domingo, 25 de julho de 2021

[0294] A longa vida do Xadrez

No dia 20 de Julho comemorou-se o Dia Mundial do Xadrez.


Considera-se que o Xadrez teve origem num outro jogo, o Chaturanga, jogado na Índia por volta do século VI da era actual. Ao chegar à Pérsia, este jogo foi aí transformado em Xadrez, sendo depois difundido até à Europa:

Na seguinte ilustração, patente no Libro de los juegos (um manuscrito encomendado por Afonso X, o Sábio, rei de Castela, Leão e Galiza entre 1252 e 1284), vemos dois homens disputando uma partida de Xadrez perante um nobre:


Na transição para a Idade Moderna, como consequência das profundas mudanças sociais que estavam a ocorrer, as regras do Xadrez tornaram-se mais dinâmicas, tal como Bertolt Brecht descreve numa cena de Vida de Galileu, passada em 1616:
GALILEU (para os secretários que estão a jogar xadrez): Como podem continuar a jogar xadrez à moda antiga? Agora joga-se assim: as figuras maiores podem percorrer todos os campos. A torre anda assim (mostra como se faz). Tem-se espaço à vontade e podem-se fazer planos.

Com a continuação dos tempos, o Xadrez tornou-se um jogo despido de elementos não racionais, como se depreende do modo como o escritor Stefan Zweig o comenta: no “xadrez, jogo exclusivamente de cálculo, isento de todo o azar”, o “atractivo […] consiste unicamente no facto de a sua estratégia se desenvolver diversamente em dois cérebros diferentes”.

Esta visão do Xadrez como actividade puramente racional está também presente na pintura, na escultura e no cinema. Maria Helena Vieira da Silva, por exemplo, em A Partida de Xadrez (1943; 81 x 100 cm), incorpora este jogo num ambiente que se adivinha estar igualmente estruturado por uma racionalidade estrita:


Hoje, há países em que a aprendizagem do Xadrez faz parte dos currículos oficiais. Não é o caso de Portugal, embora algumas escolas o tenham adoptado: na Escola 31 de Janeiro, situada na Parede (concelho de Cascais), “o xadrez é uma disciplina como todas as outras, de frequência obrigatória e com direito a programa e avaliação”.

Para o director desta escola, Vítor Rodrigues, “A partir de três, quatro anos de experiência, estes alunos já têm uma grande capacidade de concentração e conseguem ficar três horas a jogar”.

Fontes: livros de Brecht (1970; pp. 100-101), de Pastoureau (2016; pp. 227-228) e de Zweig (1974, pp. 74-75); artigo de Leiria (2007)

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