Escrito pelo grupo de consultores para o projecto Future of Education and Skills 2030, da OCDE, e
pelo director de educação desta organização internacional, foi recentemente
publicado o seguinte artigo de opinião, intitulado Educação
para um mundo melhor: um debate em curso a uma escala global:
“Enfrentamos hoje desafios sem precedentes - sociais,
económicos e ambientais - provocados por uma globalização em aceleração e por
um muito mais rápido desenvolvimento tecnológico. Paralelamente, estas forças
conferem uma miríade de novas oportunidades para o desenvolvimento humano. O
futuro é incerto e não o conseguimos predizer; mas é preciso estar disponível e
preparado para esse futuro. As crianças que entram nos sistemas educativos em
2018 serão jovens adultos em 2030. As escolas têm de os preparar para empregos
que ainda não foram criados, para tecnologias que não foram ainda inventadas,
para resolver problemas que ainda não foram antecipados. Aproveitar
oportunidades e encontrar soluções será uma responsabilidade partilhada. Temos
a responsabilidade de educar estas crianças, tornando-as competentes, equipadas
com o conhecimento, as capacidades, as atitudes e os valores que os tornam
capazes de ser os construtores de um futuro melhor. Estamos todos convidados a
perguntar qual o melhor modelo de aprendizagem que ajudará os alunos a ter
sucesso no desenho do mundo sobre o qual agirão.
Através do projeto da OCDE O futuro da educação e
competências 2030, 29 países e economias estão a colaborar para a encontrar
perguntas para duas perguntas prementes:
- De que tipo de conhecimentos, capacidades,
     atitudes e valores vão necessitar os estudantes para ter sucesso e modelar
     o seu mundo?
- Como podem os sistemas educativos
     desenvolver esse conjunto de competências?
O projeto não procura estabelecer uma abordagem uniforme
para os sistemas educativos, porque isso não ajudaria a responder a estas
questões. Pelo contrário, fornece uma plataforma para o desenvolvimento de uma
compreensão partilhada sobre desenho curricular. Estudantes preparados para o
futuro precisam de ser agentes ativos quer na sua própria educação, quer na sua
própria vida. Ser agente implica um sentido de responsabilidade para participar
no mundo e, assim, influenciar pessoas, eventos e circunstâncias para o que é
melhor. Ser agente assenta no poder de modelar um propósito e identificar ações
para o conseguir. Uma educação de sucesso prepara jovens que pensam por si só e
trabalham e vivem com os outros. Isto implica desenvolver a capacidade de
resolver problemas complexos, de questionar a sabedoria estabelecida,
integrando conhecimento emergente, de comunicar eficientemente e de promover o
bem-estar. Os jovens precisam do conhecimento que é adquirido sem o recurso
único a rotinas de memorização. Formas múltiplas de avaliação, metodologias
ativas de ensino e aprendizagem, trabalho interdisciplinar, trazendo o mundo
real para dentro da sala de aula — estes são ingredientes nucleares para este
objetivo de promover uma aprendizagem melhor e mais profunda.
A partir das Competências Chave (desenvolvidas no projeto
OCDE DeSeCO – Definição e Seleção de Competências), o projeto Educação 2030
identificou três categorias adicionais, conhecidas como Competências
Transformadoras:
- Criar novos valores: é necessário
     pensar criativamente, desenvolver novos produtos e serviços, novos
     empregos, novos processos e métodos, novas formas de pensar e viver, novas
     empresas, novos setores, novos modelos de negócio e novos modelos sociais.
     Cada vez mais, a inovação não emerge de indivíduos que pensam e trabalham
     sozinhos, mas da cooperação e colaboração que permitir criar novo
     conhecimento a partir do conhecimento existente.
- Reconciliar tensões e dilemas: é
     hoje necessário pensar de forma mais integrada para impedir conclusões
     prematuras e reconhecer interconexões. Num mundo de interdependência e
     conflito, os indivíduos assegurarão com sucesso o seu bem-estar, o das
     suas famílias e das suas comunidades, somente através do desenvolvimento
     desta segunda competência transformadora: a capacidade de reconciliar os
     seus próprios objetivos com as perspetivas dos outros.
- Assumir responsabilidade: lidar com
     a novidade, a mudança, a diversidade e a ambiguidade assume que os
     indivíduos podem pensar autonomamente e trabalhar com os outros. De igual
     modo, a criatividade e a resolução de problemas requer a capacidade para
     considerar as consequências futuras das ações de cada um, para avaliar
     risco e recompensa, e para aceitar a responsabilização pelos produtos do
     trabalho desenvolvido. Isto sugere um sentido de responsabilidade, e
     maturidade moral e intelectual, com a qual uma pessoa pode refletir sobre
     as suas ações e avaliá-las à luz das suas experiências e dos objetivos
     pessoais e da sociedade, à luz dos que lhes foi ensinado e dito, e à luz
     dos que está certo ou errado.
Muitos atores são chamados a desempenhar um papel para
que estas competências possam ser desenvolvidas. Para ajudar a desenvolver o
compromisso e a capacidade de ser agente naqueles que aprendem, precisamos não
só de reconhecer a sua diversidade individual e o seu potencial, mas também de
reconhecer que o conjunto mais largo de relações que influenciam a sua
aprendizagem - com os seus professores, os seus colegas, famílias e
comunidades. Um conceito fundamental que subjaz a este modelo de aprendizagem
é, portanto, o de «co-construção» - as relações interativas de suporte mútuo
que ajudam os alunos a progredir em direção aos seus objetivos. Neste contexto,
todos devemos considerar-nos aprendentes, não apenas os alunos, mas também os
professores, as escolas, os decisores políticos, as famílias e as comunidades.
Se a aprendizagem está no centro, é crítico o desenvolvimento de comunidades de
aprendizagem.”
Fonte (em jornal): Costa,
Dillon, Suzuki, Kim, Skovsgaard e Schleicher
(2018)
 
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