sábado, 19 de janeiro de 2019

[0174] A educação: num mundo que sai de um paradigma e não sabe em qual entrará


Entrevistado por João Céu e Silva, o filósofo José Gil fez os seguintes dois comentários relacionados sobre a educação:

Fotografia (inserida na entrevista) de Reinaldo Rodrigues / Global Imagens

João Céu da Silva:
O passado mostrado pela arte e pela cultura tem vindo a ser suplantado pela preocupação com a situação financeira e económica. Os pilares da educação mudaram?
José Gil:
Não é só a questão económica, o que se passa é, repito, uma erosão de tudo o que é a tradição. O passado está a ser engavetado, digitalizado e virtualizado, e cada vez menos lhe atribuímos uma realidade com peso. O passado é cada vez mais uma imagem que se transforma numa coleção de imagens enquanto objetos de consumo, apesar de não informarem nem sedimentarem a nossa pessoa e cada vez menos os comportamentos sociais. Um aluno sabe cada vez menos sobre o passado, nem lhe interessa saber, e isso é terrível, pois há uma erosão que vem da transformação do valor da realidade do passado e da transmissão pela tecnologia que traduz tudo em imagem. Tudo isso é metabolizado e instrumentalizado pelo capitalismo, que só conta cada vez mais com o que gera uma mais-valia.

João Céu da Silva:
Como é que se confronta pessoalmente com esta mudança de paradigmas?
José Gil:
Não acho que haja mudança de paradigma, porque tal não existe para o nosso presente. Estamos a mudar de paradigma sem que tenhamos aquele para o qual queremos mudar. Isto em tudo, como é o caso da educação para a cidadania. Havia antes uma educação para a transmissão e acumulação na área das humanidades, agora é o da cidadania. O que é que os professores vão ensinar? E como vão formar turmas tumultuosas. Isto é uma coisa ridícula, porque quando não se dão meios nem se preparam os professores para a cidadania não há formação possível: ou seja, não há paradigma, tanto mais que a questão da cidadania leva a ponderar questões totais na sociedade.

Fonte: Gil, entrevistado por Silva (2019)



Sem comentários:

Enviar um comentário