A Amazónia tem mais de 7 milhões de quilómetros quadrados e abrange
oito países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador,
Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) e um território ultramarino (Guiana
Francesa).
Para evidenciar a importância
ecológica deste território, somos usualmente lembrados das magnitudes da sua biodiversidade
(30 a 50 % da flora e da fauna do planeta), da água doce que permanentemente o
cruza (cerca de 20 % da não congelada), das florestas primárias que possui
(mais de um terço das mundiais) e do seu papel na captação de carbono (apesar
de os oceanos serem o mais significativo).
A ocupação humana da Amazónia
começou há mais de dez mil anos. Até há cerca de 500 anos, a sobrevivência dos
povos que aí se instalaram baseava-se na recolecção, na caça, na pesca e no cultivo,
tendo as margens dos grandes rios e lagos sido privilegiadas.
Com a chegada dos colonos
europeus (especialmente portugueses e espanhóis), e com a escravização dos
indígenas, muitos dos povos locais refugiaram-se no interior da floresta, pelo
que a primeira fase da colonização implicou uma substituição das populações que
viviam junto à água.
Desde há algumas décadas, tanto
as florestas como os rios da Amazónia estão ameaçados por grandes interesses agrários
e mineiros, que desflorestam a selva e contaminam as águas, e também pelo
narcotráfico. Consequentemente, as cidades da Amazónia têm crescido muito
depressa, integrando muitos migrantes, na maioria indígenas e afrodescendentes,
expulsos pelos madeireiros, pela mineração ilegal e legal ou pela indústria de
extração petrolífera. Actualmente, entre 70 e 80% da população da Amazónia vive nas cidades, sofrendo os menos favorecidos de diversas formas de
exclusão e exploração (incluindo o tráfico humano).
A profunda crise que a Amazónia atravessa
é, portanto, ambiental e social. Quinhentos anos depois do início da
colonização e duzentos anos após a independência dos países amazónicos, existe
hoje um novo colonialismo que, frequentemente, se veste com a máscara de
progresso.
Nos nove países que integram a Amazónia,
existem, aproximadamente, três milhões de indígenas, correspondendo a cerca de
390 povos e nacionalidades diferentes. Há, ainda, entre 110 e 130 “povos
livres”, ou “Povos Indígenas em Situação de Isolamento Voluntário”. Cada um
destes povos representa uma identidade cultural particular, uma riqueza
histórica específica e um modo próprio de ver o mundo, e de relacionar-se com
este, a partir de sua cosmovisão e territorialidade específica.
Alguns “não indígenas” têm dificuldade
para compreender a alteridade indígena e, muitas vezes, não respeitam a
diferença do outro.
Nos últimos anos, os povos indígenas começaram a escrever a sua
própria história e a descrever de
maneira formal as suas culturas, costumes, tradições e saberes. Escreveram
sobre o ensino que receberam da parte de seus antepassados, pais e avós, que
são memórias pessoais e colectivas. Hoje, ser indígena não se deduz somente da
pertença étnica. Esse ser também se refere à capacidade de manter a identidade
sem se isolar das sociedades que o rodeiam e com as quais interage.
O Sínodo para a Amazónia foi anunciado pelo Papa Francisco
em 2017 e será realizado este mês, visando trabalhar
para e com aqueles que aí vivem: habitantes de comunidades e zonas rurais, de
cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, migrantes e deslocados e,
especialmente, os povos indígenas.
Fonte: “Documento
preparatório do Sínodo para a Amazônia”, acessível no sítio do Vaticano
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