sábado, 24 de junho de 2017

[0067] Em preparação: a Universidade Popular de Almada

Adoptando um conceito que difere do usado pelas universidades sénior ou da terceira idade, esta nova Universidade está aberta a toda a população, independentemente da sua idade e estatuto social.

Trata-se de um projeto da Academia de Cultura e Solidariedade Ramiro Freitas para “promover a educação ao longo da vida, de modo a contribuir para o desenvolvimento pessoal através de atividades nas áreas social, educativa e cultural, elevando os níveis de literacia, do conhecimento e da melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, através da realização de cursos, seminários e outras sessões de estudo, nomeadamente:
- Ciclos com aulas, com diferentes temas e periodicidades.
- Oficinas temáticas, de duração variável.
- Fórum «Pensar A Vida», ciclo de debates e de palestras.
- Centro de Estudos Temáticos: Círculo de Estudos Alentejanos (d’aquém e além Tejo) e     Círculo de Estudos da Diáspora cabo-verdiana e outras comunidades.”


quarta-feira, 21 de junho de 2017

[0066] Um homem de Almada: Romeu Correia (1917 – 1996)

A exposição “Um homem chamado Romeu Correia” foi inaugurada no Museu da Cidade de Almada no passado dia 8 de Abril, estando aí em exibição até ao próximo dia 31 de Dezembro.

Biobibliografia de Romeu Correia apresentada no sítio do Instituto Camões:

(Cacilhas, 17-11-1917 – Almada, 12-06-1996)

Romeu Henrique Correia foi um “[e]scritor de raiz autenticamente popular, arrancando os seus temas (dramáticos e narrativos) à sua experiência dos meios proletários e pequeno-burgueses da capital e da sua cintura” (Rebello 1984: 63).

Paralelamente, houve o contacto com grupos de teatro amador de Almada, propício para incentivar e consolidar “uma carreira de autor dramático que o levaria até à primeira fila do nosso teatro contemporâneo e em que se combinam habilmente elementos do teatro de fantoches e de feira, do circo, do melodrama populista e do teatro de vanguarda” (Idem, ibidem).

     Romeu Correia, sem data
     [Arquivo da Companhia de Teatro de Almada]

A crítica expressou-se de imediato em termos lisonjeiros, designando o autor como “o mais genuíno dos dramaturgos de tendência neo-realista” (Rebello apud Flores 1987: 35) e “a maior revelação teatral do neorealismo” (António José Saraiva, apud Flores, Ibidem: 19). Essa posição ficou alterada pela mudança de rumo do dramaturgo, que inicialmente se adaptou ao neorealismo com a preocupação social e pedagógica, para a seguir oscilar “entre o irreal e o vital, o imaginativo e a realidade comezinha, excepto na ‘crónica dramática e grotesca’ Bocage, que, sendo um dos belos exemplos de teatro épico em Portugal, se institui, sobretudo, como uma narrativa de visualização plástica” (Mendonça 1971: 25-26), ou então conjugando o realismo popular com elementos imaginários, recusando-se “à fixação num modelo rígido que aliás o neo-realismo não impõe” (Carlos Porto, apud Flores, Ibidem), como também expressando “os conflitos sociais integrando-os no qua há de ritual poético no melhor teatro” (Mário Sacramento, apud Flores, Ibidem: 18).
As peças de Romeu Correia revelaram-se, portanto, numa síntese formulada a posteriori, a meio caminho entre realismo e expressionismo, de que são protagonistas os humilhados que afirmam os seus sonhos de resgate, a sua luta quotidiana, as problemáticas ligadas ao seu estatuto social. Pela fusão poética destes elementos, O vagabundo das mãos de oiro recebeu o Prémio da Crítica e foi unanimemente considerada a obra-prima do dramaturgo.
Para traçar cronologicamente o percurso de Romeu Correia, é preciso recuar aos finais dos anos 30, quando começou a escrever farsas carnavalescas em 1938, sendo Razão a sua peça de estreia, representada pela primeira vez em 1940 por um grupo amador de Almada. Espetador teatral assíduo, foi sobretudo no Teatro Estúdio do Salitre que absorveu as várias tendências estéticas modernas e contemporâneas que são visíveis nas suas peças num acto: Laurinda (1949, editada no mesmo ano nas páginas da revista Vértice), As cinco vogais (1951) e Desporto rei (1955).
A imediata representação de uma das suas peças pelo Grupo de Amadores da Sociedade Guilherme Cossoul deu-lhe o estímulo para escrever Casaco de fogo (1953, publicada pela primeira vez em 1956), peça dum simbolismo expressivo que descreve a vida nos bairros pobres, e que foi levada à cena em 1953 pelo Teatro Nacional D. Maria II. Seguiram-se os três atos de Céu da minha rua, apresentados em 1955 no Teatro Maria Vitória com o título Isaura, a galinheira (que terá posteriormente uma versão televisiva), Sol na floresta (publicada em 1968 no volume Três peças de Romeu Correia juntamente com Laurinda e Céu da minha rua) e O vagabundo das mãos de oiro (1960), sendo estas últimas levadas à cena respetivamente em 1957 e em 1962 pelo Teatro Experimental do Porto (companhia que, em 1968, propôs uma nova montagem de Desporto rei).
O vagabundo das mãos de oiro, farsa poético-política em três actos, cujo espetáculo de estreia absoluta mereceu o Prémio da Crítica de Teatro, teve êxito também junto dos leitores, tendo sido objeto de várias reedições, bem como de traduções para alemão (foi incluída na antologia organizada por José Luís de Freitas Branco, Dialog Stücke aus Portugal: Santareno, Coutinho, Rebello, Correia, Berlim, 1978) e italiano (na antologia abaixo referida, Teatro portoghese de XX secolo, Roma, 2001).
Se o texto seguinte, Jangada (1962, farsa em dois atos apresentada em 1966 no Teatro Villaret pela Companhia Portuguesa de Comediantes), se concentrava nos preconceitos e conflitos geracionais, em Bocage (1965) detetavam-se elementos das teorias brechtianas, inseridos através da parábola do poeta maldito que deu o título à peça, tornando-se emblema da decadência de uma época. A produção completa de Romeu Correia conta ainda com Amor de perdição (1966) “glosa dramática” redigida por encomenda a partir do romance homónimo de Camilo Castelo Branco; O cravo espanhol (1969, representada em 1970 no Teatro Capitólio), com tema etnográfico; Roberta (1971, levada à cena pelo Teatro Estúdio do Barreiro em 1972, distinguida no mesmo ano com o Prémio da Casa da Imprensa e produzida em versão televisiva transmitida pela RTP em 1977), inspirada nas antigas feiras e nos tradicionais robertos, marionetas que aqui encarnam tipos humanos; A vaga (1977); Grito no Outono (1980); As quatro estações (1980, encomendada pela Secretaria de Estado da Cultura e redigida para a televisão), empenhada na defesa dos direitos dos grupos socialmente excluídos e marginais; Tempos difíceis (1982, levada à cena no mesmo ano pelo Grupo de Teatro de Campolide), inicialmente intitulada Rectaguarda, baseada nos acontecimentos que, em 1958, envolviam a candidatura às eleições presidenciais do general Humberto Delgado, e as esperanças de renovação por parte dos progressistas que o apoiavam; O andarilho das sete partidas (1983), sátira comemorativa do IV centenário da morte do navegador Fernão Mendes Pinto pelas evocações as suas façanhas; A palmatória (1995), farsa trágica sobre a figura do poeta satírico setecentista Nicolau Tolentino.
Para além da edição de alguns volumes de narrativa e de contribuições variadas dispersas na imprensa periódica, recorde-se a sua adaptação teatral, redigida por encomenda em 1968 e inédita, do romance A rosa do adro (1870), de Manuel Maria Rodrigues. Em 1984 recebe o "Prémio de Teatro 25 de Abril" atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.
* Este texto é a versão revista e em português da ficha bio-bibliográfica de Romeu Correia editada in: Sebastiana Fadda (a cura di), Teatro portoghese del XX secolo, Roma, Bulzoni Editore, 2001. Desta antologia faz parte a peça Il vagabondo dalle mani d’oro.

Romeu Correia foi ainda conhecido como desportista e cidadão.

Fontes na internet: Museu da Cidade de Almada; Instituto Camões

sexta-feira, 16 de junho de 2017

[0065] 20 de Junho, Dia Mundial dos Refugiados

Em 2000 as Nações Unidas alargaram o Dia do Refugiado Africano para Dia Mundial dos Refugiados, celebrando-o desde 2001.

A história tem persistentemente gerado refugiados, que a nossa cultura refere:


Mostrando como o passado pode servir para reflectir o presente, e o presente para interpretar o passado, Neil MacGregor, director do Museu Britânico, pediu a Lorde Ashdown para comentar os relevos de Lachish (que contam uma história de guerra e de refugiados na Judeia dos finais do século VIII a. C.):

Vi campos de refugiados por todos os Balcãs e, francamente, nunca consegui evitar que as lágrimas me viessem aos olhos, porque o que via era a minha irmã, a minha mãe, a minha mulher e os meus filhos. Vi sérvios expulsos por bósnios, e bósnios expulsos por croatas, croatas expulsos por sérvios e por aí adiante. Vi ainda o mais infame de tudo, os refugiados ciganos, um grande campo de refugiados, talvez 40 a 50 mil, a cargo do meu exército, a NATO. E ficámos a olhar enquanto as suas casas eram queimadas e eles eram expulsos dos seus lares. E isso fez-me sentir não só desesperadamente triste, mas também envergonhado. O que é verdade, e o relevo [de Lachish] mostra, é, em certo sentido, o carácter imutável e inalterável da guerra. Há sempre guerras, há sempre mortes, há sempre refugiados. Os refugiados são uma espécie de destroços e carga deitada ao mar. São abandonados quando a guerra termina.

Fonte bibliográfica: Lorde Ashdown, citado por MacGregor (2014; p. 145)
Fotografia: Eva Maria Blum

terça-feira, 13 de junho de 2017

[0064] A obesidade dos nossos adolescentes

As imagens que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu da obesidade dos nossos adolescentes, em 2002 e em 2014, não eram boas: os nossos jovens aos 11, aos 13 e aos 15 anos estavam, e continuam a estar, entre os europeus mais obesos.

Em ambos os anos, os nossos jovens obesos seriam cerca de 5%:


As culpas são atribuídas à má alimentação e à reduzida actividade física. E as previsões para o futuro não são boas: cerca de 4 em 5 dos jovens obesos não superarão a obesidade e tal gerará problemas cardiovasculares, respiratórios, mentais e com a diabetes.


Fonte jornalística: Borja-Santos (2017), que se baseia no relatório «Adolescent obesity and related behaviours: trends and inequalities in the WHO European Region, 2002-2014» da OMS

sexta-feira, 9 de junho de 2017

quinta-feira, 8 de junho de 2017

[0062] A exposição «Na rota do progresso: a indústria naval em Almada»

Breve memória visual de uma visita à exposição permanente do Museu Naval de Almada:

Vista geral

     Traçado de peças em verdadeira grandeza
     (Sala do Risco, no Arsenal do Alfeite)

Traçado de peças em verdadeira grandeza

Traçado de peças em verdadeira grandeza     
(Sala do Risco, no Arsenal do Alfeite)     

O período tecnológico a que a Sala do Risco corresponde situa-se entre aquele em que o conhecimento estava na cabeça dos artesãos da construção em madeira e o actual, em que o conhecimento foi concentrado nos meios computacionais.

Este museu é acessível: ou a partir de Cacilhas, seguindo a pé pelo Ginjal até pouco depois do elevador panorâmico; ou a partir de Almada Velha, passando pela Boca de Vento e descendo até à beira Tejo pelo elevador panorâmico.

Fotografias: Eva Maria Blum (em Setembro de 2012); as duas últimas são fotografias de fotografias (e a penúltima foi entretanto retirada da exposição)

domingo, 4 de junho de 2017

[0061] 8 de Junho, Dia Mundial dos Oceanos

Embora as raízes deste dia sejam mais antigas, ele foi adoptado, desde 2009, pelas Nações Unidas. O tema proposto para este ano é: «Os nossos Oceanos, o nosso Futuro».

Há uns anos atrás foi muito divulgado um dos problemas que todos os oceanos têm: o lixo que neles acumula e se vai concentrando em grandes ilhas.

O jornalista José Vítor Malheiros contou como tinha tomado conhecimento da ilha de lixo do Pacífico:

A ilha foi descoberta por um conhecido oceanógrafo californiano, Charles J. Moore, em 1997, quando regressava de uma regata Los Angeles-Havai a bordo do seu catamarã e tem a particularidade de ser uma ilha onde não se pode desembarcar porque é formada de plástico flutuante. O nome oficial é Great Pacific Garbage Patch (ou Grande Extensão de Lixo do Pacífico), mas é mais conhecida pelo nome de «Ilha de Lixo do Pacífico».

E prosseguiu assim:

Dizer que a ilha é feita de lixo não é rigoroso. Na realidade, é feita de plástico - o outro lixo ou se degrada ou se afunda. E dizer que se trata de uma ilha também é incorrecto, porque não se pode dizer exactamente quais são as suas fronteiras. Na realidade, é uma imensa extensão onde existe uma imensa quantidade de pedaços de plástico em suspensão, desde pedaços de embalagens de champô, cápsulas de garrafas, pedaços de brinquedos e bocados de redes de pesca até pedaços microscópicos, invisíveis a olho nu. O plástico desfaz-se, em pedacinhos cada vez mais pequenos, mas não se degrada e vai entrando na cadeia alimentar. Nalguns casos, mata imediatamente os animais que os ingerem ou que se enredam neles. Noutros casos mata-os lentamente, obstruindo vias respiratórias, tubos digestivos, acumulando-se no seu estômago e intestinos, intoxicando-os lentamente.
A Grande Ilha de Lixo tem, diz-se, o tamanho do Texas (os americanos acham que tudo o que é grande é como o Texas). Ou talvez mesmo o tamanho dos Estados Unidos. Mas ninguém sabe ao certo.


Um outro jornalista, Nicolau Ferreira, referiu uma outra concentração de plástico nos mares, desta vez no oceano Atlântico, onde a sua dimensão é particularmente grande entre as ilhas Bermudas e a América do Norte.

Fontes bibliográficas: Ferreira (2010); Malheiros (2010)
Fontes das imagens: www.worldoceanday.org/