quarta-feira, 9 de outubro de 2019

[0207] A importância do «Sínodo para a Amazónia»


A Amazónia tem mais de 7 milhões de quilómetros quadrados e abrange oito países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) e um território ultramarino (Guiana Francesa).
Para evidenciar a importância ecológica deste território, somos usualmente lembrados das magnitudes da sua biodiversidade (30 a 50 % da flora e da fauna do planeta), da água doce que permanentemente o cruza (cerca de 20 % da não congelada), das florestas primárias que possui (mais de um terço das mundiais) e do seu papel na captação de carbono (apesar de os oceanos serem o mais significativo).

A ocupação humana da Amazónia começou há mais de dez mil anos. Até há cerca de 500 anos, a sobrevivência dos povos que aí se instalaram baseava-se na recolecção, na caça, na pesca e no cultivo, tendo as margens dos grandes rios e lagos sido privilegiadas.
Com a chegada dos colonos europeus (especialmente portugueses e espanhóis), e com a escravização dos indígenas, muitos dos povos locais refugiaram-se no interior da floresta, pelo que a primeira fase da colonização implicou uma substituição das populações que viviam junto à água.

Desde há algumas décadas, tanto as florestas como os rios da Amazónia estão ameaçados por grandes interesses agrários e mineiros, que desflorestam a selva e contaminam as águas, e também pelo narcotráfico. Consequentemente, as cidades da Amazónia têm crescido muito depressa, integrando muitos migrantes, na maioria indígenas e afrodescendentes, expulsos pelos madeireiros, pela mineração ilegal e legal ou pela indústria de extração petrolífera. Actualmente, entre 70 e 80% da população da Amazónia vive nas cidades, sofrendo os menos favorecidos de diversas formas de exclusão e exploração (incluindo o tráfico humano).
A profunda crise que a Amazónia atravessa é, portanto, ambiental e social. Quinhentos anos depois do início da colonização e duzentos anos após a independência dos países amazónicos, existe hoje um novo colonialismo que, frequentemente, se veste com a máscara de progresso.

Nos nove países que integram a Amazónia, existem, aproximadamente, três milhões de indígenas, correspondendo a cerca de 390 povos e nacionalidades diferentes. Há, ainda, entre 110 e 130 “povos livres”, ou “Povos Indígenas em Situação de Isolamento Voluntário”. Cada um destes povos representa uma identidade cultural particular, uma riqueza histórica específica e um modo próprio de ver o mundo, e de relacionar-se com este, a partir de sua cosmovisão e territorialidade específica.
Alguns “não indígenas” têm dificuldade para compreender a alteridade indígena e, muitas vezes, não respeitam a diferença do outro.
Nos últimos anos, os povos indígenas começaram a escrever a sua própria história e a descrever de maneira formal as suas culturas, costumes, tradições e saberes. Escreveram sobre o ensino que receberam da parte de seus antepassados, pais e avós, que são memórias pessoais e colectivas. Hoje, ser indígena não se deduz somente da pertença étnica. Esse ser também se refere à capacidade de manter a identidade sem se isolar das sociedades que o rodeiam e com as quais interage.


O Sínodo para a Amazónia foi anunciado pelo Papa Francisco em 2017 e será realizado este mês, visando trabalhar para e com aqueles que aí vivem: habitantes de comunidades e zonas rurais, de cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, migrantes e deslocados e, especialmente, os povos indígenas.

Fonte: “Documento preparatório do Sínodo para a Amazônia”, acessível no sítio do Vaticano

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