Num artigo sobre os arquivos escolares publicado na revista
«Sísifo» (já referido na mensagem «0025» deste blogue), é mencionado um “levantamento efectuado em 1996, sob a coordenação de António
Nóvoa”, através do qual se “demonstrou que o
estado de conservação da documentação de arquivo nas escolas secundárias
portuguesas” se podia considerar “maioritariamente
razoável”, pois, entre as instituições analisadas, 72,3 % se situavam
nesse nível, seguindo-se-lhe 11,5 % em nível bom e 10,3 % em mau estado, não
havendo informação sobre outras 5,7 %.
No entanto, conforme acrescentou a autora deste artigo, Maria
João Mogarro, António Nóvoa encarou com preocupação este “«razoável estado de conservação da documentação»”,
dado que ele poderá “«ser posto em causa a curto prazo,
já que a capacidade de acondicionamento por parte da maioria das escolas é cada
vez menor, […] uma vez que a capacidade de armazenamento de nova documentação é
nula em cerca de metade das escolas e muito reduzida nas restantes»”, o
que facilmente intensificará “«dois fenómenos negativos»”
usuais nestas circunstâncias: “«a eliminação desregrada
ou a manutenção desorganizada ou pulverizada dos mesmos»”.
Um quarto de século após este levantamento, qual será o
estado de conservação dos arquivos das nossas escolas?
Segundo Maria João Mogarro, os «arquivos escolares» são uma
fonte privilegiada para o estudo das «culturas escolares».
“Constituída por um conjunto de
teorias, saberes, ideias e princípios, normas, regras, rituais, rotinas,
hábitos e práticas, a cultura escolar, na sua acepção mais lata, remete-nos
também para as formas de fazer e de pensar, para os comportamentos,
sedimentados ao longo do tempo e que se apresentam como tradições,
regularidades e regras, mais subentendidas que expressas, as quais são
partilhadas pelos actores educativos no seio das instituições. Os traços
característicos da cultura escolar (continuidade, persistência,
institucionalização e relativa autonomia) permitem-lhe gerar produtos, que lhe
dão a configuração de uma cultura independente. Esta cultura constitui um
substrato formado, ao longo do tempo, por camadas mais entrelaçadas que
sobrepostas, que importa separar e analisar. O exercício do arquivo tem um
espaço importante neste processo historiográfico de investigação sobre a
cultura escolar. Constituído fundamentalmente por documentos escritos, o
arquivo ocupa um lugar central que decorre da directa relação da escola com o
universo da cultura escrita. A escrita tem, ela própria, uma posição de grande
centralidade no quotidiano escolar (na gestão administrativa, nas relações
pedagógicas, na construção de saberes, nas relações sociais), estando presente
em toda a vida da instituição. É esta íntima relação que o arquivo reflecte, na
materialidade dos seus documentos e de forma mais consistente e lógica que os outros
espólios, compreendendo-se assim o lugar central que ocupa na vida e na
história da escola.”
Os documentos de arquivo permitem, a quem investiga as
culturas escolares, desenvolver uma grande diversidade de investigações:
Mas, sob o ponto de vista dos
«actores escolares», a que «documentos» das suas antigas práticas gostarão eles
de aceder e que «memórias» e «reflexões» quererão eles construir a partir
deles?
O artigo de Maria João Mogarro está acessível a partir da página «Documentos» deste blogue, clicando aí em «Documentos sobre Portugal».
Fonte: artigo de Mogarro na revista «Sísifo» (2006)
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