domingo, 20 de junho de 2021

[0289] Os arquivos escolares

Num artigo sobre os arquivos escolares publicado na revista «Sísifo» (já referido na mensagem «0025» deste blogue), é mencionado um “levantamento efectuado em 1996, sob a coordenação de António Nóvoa”, através do qual se “demonstrou que o estado de conservação da documentação de arquivo nas escolas secundárias portuguesas” se podia considerar “maioritariamente razoável”, pois, entre as instituições analisadas, 72,3 % se situavam nesse nível, seguindo-se-lhe 11,5 % em nível bom e 10,3 % em mau estado, não havendo informação sobre outras 5,7 %.
No entanto, conforme acrescentou a autora deste artigo, Maria João Mogarro, António Nóvoa encarou com preocupação este “«razoável estado de conservação da documentação»”, dado que ele poderá “«ser posto em causa a curto prazo, já que a capacidade de acondicionamento por parte da maioria das escolas é cada vez menor, […] uma vez que a capacidade de armazenamento de nova documentação é nula em cerca de metade das escolas e muito reduzida nas restantes»”, o que facilmente intensificará “«dois fenómenos negativos»” usuais nestas circunstâncias: “«a eliminação desregrada ou a manutenção desorganizada ou pulverizada dos mesmos»”.

Um quarto de século após este levantamento, qual será o estado de conservação dos arquivos das nossas escolas?

Segundo Maria João Mogarro, os «arquivos escolares» são uma fonte privilegiada para o estudo das «culturas escolares».
Constituída por um conjunto de teorias, saberes, ideias e princípios, normas, regras, rituais, rotinas, hábitos e práticas, a cultura escolar, na sua acepção mais lata, remete-nos também para as formas de fazer e de pensar, para os comportamentos, sedimentados ao longo do tempo e que se apresentam como tradições, regularidades e regras, mais subentendidas que expressas, as quais são partilhadas pelos actores educativos no seio das instituições. Os traços característicos da cultura escolar (continuidade, persistência, institucionalização e relativa autonomia) permitem-lhe gerar produtos, que lhe dão a configuração de uma cultura independente. Esta cultura constitui um substrato formado, ao longo do tempo, por camadas mais entrelaçadas que sobrepostas, que importa separar e analisar. O exercício do arquivo tem um espaço importante neste processo historiográfico de investigação sobre a cultura escolar. Constituído fundamentalmente por documentos escritos, o arquivo ocupa um lugar central que decorre da directa relação da escola com o universo da cultura escrita. A escrita tem, ela própria, uma posição de grande centralidade no quotidiano escolar (na gestão administrativa, nas relações pedagógicas, na construção de saberes, nas relações sociais), estando presente em toda a vida da instituição. É esta íntima relação que o arquivo reflecte, na materialidade dos seus documentos e de forma mais consistente e lógica que os outros espólios, compreendendo-se assim o lugar central que ocupa na vida e na história da escola.

Os documentos de arquivo permitem, a quem investiga as culturas escolares, desenvolver uma grande diversidade de investigações:



Mas, sob o ponto de vista dos «actores escolares», a que «documentos» das suas antigas práticas gostarão eles de aceder e que «memórias» e «reflexões» quererão eles construir a partir deles?

 

O artigo de Maria João Mogarro está acessível a partir da página «Documentos» deste blogue, clicando aí em «Documentos sobre Portugal».

 

Fonte: artigo de Mogarro na revista «Sísifo» (2006)

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