quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

[0114] «Plantas Silvestres do Concelho de Almada»: o novo livro de Manuel Lima

Escrito pelo mais prolífico divulgador da Nossa Banda, este livro descreve, pela fotografia e pelo texto, 346 espécies botânicas que ocorrem naturalmente no concelho de Almada, ordenando a sua apresentação de acordo com o percurso evolutivo das respectivas famílias:


Contacto do autor: prof.manuel.lima@gmail.com

Fonte: Lima (2017)

domingo, 28 de janeiro de 2018

[0113] Um balanço sobre o nosso sistema educativo, por António Nóvoa

Entrevistado recentemente, António Nóvoa avaliou assim a situação do nosso sistema educativo, estando assinaladas algumas intervenções dos entrevistadores:


A Educação é central, como a Ciência e Cultura. Julgo que nestas áreas o que tem sido feito tem sido feito de uma forma correcta — tanto na Educação, como na Ciência e no Ensino Superior. Mas tem sido pouco. Isto é: tem havido mais um gerir e resolver situações que vinham do passado ...

Em 2015 disse que devíamos viver uma revolução nas escolas: mudança nos currículos, na organização e modelo da escola. Estamos a atrasar-nos?

Estamos longe. Infelizmente não estamos neste momento numa dinâmica do que é o futuro da escola e da educação. E o mesmo se diga para as universidades, que estão muito ...

Estagnadas?

Muito contidas, a palavra estagnada seria injusta. Há muita coisa que se tem feito bem. Eu, pelo meu mandato de reitor, tenho um fantasma, que é a burocracia. E o complicador imenso em que se transformou a vida das escolas, dos professores, a gestão das universidades, a vida da ciência. Fazer um projecto científico é uma coisa do outro mundo. E temos de nos libertar disso. O tema da autonomia, que é para mim central ...

Tem-se falado muito na autonomia ...

... mas é conversa. As escolas deviam ser ambientes vibrantes, estimulantes.

O que é que custa mais a ultrapassar? Burocracias, as medidas do Governo, os professores, a sociedade ...

Há um conjunto dessas coisas todas. Mas há uma rigidificação burocrática que se criou nas nossas instituições, que é um factor que dificulta muito essa espécie de liberdade. As pessoas, às vezes, para fazerem coisas, quase têm de sair das instituições.

Como é que se ultrapassa isso?
No caso das universidades é consagrando um verdadeiro estatuto de autonomia, com responsabilidades claras. Precisamos de ter uma muito maior autonomia das instituições, dos professores, das universidades, da ciência. Hoje, a ciência é a chave da sociedade do século XXI. A chave de tudo o que nos vai acontecer está na ciência e na tecnologia. Mas não é só a que se faz nos grandes laboratórios, não, é a que se faz dentro das escolas, na sociedade. Se não formos capazes de fazer isso, vamos andar enredados ...

Fonte (citação): Nóvoa (entrevistado por Dinis e Lourenço, 2018; p. 11)
Fotografia (pormenor): Nuno Ferreira Santos

sábado, 20 de janeiro de 2018

[0112] Memórias de almadenses sobre a sua educação

A 1ª República (1910-26) determinou em 1919 a obrigatoriedade de 5 anos de escolaridade para todas as crianças.
O Estado Novo (1926-74) só em 1956 exigiu o 4º ano do primeiro ciclo aos rapazes e em 1969 às raparigas; mas em 1972 ainda aceitava que a escolaridade obrigatória estivesse cumprida desde que as crianças entre os 7 e os 13 anos tivessem sido aprovadas no exame da 3ª classe, ou pelo menos tivessem frequentado a escola.

Em 2014 e 2015, no âmbito de um estudo mais geral, foram realizadas 30 entrevistas individuais sobre as histórias de vida a 15 mulheres e a 15 homens, maiores de 65 anos, residentes no concelho de Almada. A duração média dessas entrevistas foi de de 2h30, cada uma distribuída por dois dias consecutivos. Muitos destes almadenses não terão nascido nem frequentado a escola no concelho de Almada, só aqui tendo chegado em idade adulta.


Partes dessas entrevistas dizem respeito aos percursos escolares dos entrevistados.

Uns gostavam da escola, pelo que aí aprendiam:

Tinha um certo gosto em andar na escola, porque eu gostava muito de escrever, e ainda gosto de escrever, gostava de fazer letras, tudo. Aprendi muita coisa.
Entrevistado 17; 67 anos; 1º Ciclo do Básico

Outros gostavam da escola, pelas outras oportunidades de que aí dispunham:

Eu não era muita boa na escola (…). Eu gostava de ir à escola para a paródia, mas não era para as letras, porque eu para as letras não tinha grande jeito. As minhas irmãs tinham mais. Não tinha grande jeito, não. Queria era paródia.
Entrevistada 15; 81 anos; 1º Ciclo do Básico

Gostava, pela mesma maneira das camaradagens que a gente tinha, e tudo o mais, amigos.” (p. 39)
Entrevistado 17; 67 anos; 1º Ciclo do Básico

Uns não gostavam da escola, não tendo obtido qualquer grau de escolaridade:

Não, não gostava de ir à escola. Palavra de honra que não. (…) eu queria era galderice, fugia sempre, não aprendia nada, nada.
Entrevistada 14; 75 anos; sem escolaridade

Chegava ao fim e já não queria saber da escola. Já não sei o ABC (…) fugia da escola, fugia.
Entrevistado 16; 75 anos; sem escolaridade

Outros estudaram, mas não quiseram continuar a estudar, ou resignaram-se à vida, ou às posses, do seu tempo:

Eu fiz a quarta classe quando era para fazer a quarta classe (…). Lá não havia [sítio] para se estudar, não havia (…), tinha que se vir cá para fazer a admissão ao liceu, e os meus pais perguntaram se eu queria estudar, e eu não queria, não quis estudar. Criança, coisas de criança.
Entrevistada 25; 79 anos; 1º Ciclo do Básico

E também a mentalidade daquele tempo, não. As meninas … Já lhe disse que só uma família lá, eram dois, mas eram primos, é que os filhos estudaram. E outras pessoas que tinham quintas e tudo mas não passava pela cabeça deles irem estudar, tinham que continuar a tomar conta das coisas que tinham, os pais ensinavam aos filhos e eles começavam logo a trabalhar.
Entrevistada 9; 76 anos; 1º Ciclo do Básico

Uns quiseram estudar, ou continuar a estudar, mas não o puderam concretizar:

Eu queria ir para a escola, queria, mas o meu pai não me deixava, tinha isto para fazer, tinha o me irmão para cuidar, tinha isto para fazer, tinha tudo para fazer (…). Eu poucos dias fui à escola. e os dias que eu lá fui adorava.
Entrevistada 2; 74 anos; sem escolaridade

A vida não me dava essa possibilidade, não me dava esse valor de eu poder estudar. Quem é que não gosta de estudar e de tirar um curso? eu sonhava um dia ser … Gosto de mexer em ferros, gostava em garoto, agarrei-me aos carros e isso tudo, e «um dia hei-de ser um engenheiro de máquinas, um arquitecto», somos nós a pensar, não é? Mas ada disso foi possível.
Entrevistado 12; 74 anos; 3º Ciclo do Básico

Eu gostava de ter podido [estudar], ter possibilidades para enfermagem.
Entrevistada 20; 76 anos; 1º Ciclo do Básico

Eu estudei, fiz a quarta classe, na altura até era difícil lá as pessoas fazerem a quarta classe, nem era obrigatório, era só a terceira. Eu tive que esperar um ano para conseguir entrar numa turma com mais duas raparigas e o resto era tudo rapazes. Pronto, naquele tempo era assim. E a minha mãe não me pôde pôr a estudar porque a vida não dava, não dava para isso.
Entrevistada 10; 72 anos; 3º Ciclo do Básico

Também não havia dinheiro. Porque a gente, depois da quarta classe, a gente já sabe que havia a admissão ao liceu, o que é é que não havia já. Também para a quarta classe o dinheiro já era escasso, quanto mais para liceus.
Entrevistado 17; 67 anos; 1º Ciclo do Básico

Outros, só mais tarde perceberam o que perderam por não terem estudado mais:

Tenho, tenho [pena de não ter estudado]. Pois, a estudar já a gente sabia, e assim olhe, estamos sempre com os olhos assim fechados, onde quer que a gente vá está sempre com os olhos, nunca sabe nada, pois, nunca sabe nada. Elas lêem e fazem coisas, saem e sabem para onde vão, e a gente não. A gente não sabe ler, não sabe nada.
Entrevistada 18; 82 anos; sem escolaridade

Mas uns tantos regressaram à escola e obtiveram algo do que queriam:

Na altura não tinha posses, andava a trabalhar, por aqui, por ali, onde calhava, e nunca pensei bem nisso. E depois lá na fábrica houve a possibilidade e então eu e mais outras tirámos a quarta classe, na altura em que havia pouco trabalho, estivemos na reciclagem, e então aproveitámos, aproveitaram para dar a quarta classe, várias coisas.
Entrevistada 20; 76 anos; 1º Ciclo do Básico

Eu queria tirar a carta de motorista, mas eu só tinha a terceira classe, e naquele tempo Salazar já exigia a quarta, e então eu fui à escola, com os meus dezasseis, dezassete anos, e tirei a quarta classe.
Entrevistado 19; 86 anos; 1º Ciclo do Básico

Andei no liceu (…) até ao segundo ano (…). Depois interrompi, e depois fui até ao quinto, o antigo quinto ano [hoje 9º ano]. (…). Era uma ou duas disciplinas, e ia andando assim, durante uns anos (…). Fui fazendo por disciplinas, até que atingi isso, não é? Foi assim durante uns anos, eu ia fazendo, ia fazendo o que podia, e cheguei lá.
Entrevistado 12; 74 anos; 3º Ciclo do Básico

Fonte: Lopes, Zózimo, Ramalho, Pegado & Pereira (2016; pp. 17-18, 36, 37, 38, 39, 44, 45, 47, 48, 76, 77 e 77-78)

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

[0111] €cos da Europa na Nossa Banda

difusão das moedas de €uro cunhadas em diferentes países tem vindo a ocorrer desde 2002. Tendencialmente, a mistura das moedas com faces nacionais diferentes tenderá para uma percentagem equivalente à da massa monetária com origem em cada país. Portugal terá nessa mistura uma participação um pouco inferior a 2%, correspondendo os restantes 98% às moedas com origem nos outros países.

A que velocidade se irá processar essa mistura?
Admitindo que (1º) a quantidade de moedas de cada país se manteve e manterá constante (de facto não é nem será assim, sendo uma das razões o aumento dos países que usam este sistema monetário, que inicialmente eram 12 e hoje são 25) e que (2º) a taxa de crescimento anual das moedas com origem estrangeira (adiante designada por «Δ» para o caso português) é constante em cada país, então, em Portugal, ao fim de «n» anos a proporção de moedas vindas de outros países será igual a:
Φ(n) = 0,98 {1 – [1 – (100 Δ) / 98]n}
Um bloguer da Nossa Banda teve a curiosidade e a paciência de verificar a velocidade com que as moedas de €uro se difundiam por aqui, registando os trocos recebidos no seu do dia-a-dia (no café, no supermercado, nos transportes, …).

E o que concluiu para todas as moedas e para as moedas de 1 e 2 €uros nos concelhos de Almada e Seixal figura no seguinte gráfico, no qual também constam as correspondentes evoluções teóricas de «Φ(n)», para os respectivos «Δs» verificados no final de 2002:


De acordo com estes dados, a barreira dos 50% ocorreu por volta de 2007 no caso das «moedas de 1 e 2 €uros» e por volta de 2011 no caso de «todas as moedas».

Que países estiveram representados entre as 1031 moedas registadas em 2017?


Fonte: blogue Cosmovivências (com informações suplementares do bloguer)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

[0110] Uma visita à exposição «Loulé. Territórios, Memórias, Identidades»

A exposição é assim genericamente apresentada no sítio do Museu Nacional de Arqueologia (em Lisboa), onde está patente ao público:

Loulé, no sul de Portugal, é o mais extenso concelho do Algarve, que cruza de norte a sul e da serra ao mar. Dotado de bons recursos naturais, foi habitado pelo Homem ao longo dos tempos.
A história da Arqueologia de Loulé remonta ao trabalho pioneiro de Estácio da Veiga (1828-1891), que reuniu uma coleção para constituir o Museu Arqueológico do Algarve, mas que foi incorporada no então Museu Etnográfico Português em 1894. Assim, o património de Loulé ficou para sempre ligado ao Museu Nacional de Arqueologia.
Entre o século XX e o presente, a Arqueologia foi uma prática amadurecida no território louletano e no seu museu, pela ação de vários arqueólogos envolvidos nesta exposição.
São estas as razões que unem o Museu Nacional de Arqueologia e o Museu Municipal de Loulé na organização desta mostra, inscrita numa linha de colaboração prosseguida pelo Museu Nacional com as autarquias há duas décadas.
Esta exposição assume-se como o estado da Arte da investigação arqueológica do concelho de Loulé e conta a história das comunidades que o constituíram entre a Pré-História e a Idade Média, assente nos vestígios arqueológicos e nas fontes documentais conservados nas instituições que laboriosamente constroem as memórias e as identidades de Loulé.

As comunidades que terão sucessivamente vivido neste território podem assim ser imaginadas a partir das evidências arqueológicas aí encontradas, sendo a compreensão de cada uma delas indissociável da compreensão da vida nos territórios mais castos a que estava ligada:
·      entre os 6 e os 2 mil anos antes da nossa era (tempo de sociedades camponesas), a rede de exploradores do cobre que unia o Sul de Espanha e de Portugal;
·     na Idade do Bronze (IIº Milénio a. C.) e na Idade do Ferro (Iº Milénio a. C.), a persistência dos anteriores laços, que levaram à emergência da mais antiga escrita da Península Ibérica, a escrita do Sudoeste (pelo menos a partir do séc. VI a. C.) e que indiciava a existência de influências mais longínquas (parentesco com o alfabeto fenício);
·      entre os finais do séc. II a. C. e o séc. V d. C. (tempo de integração no mundo romano), a ligação ao mundo mediterrânico;
·      entre o século V e o século VIII d. C. (com a afirmação do cristianismo e a unificação visigótica), a manutenção das ligações com o Oriente e o Norte de África;
·      entre 712 / 713 e 1248 / 1250 d. C. (tempos islâmicos), a convivência entre os mundos muçulmano, cristão e judeu;
·      e desde o séc. XIII (tempos cristãos ), a mistura da anterior convivência com nova vaga de influência vindas do Norte.

O concelho de Loulé surge, deste modo, como se fosse uma das quadrículas arqueológicas que, conforme a profundidade a que é escavada, revela ligações mais fortes ou com os mundos próximos a Leste / a Sul, ou com os mundos mais afastados do Mediterrâneo / a Norte:


Seria interessante perceber como estas sucessivas comunidades foram reproduzindo, ou transformando, até hoje, a sua língua, os seus ditos e contos, a sua poesia, as suas actividades práticas como a pesca, o artesanato e a gastronomia, mas também as plantas e os animais que as acompanharam …

Fontes: sítio do Museu Nacional de Arqueologia e folheto da exposição (Museu Nacional de Arqueologia & Museu Municipal de Loulé, 2017), que é possível aceder através da Dropbox (página «Documentos / Portugal» deste blogue)

sábado, 6 de janeiro de 2018

[0109] Exposição na Nossa Banda: «Com Conta, Peso e Medida – A Coleção do Aferidor Municipal»

Será inaugurada no dia 21 de Janeiro, pelas 15h00, no Moinho de Maré de Corroios, aí sendo visitável até 30 de Setembro de 2018, tendo sido produzida pela Ecomuseu Municipal do Seixal em parceria com o Museu de Metrologia do Instituto Português da Qualidade.


Estarão patentes nesta exposição os instrumentos metrológicos da oficina do aferidor municipal, acervo integrado no Ecomuseu Municipal do Seixal, visando contribuir para a sua salvaguarda e divulgação e para a valorização da memória colectiva.

Fonte (informação e imagem): sítio da Câmara Municipal do Seixal