Estão actualmente em exposição, no
terreiro em frente ao Moinho de Maré de Corroios, as ilustrações com que Carlos Xavier Varela Pita descreve a
Natureza que aí nos envolve. Tratando-se do trabalho desenvolvido no âmbito de
um Mestrado em Ilustração Científica, foi possível consultar, no correspondente
Relatório de Estágio, o modo como o Sapal de Corroios foi entendido:
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Sapal de Corroios |
A zona denominada Sapal de
Corroios é uma extensa área de sapal salgado, com aproximadamente 143 hectares,
localizada no concelho do Seixal, na zona ocidental da baía com o mesmo nome […]. É considerada a
zona húmida mais bem conservada do estuário do Tejo, a sul de Alcochete, sendo
considerada Domínio Público Hídrico, e incluída na Reserva Ecológica Nacional
(REN). […] Do
ponto de vista geológico e morfológico, o sapal desenvolve-se sobre sedimentos
essencialmente vasosos e é cortado por numerosos canais meandrizados, que se
bifurcam e recombinam, apresentando, por vezes, um padrão ramificado. Os canais
de maré dos sapais não são formas erosivas, mas formas que resultam da
deposição de sedimentos, lateral e verticalmente, nos bancos de vaza que os
confinam […].
Os sapais são ecossistemas que incluem vegetação halófita (plantas tolerantes à
salinidade), apresentando zonamento característico determinado pelo tempo de
imersão. A vegetação é um fator condicionante da evolução do sapal, sendo os
seus sistemas radiculares e estruturas aéreas importantes na fixação de
material em suspensão, contribuindo para a estabilização do solo (materiais lodosos)
[…]. A baía do
Seixal, na qual se inclui o Sapal de Corroios, apresenta uma variedade e
abundância de vida selvagem que contrasta com as áreas circundantes,
intensamente urbanizadas e transformadas pelo homem. […] Esta região é
particularmente importante para as aves migradoras, principalmente para as
espécies invernantes. Durante os meses de inverno procuram abrigo e alimento no
Sapal de Corroios largos milhares de aves, constituindo um ponto de elevado
interesse ornitológico […]. Nas áreas de lodo que ficam a descoberto durante a maré
vazia, é possível observar um grande número de espécies de aves, com destaque
para as aves do grupo das “laro limícolas”, enquanto que
durante a maré cheia, as manchas de vegetação que permanecem emersas
proporcionam refúgio a várias aves aquáticas […].
Apesar de se encontrar no meio de uma zona fortemente edificada, o Sapal de
Corroios é um bom local para observar diversas espécies de aves aquáticas, com
destaque para as limícolas. Um dos melhores locais de observação situa-se junto
ao Moinho de Maré de Corroios, especialmente durante a maré baixa […]. A zona adjacente
ao sapal, e o próprio sapal durante a maré alta, assumem bastante relevância
enquanto área de alimentação e abrigo para várias espécies de peixes que
utilizam o estuário como área de viveiro, bem como para espécies residentes,
sendo um local particularmente importante para espécies piscícolas
detritívoras. Na baía ocorrem ainda várias espécies de invertebrados, que
assumem um papel importante na cadeia trófica, servindo de alimento a várias
espécies de aves e peixes.
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Morraça; Gramata-branca;
Gramata |
Devido às condições adversas de
salinidade encontradas nos sapais, estes apresentam uma baixa diversidade
florística, sendo esta limitada quase exclusivamente às espécies halófitas, que
se encontram bem adaptadas do ponto de vista morfológico e fisiológico ao habitat peculiar que colonizam. Segundo
o “Estudo de Investigação, Caracterização e Valorização Ambiental da Baía Do
Seixal” realizado pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, realizado em 2011 […],
as plantas halófitas mais abundantes no Sapal de
Corroios distribuem-se por nove géneros e cinco famílias (Chenopodeaceae, representada por 6 géneros e Asteraceae, Poaceae, Polygonaceae e Juncaceae com um género cada). Destas, as espécies mais abundantes
são Halimione portulacoides e Sarcocornia fruticosa, duas espécies da
família Chenopodeaceae, ocupando cada
uma cerca de 1/3 da área total de sapal inventariada. Em termos de ocupação no
sapal, a espécie pioneira da família Poaceae,
Spartina maritima, é a terceira mais
abundante, ocupando cerca de 12% da cobertura total. No entanto, outras
espécies halófitas podem ser encontradas, e depois outras espécies halófitas
com menor expressão como, por exemplo: Polygonum
maritimum (Polygonaceae), Atriplex halimus (Chenopodeaceae), Juncus
maritimus (Juncaceae), Inula chritmoides (Asteraceae) e Suaeda vera
(Chenopodeaceae).
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Mainá-de-crista; Guincho
Fuinha-dos-juncos; Flamingo
Garça-real; Alfaiate; Pernilongo; Maçarico-de-bico-direito; Borrelho-grande-de-coleira;
Perna-vermelha; Pato-real |
A zona do Sapal de Corroios, bem
como a restante baía do Seixal, apresenta uma grande diversidade da avifauna.
Com efeito, Hélder Costa […] e o sítio da internet “Aves de Portugal” […], referenciam o
Moinho de Corroios e a Ponta dos Corvos como locais preferenciais para
observação de aves na vizinhança de Lisboa. O número de espécies que podem ser
avistadas é substancial. De facto, Hélder Costa […]
contabiliza a identificação de 118 espécies entre
2006 e 2009, enquanto que Manuel Lima […]
refere a ocorrência de 94 espécies na zona da Baía
do Seixal. De acordo com o “Estudo de Investigação, Caracterização e
Valorização Ambiental da Baía Do Seixal” realizado pelo Centro de Oceanografia
da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizado em 2011 […], as aves
observadas na área da Baía do Seixal pertencem maioritariamente ao grupo das
chamadas “laro limícolas”, aves de hábitos
aquáticos, que inclui um grande número de espécies das famílias Charadriidae (vulgarmente designadas
“borrelhos”), Scolopacidae (“pilritos”
ou “maçaricos”) e Laridae
(“gaivotas”). Em complemento às “laro-límicolas”, podem ainda ser observadas na
Baía do Seixal aves das famílias Anatidae
(“patos”), Phalacrocoracidae
(“corvos-marinhos”), Ardeidae
(“garças”), Threskiornithidae
(“colhereiros”), Phoenicopteridae
(“flamingos”), e ainda das famílias Recurvirostridae
(“pernilongos” e “alfaiates”) e Sternidae
(“gaivinas”) […]. A maioria destas espécies é migradora, e os números de
indivíduos encontrados na Baía do Seixal e no Sapal de Corroios demonstram-no, aumentando
significativamente durante os meses de inverno. De facto, a chegada dos
primeiros migradores desta fauna “invernante” começa no final do verão,
geralmente a partir do mês de agosto. Daí em diante o número de indivíduos vai
aumentando, e cresce mais rapidamente a partir de novembro, até atingir os
valores máximos anuais em janeiro. As espécies deste grupo ainda se mantêm na
área durante o mês de fevereiro, começando em março a sua partida para norte.
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Tainha-fataça; Enguia
Cavalo-marinho
Charroco; Caboz-comum |
De acordo o “Estudo de
Investigação, Caracterização e Valorização Ambiental da Baía Do Seixal”
realizado pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa, realizado em 2011 […], foi documentado um total de 20 espécies piscícolas na
Baía do Seixal. Embora possam ser encontradas algumas espécies que usam a baía
como áreas de viveiro, como os linguados, o robalo-legítimo e vários
esparídeos, a ictiofauna da zona é dominada por duas espécies residentes, o
charroco e o caboz-comum. Por outro lado, a ocorrência na Baía do Seixal de
diversas espécies de singnatídeos, e de cavalos-marinhos em particular,
constitui uma indicação da qualidade ambiental da zona, uma vez que estes
peixes são considerados bastante sensíveis à degradação do ambiente em que se
inserem. Merece destaque ainda a presença da enguia, espécie que atualmente se
encontra ameaçada em toda a área de distribuição. Alguns peixes residentes no
estuário do Tejo utilizam a Baía do Seixal como habitat de reprodução, como são
os casos dos cabozes, singnatídeos, peixe-rei-do-Mediterrâneo e charroco. A tainha-liça,
a tainha-garrento, o robalo-legítimo, os esparídeos e os linguados utilizam o
estuário como local de viveiro. Os migradores catádromos encontram-se
representados no local pela enguia e pela tainha-fataça.
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Camarão-negro; Cranguejo-verde
Choco; Amêijoa-japonesa |
No que respeita aos
invertebrados aquáticos, o estudo realizado pelo COFCUL […] identificou a
ocorrência de nove espécies de crustáceos decápodes, sendo que as mais bem
representadas na Baía do Seixal são o camarão-negro (Crangon crangon) e o caranguejo-verde (Carcinus maenas). É ainda de destacar o choco-vulgar (Sepia officinalis), a espécie de
cefalópode mais abundante (a outra espécie identificada é o
chopito-anão-orelhudo, Sepiola atlântica)
que se reproduz na Baía e é uma das espécies ali pescadas. Das inúmeras
espécies de invertebrados que colonizam as vazas lodosas das zonas intertidais
(isópodes, gastrópodes, anfípodes, poliquetas e bivalves), merece destaque a
ameijoa-japonesa (Ruditapes
phillippinarum), espécie exótica que proliferou com grande abundância e é
apreciada pelos mariscadores da região.
Fontes: PDF de Pita (2013; texto, nas pp. 8-12; e imagens, no Apêndice)