Inaugurada há dias, está patente na Casa da Cidade a
exposição permanente Entre dois mares e um rio. Almada, 3 mil anos de
história.
A história é bem mais longa do que os «três mil anos» sugerem, pois a ocupação humana desde o Paleolítico está bem documentada. Mas a exposição privilegia os momentos em que ocorreram grandes transformações. E o primeiro aconteceu entre os séculos VIII a IV a. C., estando testemunhado na estação arqueológica de Almaraz, entendida como o Prelúdio de uma Cidade: mercadores e navegadores fenícios trouxeram o alfabeto, a roda de oleiro, o fabrico de pasta vítrea, o trabalho do ferro e os planos ortogonais na arquitectura. Esta dinâmica esmorece a partir do século V a. C., provavelmente a favor do que se passava na margem Norte do Tejo.
Cena ribeirinha conjecturada junto a Almaraz (Iº milénio a. C.) |
Os séculos I a V d. C. colocaram este território Nos confins do
Império Romano. O Baixo Tejo já fora militarmente ocupado nos finais
do século II a. C., passando a integrar a província da Lusitânia do Império
Romano desde que esta foi constituída, entre 16 e 13 a. C., sob o controlo da
cidade de Olisipo (Lisboa). Nos
finais do século I a. C. surgem complexos fabris associados à exploração de
recursos marinhos, como a fábrica de salga de peixe de Cacilhas e,
possivelmente, também em Porto Brandão. O garum
aí produzido era armazenado em ânforas fabricadas nas proximidades e exportado.
E a fertilidade do solo local facilitou o surgimento de diversos focos
habitacionais ou agrícolas.
A ocupação islâmica conduzira a um povoamento essencialmente rural, tendo
deixado topónimos que o atestam, como Trafaria, Murfacém e Alfazina. Nos séculos XII a
XVIII d. C., depois da conquista do castelo de Almada pelos cristãos,
em 1147, desenvolvem-se as Vilas e Lugares na região. A vila de Almada
expande-se para poente, até à sua estabilização no século XV. Vastas áreas do
Sul manter-se-iam quase despovoadas, com áreas não cultivadas destinadas à
exploração florestal e à caça. Entre os séculos XVII e XVIII o povoamento do
interior aumentou e nas margens ribeirinhas intensificou-se o comércio, os
ofícios e as pequenas manufacturas, fixando-se em permanência, “na então
designada «paria de pescaria da costa», algumas comunidades piscatórias. O terramoto
de 1755 destruiu a maioria dos edifícios; a reconstrução altera o traçado do
núcleo urbano de Almada, que perdura ao longo do século XIX.
Os terrenos baratos e a proximidade do transporte ferroviário e do porto de
Lisboa favoreceram, nos séculos XIX e XX d. C., o Fazer pela Vida do concelho de
Almada acompanhando a industrialização que ocorre um pouco por todo o país. Ao
longo das margens do Tejo instalam-se fornos de cal, tanoarias, fiações e
tinturarias, a indústria química, a conserveira e a corticeira, bem como moagens,
armazéns de vinho e estaleiros de construção naval. A pesca atlântica percorre
a costa desde a Cova do Vapor ao Cabo Espichel. A grande escala fabril surge
com o Arsenal e Base Naval do Alfeite, em 1938, e com o estaleiro da Lisnave,
em 1967. A imigração fornece a mão-de-obra, a população aumenta. Se o veraneio
se tornou impossível nas zonas ribeirinhas, abre-se, como alternativa, o do
atlântico. Prolifera o associativismo cultural, cívico, de lazer e desportivo,
com relevo para o teatro e para o cinema.
A partir de
1970 o fenómeno da desindustrialização deslocaliza a Timex, a H.
Parry & Son e a Lisnave; aumenta o papel do comércio, dos serviços e do
turismo; as freguesias desequilibram-se urbanisticamente e as infraestruturas
básicas saturam-se; instalam-se instituições ligadas ao ensino, à investigação
e às novas tecnologias; e as dinâmicas associativas alteram-se. Está-se em Um Território,
duas Cidades.
Fontes: folheto dos Museus de Almada (2021); imagem
capturada por Eva Maria Blum de um vídeo patente na exposição
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