domingo, 21 de novembro de 2021

[0311] Três mil anos de história de Almada em exposição

Inaugurada há dias, está patente na Casa da Cidade a exposição permanente Entre dois mares e um rio. Almada, 3 mil anos de história.

A história é bem mais longa do que os «três mil anos» sugerem, pois a ocupação humana desde o Paleolítico está bem documentada. Mas a exposição privilegia os momentos em que ocorreram grandes transformações. E o primeiro aconteceu entre os séculos VIII a IV a. C., estando testemunhado na estação arqueológica de Almaraz, entendida como o Prelúdio de uma Cidade: mercadores e navegadores fenícios trouxeram o alfabeto, a roda de oleiro, o fabrico de pasta vítrea, o trabalho do ferro e os planos ortogonais na arquitectura. Esta dinâmica esmorece a partir do século V a. C., provavelmente a favor do que se passava na margem Norte do Tejo.

Cena ribeirinha conjecturada junto a Almaraz (Iº milénio a. C.)

Os séculos I a V d. C. colocaram este território Nos confins do Império Romano. O Baixo Tejo já fora militarmente ocupado nos finais do século II a. C., passando a integrar a província da Lusitânia do Império Romano desde que esta foi constituída, entre 16 e 13 a. C., sob o controlo da cidade de Olisipo (Lisboa). Nos finais do século I a. C. surgem complexos fabris associados à exploração de recursos marinhos, como a fábrica de salga de peixe de Cacilhas e, possivelmente, também em Porto Brandão. O garum aí produzido era armazenado em ânforas fabricadas nas proximidades e exportado. E a fertilidade do solo local facilitou o surgimento de diversos focos habitacionais ou agrícolas.

A ocupação islâmica conduzira a um povoamento essencialmente rural, tendo deixado topónimos que o atestam, como Trafaria, Murfacém e Alfazina. Nos séculos XII a XVIII d. C., depois da conquista do castelo de Almada pelos cristãos, em 1147, desenvolvem-se as Vilas e Lugares na região. A vila de Almada expande-se para poente, até à sua estabilização no século XV. Vastas áreas do Sul manter-se-iam quase despovoadas, com áreas não cultivadas destinadas à exploração florestal e à caça. Entre os séculos XVII e XVIII o povoamento do interior aumentou e nas margens ribeirinhas intensificou-se o comércio, os ofícios e as pequenas manufacturas, fixando-se em permanência, “na então designada «paria de pescaria da costa», algumas comunidades piscatórias. O terramoto de 1755 destruiu a maioria dos edifícios; a reconstrução altera o traçado do núcleo urbano de Almada, que perdura ao longo do século XIX.

Os terrenos baratos e a proximidade do transporte ferroviário e do porto de Lisboa favoreceram, nos séculos XIX e XX d. C., o Fazer pela Vida do concelho de Almada acompanhando a industrialização que ocorre um pouco por todo o país. Ao longo das margens do Tejo instalam-se fornos de cal, tanoarias, fiações e tinturarias, a indústria química, a conserveira e a corticeira, bem como moagens, armazéns de vinho e estaleiros de construção naval. A pesca atlântica percorre a costa desde a Cova do Vapor ao Cabo Espichel. A grande escala fabril surge com o Arsenal e Base Naval do Alfeite, em 1938, e com o estaleiro da Lisnave, em 1967. A imigração fornece a mão-de-obra, a população aumenta. Se o veraneio se tornou impossível nas zonas ribeirinhas, abre-se, como alternativa, o do atlântico. Prolifera o associativismo cultural, cívico, de lazer e desportivo, com relevo para o teatro e para o cinema.

A partir de 1970 o fenómeno da desindustrialização deslocaliza a Timex, a H. Parry & Son e a Lisnave; aumenta o papel do comércio, dos serviços e do turismo; as freguesias desequilibram-se urbanisticamente e as infraestruturas básicas saturam-se; instalam-se instituições ligadas ao ensino, à investigação e às novas tecnologias; e as dinâmicas associativas alteram-se. Está-se em Um Território, duas Cidades.

Fontes
: folheto dos Museus de Almada (2021); imagem capturada por Eva Maria Blum de um vídeo patente na exposição

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