesca com recurso a uma rede de cerco, lançada no mar e
depois puxada, ou alada, para a praia. A arte, como é designado o conjunto
constituído por cordas, alares e saco, é lançada ao mar a partir de uma
embarcação, deixando em terra a ponta da corda designada por banda panda.
Depois de largar a rede, a embarcação regressa à praia trazendo a outra ponta
de corda, designada por banda barca. Logo que a segunda corda chega à praia
inicia-se o processo de alagem em simultâneo de ambas as cordas, puxando para a
praia a rede, cuja boca é mantida aberta com recurso a flutuadores e pesos.
Na comunidade piscatória da Costa
da Caparica (Almada), este tipo de pesca realiza-se ao longo de todo o ano,
encontrando-se largamente dependente das condições meteorológicas e do estado
do mar, assim como, na época balnear, dos próprios condicionalismos de acesso
às áreas de praia concessionadas. Esta comunidade piscatória é atualmente
constituída por dois núcleos localizados na freguesia, um na Costa da Caparica
e outro na Fonte da Telha, cada qual conta com cinco companhas de Arte-Xávega,
que exercem a sua atividade em toda a frente atlântica até, mais a Sul, à Lagoa
de Albufeira.”
Texto
e imagem:
O anúncio (nº 14/2017) publicado
no Diário da República pode ser acedido em:
O que se espera agora é que haja uma atenção maior à voz dos pescadores. O Património imaterial é deles, ou melhor, são eles.
ResponderEliminarSim, foi essa a ideia desta mensagem: destacar os «pescadores», pois se trata da sua vida, pois possuem «saberes» que são o cerne do património que encarnam.
ResponderEliminarNeste caso o património são eles. Em geral, o património somos nós.