segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

[0226] O arquivo da «Ephemera»


Criada em 2003, na Vila da Marmeleira, foi institucionalizada como Ephemera – Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira em 2009, estando-lhe associada, desde 2017, uma associação:


O arquivo, tal como um jornal já o definiu, é o arquivo privado mais público de Portugal, tendo como objecto principal a história contemporânea (social, cultural e política). Os documentos e materiais recolhidos têm sido reunidos na Vila da Marmeleira (concelho de Rio Maior), em Lisboa (no 1º andar da Livraria Ler Devagar, situada na Lx Factory) e no Barreiro (no Parque Empresarial situado nas instalações da antiga CUF / Quimigal), dispondo de pontos de recolha em Viana do Castelo, Porto, Lamego, Guarda, Figueira da Foz, Coimbra, Santarém e Torres Vedras.

A Associação, cujo logótipo foi concebido por Henrique Cayatte, inspirado num relógio existente no arquivo (símbolo da passagem do tempo), apresenta-se como “de âmbito cultural sem fins lucrativos”, tendo “por fim promover e patrocinar a preservação de patrimónios de carácter cultural, histórico, científico e educativo, o desenvolvimento de acções de investigação e estudo nos domínios da história, da sociologia e da literatura, bem como prosseguir a organização e manutenção do arquivo e biblioteca de José Pacheco Pereira e de todos os outros que aí sejam incorporados por compra ou doação.

Fonte: Wikipédia e blogue da Ephemera

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

[0225] Memória e História



Alguns apontamentos interessantes vindos dos intervenientes na 1ª Conferência Internacional Usos do Passado, Memória e Património Cultural (que a mensagem «0215» anunciou):

A memória não reproduz o passado. Ela tanto o lembra, como o esquece: para lembrar, é preciso esquecer, silenciar.
A memória, por um lado, responde aos desafios dos sucessivos presentes. Por outro, ela está mais virada para o futuro do que para o passado.

A memória histórica é um esforço consciente dos grupos humanos. Ela tanto pode legitimar as narrativas dominantes como contribuir para desenvolver interpretações alternativas.

É simplista distinguir a memória da história opondo-as assim, dicotomicamente:
é subjectiva e poética versus é objectiva e prosaica;
é pessoal, é de grupo versus é de todos
aceita o esquecimento versus recupera o esquecimento
vive dos factos versus determina as causas
convive com a imaginação versus afasta a imaginação.

Onde existe poder, existe resistência.

Os traumas ficam para a vida; e muitas vezes para a vida de sucessivas gerações; as memórias pós-traumáticas visam contrariar o não falemos nisso.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

[0224] A Reserva Ecológica Nacional do concelho do Seixal


A versão mais actualizada dos limites e dos conteúdos desta reserva foi estabelecida através da Portaria nº 3 de 2016 (18 de Janeiro). As suas origens remontam, no entanto, a cerca de duas décadas e meia antes.

Em 1997, numa publicação da Câmara Municipal do Seixal, o professor Manuel Lima destacou e descreveu as principais zonas que então a integravam (a tracejado no seguinte mapa):


Os mais de 733 hectares desta reserva correspondem a cerca de 8 % da área total do concelho do Seixal, sendo grandemente constituída por um contínuo de sapais, portanto marcados pelos níveis das marés que ritmam as águas do estuário do Tejo e ambiente favorável para uma grande diversidade de plantas e de animais.

A principal excepção a este contínuo é a zona dos Redondos da Catrapona, situada no interior do concelho, que se destaca pelo seu pinhal, não lhe correspondendo, também, qualquer património cultural.

O modo como os ocupantes das margens destes sapais deles tiraram proveito (e nalguns casos ainda tiram) está bem patente numa grande diversidade de evidências arqueológicas.
As águas situadas no subsolo do sapal de Corroios, as areias que cobrem a Ponta dos Corvos e os barros que se vão formando em qualquer sapal, foram, e continuam a ser hoje, recursos geológicos. E os vestígios de antigos fornos mostram uma das possíveis formas de eles serem aproveitados (um, romano, em Corroios; outro, de cal, na Azinheira).
As quintas, que por aqui foram abundantes, testemunham o trabalho da terra e a abundância dos produtos que dela se retiravam: a fruta, o azeite e o vinho. E porque nem toda esta riqueza se destinava a consumo local, existem muitos vestígios de estaleiros destinados à construção naval em madeira e de portinhos por onde chegavam as matérias primas e se escoava o que a Lisboa se destinava. E também existem os restos de diversos moinhos de maré (dois em Coina, quatro na Azinheira, quatro na Ponta dos Corvos), estando um deles (em Corroios), hoje, musealizado.
Mais recentes são as grandes estruturas que lembram o tempo em que diversas indústrias se situaram nestas bandas: para a produção de tijolos, de lanifícios e de vidros, para a preparação da cortiça (caso da Fábrica Mundet, situada à entrada do Seixal), para a seca do bacalhau (a Companhia Atlântica, na Ponta dos Corvos) e para produção de aço (a Siderurgia Nacional, em Paio Pires).

Fonte: Lima (1997)


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

[0223] Botânica e História, no renovado Jardim Botânico Tropical, de Lisboa


Fechado para obras de reabilitação durante cerca de um ano, reabriu há uma semana ao público o Jardim Botânico Tropical de Lisboa:


Em 2015 este jardim foi transferido do extinto Instituto de Investigação Científica Tropical para a Universidade de Lisboa, tendo a reabilitação de que agora foi alvo incidido especialmente no Jardim dos Cactos (inacessível desde a década de 1960) e no Jardim das Ninfas e, em geral, na repavimentação dos caminhos, na modelação do terreno, na melhoria da sinaléctica, na substituição de algumas espécies e no restabelecimento dos circuitos de água ou na modernização da rede de rega.

O Jardim dos Cactos teve origem numa estufa de plantas suculentas, cuja construção terminou em 1949; as suculentas e os cactos, ao crescerem, romperam a estufa e formaram a sua própria paisagem, levando ao encerramento da estufa ao público. Mas a actual remodelação deixou as suas ruínas parcialmente visíveis, para que possamos compreender hoje como o planeado pelo Homem interage com o decidido pela Natureza.

Entre as plantas que é possível observar, encontram-se um pinheiro australiano de grande porte, um dragoeiro do século XIX, tipuanas e sumaúmas dos trópicos, casuarinas da Oceânia, antigas espécies como as magnólias e sobretudo as cicadáceas, o Ficus sycomorus (a árvore mais citada da Bíblia), alguns sobreiros portugueses, altíssimas palmeiras e uma sequóia da Califórnia.

Os inícios históricos deste jardim estiveram na vontade do rei D. João V criar a Real Quinta de Belém, que se estenderia desde o Palácio de Belém até à Ajuda. Para tal adquiriu o Palácio dos Condes da Calheta e os terrenos anexos por 50 000 cruzados, reservando a parte superior do actual jardim para a sua regis hortus suburbanus, uma horta gigante destinada a alimentar as suas visitas e a sua família.
O terramoto de 1755 não danificou este espaço. Em 1758, dá-se nas proximidades do palácio o atentado contra o rei D. José I. ao longo de quase todo o século XIX o jardim foi usado para a realização de caçadas reais, mantendo-se o palácio disponível para acomodar as visitas reais.

No início do século XX, sendo necessário repensar o ensino agronómico colonial, foi aberto por decreto régio o Jardim Colonial de Lisboa, nas Laranjeiras, perto do então Instituto de Agronomia e Veterinária. Num «Diário do Governo» de 1906 escrevia-se sobre ele: é “indispensável o exemplar vivo para que a demonstração seja rigorosamente scientifica e educativa, para que o alumno não fique imaginando somente como são os animaes e os vegetaes, mas tenha a noção viva da realidade”. No entanto, em 1912, o Jardim Colonial de Lisboa foi transferido das Laranjeiras (onde já se revelava pequeno) para Belém, onde a proximidade ao rio, o suave declive do terreno e a capacidade de criar microclimas permitia albergar plantas originárias desde a Escandinávia até ao Equador. Funcionando como dependência pedagógica do Instituto Superior de Agronomia, situado nas proximidades, era também centro de estudo de culturas e de recolha de informação sobre a agricultura colonial. Em 1951, ainda foi designado por Jardim e Museu Agrícola do Ultramar.

Fonte: informação jornalística de Serafim (2020)

Imagem: sítio dos Museus da Universidade de Lisboa