segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

[0272] Educação Patrimonial VII

 Corroios, onde o concelho do Seixal se inicia para quem vem de Almada, foi a terra que, em 1976,  “acolheu” Manuel Lima, como residente e como professor. Naturalmente, Manuel Lima ganhou “apego, carinho e entusiasmo pelas coisas que a ela dizem respeito.”

Durante mais de uma década pesquisou-a através das mais diversas “áreas de saberes”. “Trabalho de campo, pesquisa bibliográfica, consulta de organismos técnicos especializados e principalmente recolha oral”: uma “pesquisa transdisciplinar”, com “abordagens entrelaçadas”.
No livro em que reuniu os diversos artigos que foi escrevendo e publicando sobre a sua terra, Manuel Lima “aborda de uma forma globalizante conhecimentos locais, nas áreas não só da geologia, da biologia ou da geografia, mas também do domínio do ambiente, da história, das ciências sociais ou económicas.” Não se trata de um livro publicado agora, mas sim há 20 anos, sendo intuito desta mensagem lembrar o potencial com que o seu conteúdo nos continua a desafiar:

 

Corroios. Minha Terra co(m a)rroios



Diz-nos Manuel Lima, na nota prévia com que no-lo apresenta: “a maioria da população da freguesia de Corroios reside neste território há relativamente pouco tempo, desconhecendo por vezes as raízes culturais desta terra.” Ora, “só conhecendo a sua área residencial melhor se poderá integrar e participar na vida colectiva.
Em particular, é “cada vez maior a necessidade de enraizar a escola no meio, preparando-a para dar respostas aos problemas da sociedade local.”

 

Os saberes familiares e os saberes locais serão os primeiros contextos em que cada criança enraíza o desenvolvimento do seu próprio saber sobre o mundo. Contextos concretos, portanto capazes de proporcionar um sentido aos contextos mais abstractos que lhe irão chegar quando for solicitada a interagir com os saberes globais.
Então, quais são os contextos que Manuel Lima nos descreve no seu belo livro sobre Corroios?
Alterando a ordem pela qual eles são nos apresentados, como capítulos, para começarmos pela natureza e depois chegar à acção humana:
Os recursos hidrológicos e geológicos. Que, antes de serem «recursos» (ponto de vista do Homem), são a Terra antes da existência da Vida.
O Sapal de Corroios e o seu ecossistema. A interacção primordial entre a Terra e o Mar, com a Vida a nascer dela.
Património vegetal. A primeira grande expansão da Vida: a das plantas.
Ornitologia e antigas actividades cinegéticas. A segunda expansão da Vida: a dos animais, aqui representados pelas aves. Mas a não confundir, por enquanto, com o modo como o Homem dela procurou viver.
Antigas quintas e actividades rurais. Se as actividades cinegéticas recordam o nosso passado de Caçadores e Recolectores, as quintas recordam o nosso passado como Agricultores.
Património construído, tal como o crescimento urbano e populacional. Depois da sedentarização, o crescimento em número, devido à agricultura e a outros contributos civilizacionais.
Modos de vida e actividades do passado, bem como as antigas artes, profissões e ofícios. O modo como vivemos até há não muito tempo atrás, e que ainda é a matriz das nossas Culturas e das nossas Técnicas.
Indústria a economia local. Tudo tem vindo a mudar desde a Industrialização, e o âmbito local não lhe é alheio.
Colectividades e outras associações. Elas têm sido uma das respostas culturais às grandes mudanças que estão em curso desde há dois séculos.
Educação e escolas. E aqui residirão as esperanças para que o prosseguimento dessas mudanças se enraíze em todos nós.
Protecção do ambiente. Último capítulo, e aí bem colocado: teremos de voltar a olhar para o princípio, se nos queremos proteger de nós próprios.

 

Como integrar toda esta riqueza de saberes nos currículos escolares é, portanto, o permanente desafio com que este livro nos confronta.

Será então necessário observar como as escolas o estão, ou não, a trabalhar!

 

Fontes: livro de Lima (2001; citações das pp. 7-8)

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