sábado, 29 de maio de 2021

[0286] Em 1 de Junho: Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça

Texto transcrito da plataforma Florestas.pt:

 

Passaram dez anos desde que foi considerado um símbolo da nossa paisagem agroflorestal, mas o sobreiro (Quercus suber L.) é, desde há muitos séculos, uma espécie emblemática e não apenas no nosso território. Para assinalar o seu valor, Portugal assinala a 1 de junho o Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça.
Valorizado desde a Antiguidade pelas qualidades da sua casca, o sobreiro tem descritas as qualidades e usos da cortiça desde há milhares de anos. Vários estudiosos identificam vestígios da sua utilização desde a China ao Egipto, inicialmente como vedante de recipientes, isolante para habitações e boia flutuante para a pesca. O filósofo grego Teofrasto já descrevia nos seus textos de botânica, há cerca de 2200 anos, como o Quercus suber se distinguia de outras espécies: «o descortiçamento circular acarreta a morte de qualquer árvore (…). Mas quem sabe constitui o sobreiro uma exceção. Porque este ganha mais vigor se se lhe tira a cortiça exterior …».
Esta longa utilização valeu-lhe, desde cedo, o estatuto de espécie protegida que tem atualmente. Por exemplo, o rei visigodo Alarico II (485-507) promulgou uma compilação de leis romanas em vigor na península ibérica que incluíam medidas de proteção dos sobreiros. No nosso território, foi provavelmente no século XIII que começou a sua proteção, com os Costumes e Foros de Castelo Rodrigo e Castelo Melhor, promulgados pelo rei D. Sancho I, em 1209, que determinavam multas a quem danificasse sobreiros, prejudicando a produção da lande utilizada na alimentação dos animais. Nos finais do século XIII, já no Reinado de D. Dinis, surgem cartas de proteção do sobreiro e da azinheira com proibição e punição «de queimadas e varejamento indiscriminado do fruto, colheita abusiva da rama verde e sobretudo cortes indevidos», revela o trabalho «O Montado de sobro e o setor corticeiro: uma perspetiva histórica e transdisciplinar».
Estas e outras características continuaram a ser descritas ao longo dos séculos, multiplicando aplicações da árvore mãe da cortiça, cujo valor se estende à bolota e à importância ecológica do montado, sistema desenvolvido pelo Homem e aperfeiçoado ao longo de séculos em Portugal, para «melhorar o aproveitamento e a rentabilização dos escassos recursos numa região caracterizada por um clima mediterrânico e solos pobres».
Já no século XXI (2011), a Assembleia da República reforçou o estatuto simbólico do sobreiro, declarando-o como «Árvore Nacional de Portugal». Este estatuto advém, entre outros aspetos, da sua importante função na conservação do solo, na regularização do ciclo hidrológico, no armazenamento de carbono e, entre outros, na qualidade da água, ou seja, assegurando serviços de ecossistema fundamentais.
Adicionalmente, o Dia do Sobreiro e da Cortiça assinala a importância deste recurso renovável de referência para a economia. Para além dos milhares de postos de trabalho que justifica, a cortiça tem um peso significativo nas exportações portuguesas: mais de mil milhões de euros em 2020 (e também em 2019), de acordo com as estatísticas de comércio internacional do INE – Instituto Nacional de Estatística. Este contributo é sublinhado pela APCOR – Associação Portuguesa da Cortiça, que o identifica como representando cerca de 2 % das exportações de bens portugueses e 1,2 % nas exportações totais, com um saldo positivo de 815,6 milhões de euros para a balança comercial. Portugal é, também, o maior exportador mundial de produtos transformados, com 63 %, o correspondente a 986,3 milhões de euros.
Recorde-se que esta espécie estende-se por 720 mil hectares do território continental e cobre 22,3 % da nossa floresta, de acordo com dados do 6º Inventário Florestal Nacional.

 

Em vários pontos do país existem vários sobreiros monumentais, árvores que se distinguem de outras da sua espécie pelo porte, desenho, idade, raridade, interesse histórico ou paisagístico. Um dos mais notáveis é conhecido como «Árvore casamenteira» ou «Sobreiro Assobiador». Em 2018, este sobreiro inconfundível na aldeia de Águas de Moura (Palmela), foi distinguido como Árvore Europeia do Ano e está inscrito no livro do Guinness como «o maior do mundo». São 16,2 metros de altura e uma frondosa copa cujo diâmetro se aproxima dos 30 metros.


O Observatório do Sobreiro e da Cortiça, situado em Coruche, foi desenhado pelo arquiteto Manuel Couceiro. Além de laboratórios e oficinas destinados ao estudo do sobreiro e da cortiça, o edifício acolhe também um espaço dedicado à compilação de informação relacionada com a fileira da cortiça e um auditório.

Em Gaia, um novo museu dedicado à cortiça abriu portas em 2020 e é uma oportunidade para ficar a conhecer melhor toda a cadeia de valor associada ao sobreiro. Numa experiência interativa, o Planet Cork convida à descoberta dos mais diversos usos da cortiça. Desde a exploração ancestral do sobreiro até às mais variadas e vanguardistas aplicações, como as tradicionais rolhas de vinho ou a utilização na indústria aeroespacial, há muito para explorar e aprender neste museu.

 

Fontes: sítio das Florestas.pt, para o texto; notícia de Rito (2016), para a imagem

Nota: a plataforma Florestas.pt, criada em 2020, é uma iniciativa da The Navigator Company sob coordenação técnico científica do Raiz – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, e o apoio da comunidade científica nacional e de várias instituições e iniciativas com ligação à floresta.

sábado, 22 de maio de 2021

[0285] Como nos faz bem brincar!

Na próxima Sexta-feira, dia 28 de Maio, celebra-se o Dia Mundial do Brincar.

Brincar é a principal actividade das crianças, e a que elas, ao se tornarem adultas, chamam «jogar».

Louro Artur, pintor almadense nascido em 1943, mostra neste seu «Sonho de Infância» a contiguidade que existe entre as brincadeiras de crianças (jogo do berlinde) e o atrevimento com que exploram o mundo que as rodeia (a escada que dá acesso aos cachos de uvas): 


Os promotores das comemorações do Dia Mundial do Brincar escolheram para este ano em que ainda se vivem as limitações provocadas pela pandemia, o tema brincar é saúde. O seguinte esquema mostra como as crianças se desenvolvem fisicamente, cognitivamente, socialmente e emocionalmente quando brincam:


Já houve tempos em que brincar se fazia sobretudo «na rua». Entretanto surgiram espaços para brincar, por um lado mais controlados, mas também com propostas de «brincadeira» que só aí podem ser realizadas: as ludotecas.
O Instituto de Apoio à Criança tem recenseado regularmente as ludotecas existentes no nosso país. Da última vez que o fez identificou, na Nossa Banda, as seguintes ludotecas (não sendo certo se todas elas estarão ainda hoje a funcionar, nem sendo de excluir a possibilidade de novas ludotecas terem sido abertas):


Neste blogue, o Dia Mundial do Brincar já foi referido nas mensagens «0058» (em 2017) e «0238» (em 2020).

 

Fontes: mensagem de Artur Vaz no Facebook (pintura de Artur Louro) e informações prestadas pelo Instituto de Apoio à Criança (ludotecas)

segunda-feira, 17 de maio de 2021

[0284] O painel em cerâmica que a Escola Básica d`Alembrança nos mostra

No Feijó, quem passa em frente à Escola Básica d`Alembrança pode ver, de um dos lados do portão de entrada, um longo painel de cerâmica. Ele foi produzido pelos alunos de uma das turmas que aqui estudaram e brincaram, em 1997-98 e em 1998-99:






Quem acompanhou estes alunos-artistas foi a professora Elisabete Pimentel e, em 1998-99, a sua turma era o 6º G.
No painel, podemos ver uma mãe levando pela mão um filho, duas crianças (ou dois adultos?), uma saltando à corda e outra de braços cruzados, algumas plantas (sobretudo Palmeiras, com as Tâmaras já bem desenvolvidas) e vários animais, desde gatos a patos, todos eles com um olhar ou um movimento algo antropomórfico …
Hoje, os jovens artistas que foram autores deste painel ainda são jovens, apesar de já terem dobrado os 30 anos de idade. Qu`alembranças terão eles sobre o que quiseram mostrar ao esboçar este painel? E que pensarão eles agora sobre ele?

 

Fotografias (foram recortadas de modo a se encaixarem; os dois extremos do painel não fazem parte desta composição): Eva Maria Blum (Fevereiro de 2019)



sábado, 8 de maio de 2021

[0283] Os azulejos, o património e as escolas

Em 6 de Maio celebrou-se o Dia Nacional do Azulejo:


Os azulejos têm interessado as escolas por diferentes razões.
Por vezes eles são um suporte de histórias (as locais, as nacionais), ou de padrões (nos frisos, nos painéis).
Doutras eles são uma tecnologia (há escolas que os produzem), ou como um património (a apreciar, a defender, a divulgar).

Entre os potenciais parceiros das escolas encontram-se:

O Projecto SOS Azulejos (http://www.sosazulejo.com/), uma iniciativa do Museu de Polícia Judiciária, com o intuito de combater o furto, o vandalismo e a incúria a que tem estado sujeito o património azulejar português.

E o AzLab (https://blogazlab.wordpress.com/about/), uma iniciativa dos que estudam as diversas facetas dos azulejos que está aberta a colaborações que lhe sejam solicitadas.

Para Maio está agendado um Congresso, via ZOOM (https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=293743225553004&id=100977948162867), cujo tema denuncia a actual forte preocupação dos estudiosos e dos defensores deste património com a sua preservação:



Fontes: sítio do Projecto SOS Azulejo e blogue do AzLab

sábado, 1 de maio de 2021

[0282] Hoje a minha sala de aula é no mar

Francisco Alves Rito descreveu no jornal «Público» a seguinte experiência pedagógica, em curso na Escola Básica Navegador Rodrigues Soromenho (Sesimbra):

Alunos de escola de Sesimbra aprendem sobre o oceano mergulhando nele


A Escola Básica Navegador Rodrigues Soromenho, em Sesimbra, está a viver, há um mês, uma experiência de ensino inédita em Portugal, em que o oceano é transformado em novas salas de aulas.
A primeira edição do Programa Atlantis, promovido pela Oceans and Flow, que se propõe levar educação ecológica subaquática às escolas, abrange 470 alunos de Sesimbra entre sessões de freediving (mergulho livre), limpeza de praia, palestras com especialistas e até um workshop para incluir algas na dieta alimentar.
No dia 22 de Março, Dia Mundial da Água, os responsáveis por esta inovadora proposta educativa apresentaram-se aos 21 alunos do oitavo ano que vão estar mais directamente envolvidos nas diversas actividades previstas até dia 16 de Junho. São três meses de mergulhos no mar de Sesimbra, aulas de biologia marinha, visita a uma pradaria marinha e outras iniciativas sempre próximas da maresia oceânica.
Até agora já participaram em sessões do oásis, um jogo criado no Brasil que mobiliza a comunidade para o desenvolvimento de um projecto colectivo. «Estamos a jogar em Sesimbra e a envolver as pessoas, a ouvi-las, sobre as necessidades ligadas ao mar, e escutamos os seus sonhos», relata ao PÚBLICO a coordenadora do Programa Atlantis.
Com este jogo, os estudantes desenvolvem a relações interpessoais e mobilizam a vila. «As actividades têm sempre a ver com mais consciência sobre o oceano, com cuidar do mar de Sesimbra», diz Violeta Lapa, que é uma das educadoras subaquáticas responsáveis pela idealização do programa.
A responsável, que é terapeuta aquática, mostra satisfação pela forma como o projecto está a decorrer, com o interesse crescente dos jovens participantes. «Está a correr muito bem. Eles estão muito entusiasmados e cheios de vontade de ir para o mar. É bom sentir este envolvimento. Já se vê uma grande transformação, mais atenção, vontade e alegria», afirma.
A anterior fase de confinamento em que o programa arrancou «alterou um pouco» o que estava planeado, designadamente quanto à logística das embarcações que transportam os alunos e obrigando a que algumas sessões presenciais tivessem de ser feitas à distância, mas, agora, com maior abertura e dias mais quentes, os grupos voltam a poder sentir a água no corpo e a areia nos pés. E é isso que faz a diferença.
«Este é o único programa do género que é mesmo no mar. O conceito do Programa Atlantis é trazer os jovens para os espaços naturais, para eles aprenderem como estar em segurança no mar e cuidar do mar», sublinha Violeta Lapa. A coordenadora destaca a componente de «ecologia profunda» do projecto. «Traz uma dimensão ética à ecologia, sem hierarquia entre Homem e Natureza, e permite que as pessoas despertem, abram o olhar e os sentidos, e isto provoca uma transformação e a vontade de cuidar», explica.
«Vamos ensinar como podem cuidar do mar, através da forma como consomem, como cuidam do lixo e noutros pequenos comportamentos. O programa tem esta componente pedagógica, de ensinar como cuidar de uma forma simples e divertida», acrescenta a terapeuta.
O que une os elementos da Oceans and Flow envolvidos nesta missão em Sesimbra é o gosto pelo mar. «Somos freedivers e vivemos diariamente o poder transformador de uma relação mais próxima com o oceano. Partilhamos a paixão pelo mar e a missão de despertar nas novas gerações o cuidado e afecto pela vida marinha. Com formações distintas na área do desenvolvimento humano, artes e movimento aquático, as nossas valências convergem num método único de educação», sintetiza a educadora subaquática Cris Santos.
O Programa Atlantis inclui acções abertas à comunidade, como palestras online e um workshop «de corpo e alga», em que os participantes recolhem algas para aprenderem sobre a sua utilidade alimentar, e vai terminar com uma exposição na marginal da Avenida 25 de Abril, em Sesimbra, com fotografias de todas as etapas do projecto, numa galeria ao ar livre.
Esta primeira edição é financiada pelo EEA Grants e Hydrokompass, com o apoio da Câmara Municipal de Sesimbra e quase duas dezenas de parceiros. A segunda edição ainda não está definida, mas os organizadores planeiam continuar em Sesimbra.

 

Fonte (texto e imagem): artigo jornalístico de Rito (2021)