domingo, 27 de setembro de 2020

[0253] O Dia Internacional da Música e as Filarmónicas da Nossa Banda

Por iniciativa da International Music Council, uma organização não-governamental fundada em 1949, o Dia Internacional da Música é comemorado, desde 1975, no dia 1 de Outubro.

 

A Educação Musical nas nossas escolas continua a ser muito limitada, apesar do interesse que os jovens têm por ela e da persistência com que os meios populares a têm tratado, como o atestam as Bandas Filarmónicas criadas e activas por todo o país desde o século XIX, até hoje.

 

Segundo o «Portal da Música Portuguesa», estarão activas na Península de Setúbal trinta e três Filarmónicas (listadas mais abaixo). Observando uma amostra dos logotipos das Associações onde estas Filarmónicas estão integradas (um logotipo por concelho) nota-se como na origem destas Associações a música ocupou um lugar central, o que é frequentemente simbolizado por uma harpa (o deus grego Apolo, que entre outras virtudes incluía a da Música, é muitas vezes representado com uma harpa nas mãos):



Concelho de Alcochete:

Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898

Ver: F

Sociedade Filarmónica Progresso e Labor Samouquense (Samouco)

Ver: B | F

 

Concelho de Almada:

Clube Recreativo do Feijó 

Sociedade Filarmónica Incrível Almadense

Ver: F | S

Academia Instrução e Recreio Familiar Almadense

Ver: F | S

Banda dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas

Ver: F | V

Sociedade Filarmónica União Artística Piedense (Cova da Piedade)

Ver: F

Sociedade Recreativa Musical Trafariense (Trafaria)

Ver: Y | B | F

 

Concelho do Barreiro:

Banda Municipal do Barreiro

Ver: B | F

União Recreativa de Cultura e Desporto de Coina

Ver: F

Sociedade Filarmónica Agrícola Lavradiense (Lavradio)

Ver: F

 

Concelho da Moita:

Sociedade Filarmónica Recreio Alhos Vedrenses (Alhos Vedros)

Ver: F | S

Sociedade Filarmónica Estrela Moitense

Ver: F

Sociedade Recreativa da Baixa da Serra (Baixa da Banheira)

Ver: F

Sociedade Filarmónica Capricho Moitense

Ver: F

 

Concelho do Montijo:

Banda Democrática 2 de Janeiro

Ver: F

Academia Musical União e Trabalho (Sarilhos Grandes)

Ver: F

Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro

Ver: F | B

 

Concelho de Palmela:

Sociedade de Instrução Musical (Quinta do Anjo)

Ver: F

Sociedade Filarmónica Palmelense “Os Loureiros”

Ver: F | S

Sociedade Filarmónica União Agrícola 1º de Dezembro (Pinhal Novo)

Ver: F

Sociedade Recreativa Cultural Povo Bairro Alentejano

Ver: B | F

Sociedade Filarmónica Humanitária de Palmela

Ver: S | F

 

Concelho do Seixal:

Sociedade Filarmónica Operária Amorense (Amora)

Ver: S

Sociedade Musical 5 de Outubro (Aldeia De Paio Pires)

Ver: F

Sociedade Filarmónica União Seixalense “Os Prussianos”

Ver: B | F

Sociedade Filarmónica União Arrentelense (Arrentela)

Ver: B | F

Sociedade Filarmónica Democrática Timbre Seixalense

Ver: F

Escola de Música do Clube Recreativo da Cruz de Pau

Ver: P

 

Concelho de Sesimbra:

Sociedade Musical Sesimbrense

Ver: F

 

Concelho de Setúbal:

Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense (Vila Nogueira de Azeitão)

Ver: B | F

Sociedade Musical e Recreativa União Setubalense

Sociedade Musical Capricho Setubalense

Ver: F



Fontes: sítios do Calendarr e do Portal da Música Portuguesa

sábado, 19 de setembro de 2020

[0252] Educação Patrimonial (III)


No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é a instituição federal que tem como papel a proteção e promoção dos bens culturais do País, assegurando às gerações presentes e futuras o seu usufruto:


Em 1936, o então Ministro da Educação e Saúde do Brasil, Gustavo Capanema, preocupado com a preservação do património cultural brasileiro, pediu a Mário de Andrade a elaboração de um anteprojeto de Lei para salvaguarda desses bens. Em 13 de Janeiro de 1937, através da Lei nº 378, assinada pelo então presidente Getúlio Vargas, o Iphan foi criado.

 

O artigo 216 da Constituição Brasileira de 1988 define como património cultural as formas de expressão e os modos de criar, de fazer e de viver. O que inclui as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e, ainda, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Para o Iphan, a educação patrimonial é constituída pelos processos educativos (formais e não formais) com foco no Património Cultural que têm como objetivo mobilizar as pessoas para a construção colectiva e horizontal de conhecimento neste campo, tendo em conta as múltiplas narrativas dos grupos formadores da sociedade brasileira. Para a apoiar esta forma participada de concretizar a Educação Patrimonial, o Iphan realiza acções como «rodas de conversa» e «inventários participativos»; e «formação de professores» nas escolas, de modo a que os alunos sejam actores na preservação do Património Cultural Brasileiro.

Na seguinte publicação do Iphan …


… encontram-se sugestões sobre o modo de concretizar esta perspectiva de Educação Patrimonial (acesso e download em: http://www.fundacaosmbrasil.org/biblioteca/educacao-patrimonial-inventarios-participativos/).


Fontes: sítio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

sábado, 12 de setembro de 2020

[0251] O relatório «Education at a Glance» de 2020

Foi apresentado no início desta semana o novo relatório conhecido por Education at a Glance, da responsabilidade da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico):

É possível aceder a esse relatório, para leitura ou download, aqui.


Uma das focagens deste estudo internacional (que apenas abrange os países membros da OCDE, embora por vezes convide mais alguns a participar) é a da escolaridade dos jovens adultos (grupo dos 25 a 34 anos). O seguinte gráfico (aqui apresentado de uma forma mais fácil de ler) é uma síntese desta focagem. Para cada país, as barras indicam os adultos que concluíram uma determinada escolaridade, correspondendo a cinzenta à Básica, a branca ao Secundário Vocacional / Profissional, a azul ao Secundário Geral e a laranja ao Superior:


Em geral, conclui-se neste estudo, os jovens adultos possuem mais anos de escolaridade que os de uma década antes

 

Fontes: sítio da OCDE

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

[0250] Beleza e sombra (I): as Cicas e os Ginkgos

Na mensagem «0177» foram identificadas algumas ruas da Nossa Banda, situadas em Corroios, no Laranjeiro e no Feijó, cujos nomes evocam a memória ou o desejo da companhia que as árvores nos fazem.

Mas: serão as árvores que nos fazem companhia, ou seremos nós que, por uns tempos, vamos fazendo companhia às árvores?

A história das Cicas e do Ginkgo mostra-nos como esta interrogação é pertinente. E é particularmente interessante.


As Cicas e o Ginkgo partilham diversas características: têm uma origem muito remota; são dioicas (uns exemplares são machos, outros fêmeas); e, apesar de classificadas como produzindo sementes (Gimnospérmicas), a viabilidade destas depende de a germinação ser imediata (caso contrário as sementes perecem).


O grupo das Cicas teve origem no Paleozoico (há fosseis com 290 milhões de anos), expandiu-se durante o Mesozoico (havia dinossauros que o tinham por alimento) e o seu retrocesso foi-se acentuando ao longo do Cenozoico (dada a concorrência das plantas com flor, pelo que, hoje, está em perigo de extinção).

As espécies deste grupo que sobreviveram não ultrapassam as centenas, e surgem espontaneamente apenas nalgumas partes do mundo. Um bom número delas só existe porque é plantado em parques e jardins, ou usado ornamentalmente em quintais e, até, em varandas.

A espécie mais conhecida é a Cycas revoluta. Tal como as outras espécies deste grupo, tem folhas perenes, parecendo-se fortemente com uma Palmeira.

Perto da Nossa Banda, os melhores locais para observar algumas destas espécies, e para obter informações sobre elas, são os jardins botânicos de Lisboa (ver informações sobre eles na página «Recurso» deste blogue):

  • Jardim Botânico da Universidade de Lisboa;
  • Jardim Botânico Tropical de Lisboa;
  • Jardim Botânico da Ajuda.

Exemplar de Cycas revoluta (Jardim dos Jerónimos, Lisboa)


O Ginkgo (Ginkgo biloba) é a única espécie sobrevivente de um grupo que teve uma origem quase tão antiga como a das Cicas (há fósseis com 270 milhões de anos).

Trata-se de uma espécie que já esteve distribuída por todo o mundo, sendo conhecidas algumas histórias que nos sugerem possuir uma enorme resistência: seis exemplares sobreviveram ao bombardeamento atómico de Hiroshima.

Contrariamente às Cicas, o Ginkgo é uma árvore plantada com alguma frequência perto das nossas casas, tanto em jardins e parques como nas ruas (é cultivado ornamentalmente um pouco por todo o mundo). As suas folhas têm uma forma muito característica (dois lobos, daí o seu nome em latim) e, chegado o Outono, antes de cair (é caducifólia), a sua cor torna-se notavelmente dourada:


Folhas e óvulos de Ginkgo biloba (Almada Velha)


Exemplar de Ginkgo biloba, com as folhas amarelecidas no Outono (Miratejo, Laranjeiro)


Caras leitoras e caros leitores: não se esqueçam de que, para identificar plantas, podem usar a ferramenta digital sugerida na mensagem «0239».

 

Fontes: jardins botânicos de Lisboa

Fotografias: Pedro Esteves


sábado, 29 de agosto de 2020

[0249] Educação Patrimonial (II)


A Escola Profissional de Arqueologia, uma escola pública criada em 1990, com sede em Marco de Canavezes, tem como actual oferta educativa os seguintes cursos:

Curso Profissional (Ensino Secundário):

Assistente de Arqueólogo
Técnico em Animação de Turismo
Técnico de Fotografia
Técnico de Museografia e Gestão do Património

Curso de Educação e Formação, tipo 3 (3º ciclo):
 
Operador de Fotografia

Como forma de enriquecer os seus currículos, esta escola está a produzir um conjunto de vídeos cuja motivação central se traduz através do lema Ensinar com Património.
Neste âmbito, a professora Dulcineia Pinto teleconversou, via Zoom, no passado dia 16 de Julho, com a animadora patrimonial Elisabete Glória Gonçalves, visando conhecer o seu trabalho para o Plano Municipal de Promoção do Sucesso Educativo no concelho de Almada, aí designado por Projecto Mais Leitura, mais Sucesso.

Vídeo: O Nosso Tesouro / Recolha do Património Cultural dos Alunos de Almada

Duração: 1 hora 1´ 33´´


Ligando o Património à Literacia, à Arte e ao Território, e não se encerrando em Almada, o projecto de Elisabete Glória Gonçalves pretendeu envolver as famílias nas actividades dos jovens alunos, contribuir para a sua integração comunitária e promover um conceito de Património Cultural que parte das pessoas, das famílias e das comunidades, em vez de se impor a partir de cima.
A lista dos tesouros patrimoniais que foram recolhidos através deste projecto mistura referências culturais vindas tanto dos vários continentes como de Almada, das suas das proximidades e do resto do país, sendo umas festivas, outras materiais e outras tão só do dia a dia:


O resultado desta recolha será apresentado em breve numa exposição itinerante, podendo passar por vários equipamentos culturais de Almada e, se as condições o permitirem, também por escolas.

Fonte: sítio da Escola Profissional de Arqueologia
Revisão da mensagem: Elisabete Glória Gonçalves

domingo, 23 de agosto de 2020

[0248] A Caparica e a Trafaria: dois vídeos


A União das Freguesias de Caparica e Trafaria encomendou ao Centro de Arqueologia de Almada dois vídeos (de uma série intitulada «Dez Minutos de História») em que o historiador Francisco Silva nos leva a visitar o património e a história local.


As Vinhas e o Vinho na Caparica

Duração: 14 min 49
Apresentação: “Conhecer as origens prováveis da vinha e do vinho no território do concelho de Almada, bem como a sua história e o impacto na economia local. Por terras da Caparica, vamos conhecer as memórias do vinho, os seus registos na Literatura, nas paisagens e além-mar.”





As Origens da Trafaria

Duração: 14 min 08
Apresentação: “Conhecer um pouco melhor o património e a história da Trafaria, das pescas às praias, do antigo presídio às indústrias, numa viagem pelo saber local.”


sábado, 15 de agosto de 2020

[0247] Cinco blogues sobre o concelho de Almada

Estão activos alguns blogues que visam proporcionar informação sobre a actualidade e documentação sobre a história do concelho de Almada.

Três desses blogues foram iniciados em Janeiro de 2007:


Autor: O Farol - Associação de Cidadania de Cacilhas

Blogue: O Farol


Autor: Scala – Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada

Blogue: Scala – A sua história e as suas gentes

Sítio: http://scala-almada.blogspot.com/

 

Autor: Luís Milheiro

Blogue: Casario do Ginjal


E em Março de 2014 e em Maio de 2016 foram iniciados dois outros, ambos por Rui Granadeiro:


Blogue: Almada Virtual Museum

Sítio: https://almada-virtual-museum.blogspot.com/


Blogue: Mar de Caparica



domingo, 9 de agosto de 2020

[0246] Cinco «Visita(s) Guiada(s)» a Património Cultural da Nossa Banda

O programa Visita Guiada, que a RTP2 exibe regularmente desde 2014, escolheu cinco objectos da Nossa Banda nas suas séries correspondentes aos anos de 2016, 2017 e 2018.

Convento de Santa Maria da Arrábida (11 de Abril de 2016; 35 minutos)
Sinopse da visita:
Numa das paisagens mais idílicas do mundo, a Serra da Arrábida banhada pelo Atlântico, fixou-se o mais radical grupo dos franciscanos portugueses: os Capuchos Arrábidos, ermitas cuja regra de vida era a máxima austeridade. Com fundações no início do séc. XVI, o Convento de Santa Maria da Arrábida permanece um deslumbramento e um enigma
O medievalista João Luís Fontes, Investigador do Centro de Estudos de História da Religião da Universidade Católica, conduz-nos nesta visita guiada. 

Ponte 25 de Abril (11 de Julho de 2016; 28 minutos)
Sinopse da visita:
A Ponte 25 de Abril faz 50 anos em agosto de 2016 e para comemorar o aniversário deste ícone da capital portuguesa levamo-lo num passeio sem precedentes: Paula Moura Pinheiro e o Engenheiro António Reis, que nos anos 90 ampliou o tabuleiro rodoviário e introduziu na ponte o tabuleiro ferroviário, vão percorrer, do topo às bases, os cantos todos à ponte. E recordar como no dia 6 de agosto de 1966 esta, a Ponte Salazar, era a maior ponte suspensa da Europa. Será que sobreviveria a um terramoto como o de 1755? Eis uma pergunta que quererá ver respondida ...
  
Farol do Bugio (26 de Setembro de 2016; 27 minutos)
Sinopse da visita:
Farol do Bugio, na foz do rio Tejo.
Olhando a mansa barra do Tejo ninguém diria que é, afinal, uma perigosa armadilha de correntes ferozes e marés violentas. Mas foi aqui, neste estuário enganador, que se erigiu um forte isolado que constitui, até hoje, uma referência internacional da história da engenharia militar marítima. Uma difícil aventura que levou cerca de cem anos a concluir-se. No início do processo, em finais do séc. XVI, chamou-se Torre de São Lourenço da Cabeça Seca, depois foi o Forte de São Lourenço e só em meados do séc. XX, quando foi desarmado, é que passou a ser conhecido como Farol do Bugio. Joaquim Boiça, filho, neto e bisneto de faroleiros, é o historiador que, com a historiadora Maria Barros, mais tem trabalhado sobre o Forte de São Lourenço do Bugio. São eles os nossos guias nesta visita.

Museu da Música Mecânica (11 de Dezembro de 2017; 37 minutos)
Sinopse da visita:
Caixas de música, fonogramas e gramofones, de finais do séc. XVIII à primeira metade do séc. XX. Quase todas aptas a funcionar, são centenas de peças que representam as mais variadas tipologias de mecanismos capazes de produzir som e compõem um acervo de excelência em qualquer parte do mundo. Inteiramente privado, este museu abriu as portas em 2016 e conta duas histórias: a do fascínio que as caixas de música sempre provocaram em adultos e crianças e a do espanto que gerou a invenção da gravação - pela primeira vez, era possível ouvir a voz de alguém que não estava fisicamente presente.
Uma visita surpreendente e divertida guiada por Leonor Losa, etnomusicóloga, e por Luís Cangueiro, o colecionador e proprietário do museu.

Fragata D. Fernando II e Glória (21 de Maio de 2018; 42 minutos)
Sinopse da visita:
Foi o último veleiro português a fazer a Carreira da Índia e é o quarto navio de guerra mais antigo do mundo.
Premiada pela prestigiada World Ship Trust pela qualidade do seu restauro e pela exemplar reconstituição dos ambientes a bordo, a Fragata D. Fernando II e Glória é um testemunho de um modo de navegar e de viver que hoje, mais de 170 anos depois, dificilmente conseguimos imaginar.
O Comandante Rocha e Abreu é o guia desta visita aos quatro pavimentos desta fragata, que é hoje um navio-museu.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

[0245] Educação Patrimonial (I)

Quem hoje circula pela N10, entre Cacilhas e a Cova da Piedade, na margem Sul do Tejo, e sobretudo para quem sai desta estrada para se aproximar do rio, onde ficam o Caramujo e a Romeira, depara-se com uma paisagem pós-industrial onde abundam os espaços e os edifícios degradados ou em ruínas. O que já foi urbanamente central é, agora, urbanamente limítrofe:



O Caramujo e a Romeira são uma pequena parte da chamada Frente Ribeirinha nascente de Almada, uma faixa que acompanha a margem do rio Tejo desde Cacilhas até ao Arsenal do Alfeite, no Laranjeiro:



Toda a Frente Ribeirinha, e em particular o Caramujo e a Romeira, tiveram muitos usos ao longo da História. Aí existiram quintas agrícolas e de recreio. Aí existiram moinhos, oficinas, fábricas e estaleiros destinados à moagem da farinha, à construção naval e à transformação da cortiça, dando um profundo contributo para o arranque e o desenvolvimento da revolução industrial em Portugal. E foi aí, entre as grandes e as pequenas instalações dessas indústrias, que muitos dos que nelas trabalharam viveram. Observando com atenção, ainda se pode adivinhar como neste espaço se misturaram oficinas e fábricas, casas e vilas, tabernas e cafés.


Ainda vivem hoje no Caramujo e na Romeira muitas pessoas que outrora aí trabalharam, e outras que entretanto aí chegaram:



Tomando esta extensa zona pós-industrial como exemplo para a Educação Patrimonial, importa atender às estruturas que sobreviveram (o património material) mas, sobretudo, às memórias e às aspirações daqueles que aí trabalharam e viveram e daqueles que ainda aí trabalham e vivem (o património imaterial).


Entrevistas feitas a actuais moradores dão-nos uma ideia do que as suas memórias nos têm a dizer…

… sobre o papel económico que este espaço desempenhou desde as lutas liberais do século XIX: “O processo de desenvolvimento do nosso país passava todo por aqui …

… sobre o ambiente de trabalho:Vocês não imaginam o que era isto aqui. Às oito horas tocavam 18 apitos.

… sobre a pujança da vida local: “Isto era o bairro que mais vida tinha”.

E também nos dão uma ideia acerca dos desejos e dos receios sobre o futuro deste espaço …

… daqui a 100 anos, disse um rapaz, ele será “Uma piscina com água de mar com escorregas. Um hotel.” Para um jovem, “Não há-de melhorar muito vão ver. Vai continuar tudo igual”. Mas, para uma jovem, será “Uma área de referência, não como agora, hoje ninguém sabe onde está a Romeira.” Ou, para uma primeira moradora: “Para mim tudo o que fizeram que seja pelo melhor, tudo bem.” E, para outra: “Para mim também, já não tenho ideia de sair daqui. Já aqui estou quase há 70 anos. E agora já não vou para lado nenhum.” Já a proprietária de um estabelecimento comercial achou “Que aqui é uma área tão grande, num sítio tão bonito, tão perto ao rio (um sítio) onde as pessoas pudessem de facto viver e trabalhar de forma sustentável, não é? Podem fazer um museu, podem fazer aquilo que entenderem, sustentabilidade para as pessoas que aqui vivem e que aqui trabalham. E que houvesse uma evolução”. E um homem de certa idade: “Gostava que voltasse a ser uma zona industrial de construção naval. Se alguma vez isto acontecer era bom.


Um das apresentações que serviu de base para esta mensagem está acessível a partir da página «Documentos» deste blogue (clicar, aí, em Documentos da Nossa Banda).


Fonte: apresentações em Power Point de Blum (2019; 2020)

Imagens: duas composições de fotografias de Eva Maria Blum e um mapa adaptado a partir de imagem do Google Maps

Revisão da mensagem: Eva Maria Blum


terça-feira, 21 de julho de 2020

[0244] 20 de Julho: a nova data para o Dia Internacional do Xadrez


Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os Dias Internacionais são ocasiões para “educar”, para “mobilizar” e para “celebrar”.
A proposta de um destes dias novo é feita pelos Estados membros da ONU, cabendo depois à Assembleia Geral aprová-los, cuidando que eles reflictam as preocupações com a “paz” e a “segurança” internacionais, com o “desenvolvimento sustentável”, os “direitos humanos”, a “lei internacional” e a “acção humanitária”.
A ONU cuida ainda de acompanhar o modo como cada um destes dias é publicamente adoptado todos os anos. E concluiu que entre os mais populares se encontram o Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de Dezembro), o Dia Internacional das Mulheres (8 de Março), o Dia Mundial da Água (22 de Março) e o Dia Internacional da Paz (21 de Setembro).

O dia em que são celebrados simultaneamente mais Dias Internacionais é o 21 de Março (cinco celebrações). E o mês em que o mesmo acontece é Junho.
Além dos Dias Internacionais, e com os mesmos propósitos, existem também Semanas Internacionais, Anos Internacionais e Décadas Internacionais.

Ontem, 20 de Julho, comemorou-se pela primeira vez o Dia Internacional do Xadrez nesta data.
A Federação Internacional do Xadrez (FIDE) comemorava-o, desde 1966, no dia 19 de Novembro, dia do nascimento de um dos mais extraordinários campeões mundiais, o cubano José Raúl Capablanca, em 1888. Mas foi proposto passar a comemorá-lo no dia em que a própria FIDE foi fundada, 20 de Julho de 1924, o que a ONU aprovou em Dezembro passado.


Na fundamentação apresentada para esta aprovação a ONU recorda assim as origens deste jogo:


O Xadrez é um jogo de estratégia para dois jogadores. Nele são movidas diferentes peças, num tabuleiro quadrado e quadriculado, dispondo cada tipo de peça de um conjunto de possíveis movimentos, cada jogador visa capturar a peça Rei do opositor.
Há hoje mais de 2 mil variantes deste jogo já recenseadas. Segundo uma teoria, esta família de jogos foi iniciada no Norte do Subcontinente Indiano, no período Gupta (de cerca 319 a 543 d.C.), sendo então designado por Chaturanga, tendo sido difundido, para Oeste, através da Rota da Seda, até à Pérsia.
Quando o Chaturanga chegou à Pérsia dos Sassânidas, por volta de 600 d.C., chamava-se Chatrang, transformando-se, mais tarde, em Shatranj. Esta data corresponde ao mais antigo manuscrito conhecido que se refere a este jogo. É de origem persa e descreve a chegada de um embaixador vindo do Subcontinente Indiano para visitar o Rei Khosrow I (531 – 579 d.C.) e que o presenteia com este jogo.
A partir da Pérsia, e seguindo a Rota da Seda para Sul e ainda mais para Oeste, o Shatranj chegou à Península Arábica e a Bizâncio.
Em 900 d.C., dois mestres Abássidas, al-Suli e al-Lajlaj, escreveram sobre as técnicas e a estratégia deste jogo. E por volta de 1000 d.C. o Xadrez era popular por toda a Europa e na Rússia, onde fora introduzido através da estepe euro-asiática.
Os manuscritos do Rei Alfonso que hoje são conhecidos como «Libro de los Juegos» (Livro dos Jogos) referem-se a três tipos de jogos muito populares no século XIII, entre eles o Xadrez, cujas regras são descritas de modo muito parecido às do Shatranj persa.

E apresenta deste modo os argumentos para que o Xadrez tenha o seu Dia Internacional:

Os desportos, as artes e as actividades físicas têm o poder de mudar as percepções, os preconceitos e os comportamentos, ajudando as pessoas a quebrar as barreiras raciais e políticas, a combater a descriminação e o conflito, pelo que contribuem para promover a educação, o desenvolvimento sustentável, a paz, a cooperação, a solidariedade, a inclusão social e a saúde aos níveis local, regional e internacional.
O Xadrez é um dos jogos mais antigos, intelectuais e culturais, combinando desporto, pensamento científico e elementos artísticos.
Sendo um jogo global, promove a justiça, a inclusão e o mútuo respeito, podendo contribuir para uma atmosfera de tolerância e compreensão entre os povos e as nações.

Fonte: sítio da ONU (os textos, adaptados, foram traduzidos do inglês)

Imagem: sítio da organização Chess.com

sábado, 11 de julho de 2020

[0243] Dois meses com a Ciência Viva no Verão




A 24.ª edição da Ciência Viva no Verão é uma edição especial que destaca o projecto Circuitos Ciência Viva, cujo lema é “Deixe-se guiar pela curiosidade!”. Nestas férias conheça Portugal com cultura e ciência, sempre na companhia de especialistas: são mais de 200 acções, em 500 datas, por todo o país, organizadas por Centros Ciência Viva, associações científicas, autarquias e empresas.

Visitas nocturnas de exploração dos Jardins do Bom Jesus, em Braga, passeios de moliceiro à descoberta dos tesouros naturais da Ria de Aveiro, visitas a uma das maiores jazidas com pegadas de dinossáurios jurássicos da Península Ibérica, em Vale de Meios, percursos no Aqueduto das Águas Livres, passeios de caiaque à descoberta da Ria Formosa e descidas à Mina de Sal-Gema Campina de Cima, em Loulé, são algumas das acções a decorrer entre 15 de Julho e 15 de Setembro.

Acções disponíveis no distrito de Setúbal:

No Moinho de Maré da Mourisca (Herdade da Mourisca, concelho de Setúbal)

Movimento das aves (18 de Julho, às 9h30)
Entre o Mar e a Terra: Interpretação da paisagem, fauna e flora (25 de Julho, às 17h30)

No Complexo de Salinas do Samouco (Samouco, concelho de Alcochete)

Observação de aves selvagens para Iniciantes (18, 19, 25 e 26 de Julho, às 10h00
Ciclo do Sal (22 e 29 de Julho e 5 de Agosto, às 10h00)

No Centro Ciência Viva do Lousal (Lousal, concelho de Grândola)

Cobras de Portugal (18 de Julho, às 10h30)
O Lobo vai ao Lousal (25 de Julho, às 10h00)
Viagem ao Centro da Terra (1 de Agosto, às 10h00)
Plantas em Movimento (1 de Agosto, às 16h00)
Nos trilhos da Serra (5 de Setembro, às 9h00)

No Cristo Rei (rotunda do Cristo Rei, concelho de Almada)

Do Cristo Rei ao Tejo – Uma descida no tempo (23 de Julho, às 9h15)

No Parque da Paz (Cova da Piedade, concelho de Almada)

Estação da Biodiversidade do Parque da Paz (24 de Julho, às 9h15)

A descrição e a localização destas e das outras acções já está acessível em




As inscrições abrem às 15h00 do dia 13 de Julho (2ª feira), sendo feitas através do anterior endereço.

Fonte (texto e imagem): sitio da Ciência Viva

segunda-feira, 6 de julho de 2020

[0242] As antigas praias de Tróia: entrevistas feitas por alunos de Setúbal


Em 2008-09 as turmas do 9º ano da Escola Secundária D. João II, em Setúbal, realizaram, na disciplina de História, um levantamento sobre como a população setubalense passava as férias de Verão na Península de Tróia, nas décadas de 1950, 1960 e 1970:

Capa do livro (recortada)

A sua principal fonte consistiu nos testemunhos recolhidos, através de entrevistas, aos seus familiares e vizinhos mais velhos, tendo o material recolhido sido trabalhado em aulas e fora delas. Por fim, seis professores transformaram essa recolha num livro, cuja primeira edição saiu em Maio de 2009.

Nos Verões dos anos 50 não era apenas Tróia a praia escolhida pelos setubalenses, também o eram as da Figueirinha e de Albarquel. E também vinham para estas praias as gentes de Palmela e de Azeitão e, ao fim-de-semana, do Montijo, do Barreiro e do Pinhal Novo.
Alguns dos entrevistados lembram-se de, sendo ainda jovens nessa altura, passarem em Tróia quase todo o Verão, estando grande parte desse tempo os seus pais a trabalhar. Outros lembram-se de lá passarem apenas um mês, um ou semana, ou tão só alguns dos fins-de-semana.

Testemunhos de alguns dos entrevistados:

A época balnear começava em Junho e acabava no final de Setembro.

Por volta dos anos 60, as carreiras eram limitadas: dois barcos que iam de manhã para Tróia e duas carreiras que vinham de tarde para Setúbal. Era muito limitado! É claro que com o passar dos anos, com o número de pessoas a aumentar, a frequentar a praia, começou a haver mais carreiras, mas no princípio era assim.

Vinha tudo carregado com as panelas e com os tachos dentro do barco da Tróia.

As pessoas, se quisessem, podiam até fazer casas em madeira, pois na altura não se pagava o terreno. Mas a maioria arranjava a areia de modo que ficasse direitinha. De seguida punham a tendinha e uma manta por baixo, outra por cima, estava feito! Ou então dormiam por cima de um todo ou uma manta, com aquelas velas dos barcos e os mastros faziam um tipo de tenda por baixo das velas com uma manta.

As mulheres que não trabalhavam tomavam conta dos seus filhos e também dos filhos daquelas que iam trabalhar.

Iam para a praia tomar banho, passar o dia … levavam o almoço já feito em casa. Estendiam uma toalha mesmo na areia e era aí que comiam. Outras faziam-no nas barracas que havia na praia, com fogareiros a carvão e onde se vendia bebidas.

Pela tarde, as crianças corriam ao ouvir o pregão: «Cá está o Ervilha! O Ervilha nunca falha». Este pregão era do homem dos sorvetes.

Antigamente a gente corria aquilo tudo de lés a lés.

O nosso passatempo nessa altura era irmos à pesca, os mais velhos e os mais novos. Naquele tempo [1955] havia muito peixe, muita amêijoa e berbigão, muitas navalhas e entretínhamo-nos a apanhar petiscos.

Berbigão aberto na brasa, ameijôas da marinha feitas de cebolada e também havia navalhas abertas na brasa.

Jantávamos e depois mais tarde conversávamos uns com os outros. Fazíamos uma fogueira, preparávamos uma cafeteira de café e depois havia um senhor que sabia tocar viola. Ele tocava e nós conversávamos uns com os outros sobre a vida.

Na Caldeira existe uma capelinha com a Nossa Senhora do Mar. Todos os anos, em Agosto, a senhora sai da capela levada pelos pescadores numa procissão. Essa festa começava numa sexta e acabava numa segunda com os pescadores todos atrás do barco que levava a Santa.

Nos anos 50 e 60 as fábricas de conserva de peixe que hoje já não existem apitavam todas e as operárias vinham para a muralha acenar à santa com lenços brancos, mas hoje já não se vê isso porque as fábricas fecharam.

Em 1961 o arquitecto Rafael Botelho, no jornal «O Setubalense», defendeu que não se deveria valorizar a Península de Tróia através da construção, mas sim pela sua natureza e pelo usufruto desta. No entanto, por volta de 1970, o mesmo jornal anuncia as primeiras propostas oficiais e privadas para a promoção do grande turismo em Tróia.

Fonte: Colectivo do 9º ano da Escola Secundária D. João II (2019; os testemunhos correspondem às pp. 24, 28, 32, 36, 37, 42, 43, 43-44, 45, 48 e 97)