A jornalista Clara Viana
divulgou, há dias, as conclusões de um estudo da Direcção-Geral de Estatísticas
da Educação e Ciência que visou as
classificações internas dos alunos que frequentaram o 5º e o 6º anos de
escolaridade em 2014-15 (as classificações internas são as atribuídas pelos
professores, na escola, no final do ano lectivo).
O estudo descreveu a distribuição destas classificações de
acordo com diversos critérios.
Ao cruzar a condição económica dos alunos com a sua classificação
em diversas disciplinas tornou patente “haver uma enorme diferença entre as
notas que os alunos carenciados obtêm e aquelas que são conseguidas por estudantes
de meios mais favorecidos”, sobretudo nas disciplinas
com carácter menos prático:
(se o rendimento do agregado familiar de
um aluno for igual ou inferior ao salário mínimo nacional, ele pode dispor do apoio
da Acção Social Escolar, ou ASE; esse apoio está dividida em dois escalões, A e
B, correspondendo o primeiro aos casos mais carenciados)
O cruzamento
do género dos alunos com a sua classificação em diversas disciplinas mostrou
que os Rapazes têm mais dificuldades que as Raparigas em todas as disciplinas,
à excepção da Educação Física:
A
percentagem de negativas por disciplina confirmou ser mais forte nas disciplinas com carácter menos prático e
a sua comparação com a capacidade revelada pelos alunos para recuperar de uma
negativa no 5º ano mostrou que esta é menor precisamente nessas disciplinas:
Quanto
ao número de negativas no final do ano lectivo, o estudo mostrou:
Fonte (citações e tabelas): Viana (2017 d)
Parece-me clara a existência de um efeito socioeconómico sobre o insucesso escolar, e já o é desde há décadas.
ResponderEliminarO que este estudo ajuda a ver é a diferença, assinalada na mensagem (e mais discreta na notícia do «Público», que também li), entre as disciplinas «mais» e «menos» práticas (os autores do estudo chamam «mais académicas» a estas últimas).
Esta pista parece-me apontar para a necessidade de currículos muito mais abertos, e portanto muito mais diferenciados, que é aquilo que os sucessivos Ministérios da Educação não querem admitir, convictos de o insucesso se vir a resolver com «mais» (e eventualmente «melhor») «do mesmo», ou seja, passando a responsabilidade para as escolas e para os professores.