sábado, 22 de abril de 2017

[0052] Como os jovens de 15 anos que realizaram os testes PISA em 2015 encaravam o seu «bem-estar»

Os testes PISA, promovidos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), realizam-se de três em três anos e visam aferir a literacia a leitura, matemática e ciências dos alunos com 15 anos de idade. Em paralelo, os jovens que neles participam respondem a diversos inquéritos, pretendendo um deles compreender como eles encaram o seu «bem-estar». A OCDE divulgou recentemente um relatório acerca das respostas a este inquérito em 2015.

Segundo a jornalista Clara Viana (que se baseia neste relatório e o cita):

Saber se os estudantes estão satisfeitos com a sua vida foi um dos objectivos do inquérito realizado. Numa escala de 0 a 10, em que 0 corresponde à pior vida possível e 10 à melhor, em média os alunos da OCDE apontaram para um valor de 7,3.
Em Portugal o lugar nesta escala é de 7,36. No valor mais alto da escala, estão 31% dos alunos portugueses, que dizem estar muito satisfeitos com a vida (34,1% na OCDE) e na posição oposta existem 8,9%, cerca de três pontos percentuais abaixo da média.
Mas a satisfação com a vida está também marcada pelo género: no conjunto dos países da OCDE, existem 39% de rapazes de 15 anos que se dizem muito satisfeitos com a vida, um valor que baixa para os 29% quando são as raparigas a falar. Em Portugal o fosso entre os dois grupos é idêntico (35,6% para os rapazes e 26,3% para as raparigas).

Papel da escola, dos professores e dos pais


“Uma das conclusões a que a OCDE chegou é a de que a relação entre satisfação com vida e o desempenho escolar é fraca. Já o ambiente em que os estudantes aprendem e se desenvolvem têm peso na satisfação com a vida. E aqui, frisa-se, os professores têm um «papel particularmente importante»: «Os estudantes mais felizes tendem a dar conta de uma relação positiva com os seus professores.»
Também os pais têm aqui um papel a desempenhar. Os estudantes cujos pais passam tempo a falar com eles, que comem uma refeição em conjunto ou debatem o modo como o filho se está a sair da escola têm uma probabilidade maior de terem maiores níveis de satisfação com a vida.
Portugal aparece, também aqui, em destaque com 90% dos alunos a dizerem que comem pelo menos uma refeição em conjunto com os pais contra uma média de 82% na OCDE. E 92% dos alunos portugueses também dizem que os pais têm o hábito de falar com eles depois da escola, um valor igualmente superior à média da OCDE (86,1%).”


“Se o sentimento de pertença à escola é nestas idades um dos factores que mais conta para se estar satisfeito com a vida, e a maioria está nesta situação, também se podem viver ali experiências devastadoras. O bullying é uma delas.
No conjunto dos países da OCDE, cerca de 11% dos estudantes diz-se alvo de gozo, 7% afirmam que são postos à parte e 8% contam que são objecto de boatos maldosos.
A violência física repetida é reportada por 4% dos alunos. No conjunto, 18,7% dizem-se vítimas de um qualquer acto de bullying, um valor que em Portugal desce para 11,8%.
Os resultados dos inquéritos mostram que os rapazes têm maior probabilidade de serem vítimas do que as raparigas, embora estas tenham maior peso se o que está em causa é ser posto de parte ou ser objecto de boatos maldosos. Por outro lado, os estudantes com piores desempenhos estão mais expostos a agressões verbais físicas e psicológicas do que os seus colegas mais bem-sucedidos.”

Papel da Internet e expectativas sobre o futuro

“Portugal é dos países da onde existe uma maior percentagem de jovens de 15 anos a afirmar que se sentem mal quando não têm disponível uma ligação à Internet. São mais de 77% os que o afirmam, quando a média na OCDE é de 54%.
Acompanham Portugal naquele pelotão a França, Grécia, Suécia e Taipé (…).
Apesar da aparente dependência dos alunos portugueses face à Internet, o tempo em que estes dizem estar online durante os dias da semana (140 minutos) está ligeiramente abaixo da média da OCDE (146). Ao fim de semana a situação inverte-se: os alunos portugueses passam 190 minutos na Net contra uma média de 184 minutos na OCDE.”

“Quase 90% dos jovens inquiridos na OCDE concordam que a Internet «é um óptimo recurso para obter informação» e 84% consideraram que as redes sociais «são muito úteis». Na generalidade, a primeira afirmação foi mais apontada por estudantes de meios socioeconómico favorecidos do que pela dos oriundos de meios carenciados. Mas Portugal tem, também aqui, um lugar de destaque: o fosso entre os dois grupos não chega aos cinco pontos percentuais. Há poucas diferenças entre ambos. Dinamarca, Islândia e Macau alinham com Portugal neste grupo. Já no México a diferença entre os dois grupos é de 20 pontos percentuais.
No geral, o uso da Internet «pode aumentar a satisfação com a vida por propiciar entretenimento e retirar obstáculos à socialização», mas também pode ser uma fonte de riscos ao bem-estar dos jovens, alerta-se no relatório. Por exemplo, os jovens que têm um uso extremo da Internet mostram-se menos satisfeitos com a vida e têm também desempenhos académicos piores.”


“A motivação dos alunos em ir mais longe é outro factor preditor de uma maior satisfação com a vida, frisa a OCDE. Aos 15 anos, 44% dos alunos da organização dizem querer completar um curso universitário. Em Portugal são menos: 39,9%.
Em todos os países, os estudantes mais carenciados tendem a ter expectativas mais baixas do que os seus colegas de meios favorecidos no que toca à conclusão do ensino superior. Mas há países piores do que outros e Portugal sai-se mal do retrato, com um fosso de 50 pontos percentuais a separar as expectativas dos dois grupos. Na OCDE este valor ronda os 40 pontos percentuais.”

Fonte: Viana [2017(c)]

Documentos originais da OCDE: www.oecd.org/pisa,

terça-feira, 18 de abril de 2017

[0051] O Parque da Paz, em Almada

Este parque resultou de uma profunda transformação de um espaço pré-existente, tendo sido essa transformação coordenada pelo arquitecto paisagista Sidónio Pardal. Escreveu este:

Com as ideias do Iluminismo, a natureza deixou de ser entendida como uma pré-ordenação exemplar e imutável do mundo. A paisagem na melhor tradição do Barroco assume-se como simples suporte da vida individual e social. O território e a consciência que se tem do mesmo passa a ser uma realidade adaptável e coube à escola paisagista inglesa (landscape gardening) assumir a prática de uma arquitectura das transformações a empreender no território à escala da paisagem, assumindo-se como «uma arte que não imita nem representa mas que modifica a natureza, adaptando-se aos sentimentos humanos e às oportunidades da vida social, ou seja, apresentando-se como domínio da vida» [citação de Giulio Carlo Argan].

Este parque, com cerca de 40 hectares, foi concebido com a intenção de desempenhar o papel de bacia de retenção (as águas pluviais vão sendo retidas em sucessivas charcas, e no lago, reduzindo a possibilidade de ocorrência de graves cheias na Cova da Piedade), onde se situa.
E claro, tem como principal propósito o usufruto público (contemplação; percursos a pé ou de bicicleta; pique-niques e jogos) e, de vez em quando, a realização privada ou pública de alguns eventos e competições.

Um mapa do parque:


Para qualquer idade, este parque é também uma excelente oportunidade para observar a natureza, com dezenas de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas à espera de serem identificadas e umas quase cem espécies de aves avistáveis, com maior ou menor sorte …

Uma das charcas (no fim de Maio de 2012):

Algumas das árvores para aqui transplantadas este ano (no início de Abril de 2017):


Um casal dos quase desconhecidos, entre nós, Gansos-de-Magalhães (em meados de Agosto de 2015):


Fonte: livro de Pardal (1997; pp. 1-2)
Mapa: folhetos editados pela Câmara Municipal de Almada
Fotografias: Eva Maria Blum

sábado, 15 de abril de 2017

[0050] Em Maio, um Curso de Botânica

As plantas, a natureza em geral, são o nosso património fundamental.
As escolas conhecem mal a natureza, e em particular as plantas, que as rodeiam.

Eis uma oportunidade (formativa) para compensar esse desconhecimento:


quarta-feira, 12 de abril de 2017

[0049] Onde se pode ver o documentário «Viva Portugal» neste Abril

Este documentário (mensagem «0046»), cuja versão original é de 1976 e a digital é de 2017, integra o programa das comemorações do 25 de Abril 2017 em várias localidades.

Um dos realizadores, Malte Rauch, estará em Portugal nessa altura, participando em quase todas as sessões:


Domingo, dia 23, às 16h00: na Escola Primária de Quebradas, 2065-148 Alcoentre

Segunda-feira, dia 24, às 21h00: na Casa de Artes e Cultura do Tejo, Rua de Santana 459, 6030-230 Vila Velha de Rodão

Terça-feira, dia 25, às 11h30 e 17h30 (sem a presença do realizador) e 21h00: no Museu do Aljube, Rua Augusto Rosa 42, 1100-091 Lisboa

Quarta-feira, dia 26, às 18h00: no Auditório Soror Mariana, Universidade de Évora, CME/ SOIR Joaquim António de Aguiar, Rua Diogo Cão 6, 7000-841 Évora

Quinta-feira, dia 27, às 18h30: na Cinemateca Portuguesa, Sala Luís de Pina, Rua Barata Salgueiro 39, 1269-059 Lisboa

Sexta-feira, dia 28, às 14h30: na Sala Multiusos da Associação Moinho da Juventude, Alto da Cova da Moura, Travessa do Outeiro 1, 2610-202 Buraca / Amadora

Sábado, dia 29, às 17h00: no Cine-Teatro Grandolense, Praça D. Jorge de Lencastre, 7570 Grândola

Domingo, dia 30, às 21h00: no Estúdio da Academia Almadense, Rua Capitão Leitão 64, 2800-133 Almada

terça-feira, 11 de abril de 2017

[0048] Alguns apontamentos sobre o simpósio «Museus, Investigação & Educação»

Tratou-se, como foi anunciado (mensagem 0028), de uma oportunidade para reflexão sobre o papel dos Museus na sociedade contemporânea, com particular enfoque nas funções Investigação e Educação, perspectivadas às escalas local, regional e global.


Os brevíssimos apontamentos que se seguem são uma selecção (inevitavelmente muitíssimo subjectiva) do que se disse durante o Simpósio.

Desafios colocados aos educadores

Os objectos conservados pelos museus representam a diversidade do passado, e a do presente. Nós somos diversos, e isso ajudou-nos a sobreviver.
Se um objecto nos fala a partir do passado, precisamos de o valorizar, para que nos toque, para que evoque valores actuais.

Se nos limitamos a focar o objecto, apenas ensinaremos; se queremos mudar as mentes, então educaremos.

Os museus precisam de ter guiões e os educadores devem estar no seu centro.

O velho e o novo papel dos museus

As actuais museologias reproduzem a divisão entre culturas hierárquicas e culturas participativas.

Só podem ser profissionais dos museus aqueles que tiveram formação para isso.
As características pessoais de quem trabalha nos museus são tão importantes como a formação profissional.

Os museus e os seus parceiros

Os museus e as comunidades desenvolvem-se mutuamente.

A investigação é uma defesa dos museus contra os decisores externos à sua comunidade de pertença.

As pessoas podem fazer falar os edifícios e os bairros onde vivem ou viveram, e assim umas e outros se transformam.
As pessoas e as comunidades não querem ser esquecidas, daí a importância que atribuem aos seus museus.

A Escola educa formalmente, o Museu e a Cidade educam não formalmente.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

[0047] Dia Nacional dos Moinhos (e moinhos da NossaBanda abertos para a comemoração)

Dia Nacional dos Moinhos: 7 de Abril (próxima 6ª feira).

Nos dias 7, 8 e 9 estarão abertos moinhos de Norte a Sul de Portugal (lista no sítio dos Moinhos de Portugal, de onde foram retirados os casos na NossaBanda: www.moinhosdeportugal.org):


Concelho do BARREIRO:



Concelho do MONTIJO:




Concelho de PALMELA:


Concelho do SEIXAL:


Concelho de SESIMBRA:


sábado, 1 de abril de 2017

[0046] A exibir em Almada, o documentário «Viva Portugal»: o primeiro ano após o 25 de Abril

No Estúdio da Academia Almadense, no próximo dia 30 de Abril, às 21h00 – entrada livre.

Estará presente Malte Rauch, um dos realizadores, com quem será possível debater o documentário no final da sua exibição.


Viva Portugal é a crónica de um ano de Revolução. O filme, rodado de Maio de 1974 a Maio de 1975, abre com imagens do 25 de Abril transmitidas pela televisão portuguesa e termina com a manifestação do 1º de Maio de 1975. Um ano de esperanças e de lutas que por algum tempo colocaram Portugal na ribalta da opinião pública europeia.

Viva Portugal foi apresentado em vários países, nomeadamente na televisão e cinemas alemães, em França (em Paris foi cartaz durante várias semanas), em Espanha, clandestinamente, ainda durante o regime de Franco, e EUA.

Um filme de: Malte Rauch, Christiane Gerhards, Samuel Schirmbeck, Serge July
Imagem: Martin Bosboom
Versão portuguesa digital (2017): Eva Voosen
Colaboração: Maria Eulália de Brito, Teo Ferrer de Mesquita, Vasco Esteves
Duração: 98 minutos


Trailer no Youtube: Viva Portugal



(cartoon: João Abel Manta)

 O filme Viva Portugal foca entre outros aspectos:

-   as contradições entre a ala direita e esquerda do MFA que já a 26 de Abril de 1974, quando da libertação dos presos políticos na Cadeia de Caxias havia surgido,

-   o processo  de  aprendizagem  dos  militares "apolíticos" em contacto com os trabalhadores em greve e ocupação de fábricas,

-   a tentativa de golpe de estado da maioria "silenciosa" (Spínola) a 28 de Setembro,

-   a ocupação das terras e sua distribuição pelos camponeses que as cultivam. A primeira tentativa de auto-organização dos camponeses,

-   à semelhança do que acontecera na LIP, em França, os trabalhadores bancários portugueses levam a cabo uma "acção ilegal": fotocopiam em segredo os documentos correspondentes a operações bancárias,

-   passagens do único documento filmado da televisão portuguesa, sobre o fracassado golpe da direita a 11 de Março: uma unidade de paraquedistas enviada para atacar tropas do MFA, não dispara mas discute o assunto e depõe finalmente as armas,

-   desde o início do processo revolucionário português que uma grande parte da imprensa mundial tenta levar a cabo a sua tarefa não perdendo de vista os chefes, os quartéis-generais dos vários partidos, as forças em jogo e "ideólogos",

-   tal como os agentes da CIA e outros tipos de polícia secreta, procuram descobrir o centro do Poder sem contudo o conseguirem,

-   horrorizada, começa a supor que o "poder caiu na rua", que o velho fantasma se ergueu em Portugal; e para evitar que ele passe ao resto da Europa, essa imprensa "séria" perdeu os escrúpulos e passou à luta.

(cartoon: Vasco de Castro)

O filme Viva Portugal não se limita ...

... à apresentação de chefes, estratégias partidárias ou às chamadas Vanguardas. Também não responde a perguntas como, "qual a percentagem de votos que colherá cada partido" (entre nós 80% votaria no ditador Caetano se ele se candidatasse - tão arreigado está ainda o medo - diz-nos um professor primário no Norte).
   
     "ACABARAM-SE OS DISCURSOS, AS LINDAS GRAVATAS, OS CHAPÉUS ELEGANTES, AS PROMESSAS VAZIAS. AGORA O TEMPO É DE DIÁLOGO ENTRE OS PORTUGUESES, PARA QUE ENCONTREMOS O CAMINHO QUE DEVEMOS SEGUIR" diz um oficial do Movimento das Forças Armadas durante uma "campanha de Dinamização Cultural", numa aldeia.

Este diálogo entre oficiais progressistas e o povo trabalhador, o processo dialéctico entre o Poder armado e o Povo oprimido é o tema principal do filme. Não se procura conduzir o espectador a qualquer tipo de construção política mas sim, tão directo quanto possível, introduzi-lo nos acontecimentos em Portugal, no primeiro ano após a queda do regime.