Entrevistado por João Céu e Silva, o filósofo José Gil
fez os seguintes dois comentários relacionados sobre a educação:
Fotografia (inserida na entrevista) de Reinaldo Rodrigues / Global Imagens |
João Céu da Silva:
José Gil:
Não é só a questão económica, o que se passa é, repito, uma
erosão de tudo o que é a tradição. O passado está a ser engavetado,
digitalizado e virtualizado, e cada vez menos lhe atribuímos uma realidade com
peso. O passado é cada vez mais uma imagem que se transforma numa coleção de
imagens enquanto objetos de consumo, apesar de não informarem nem sedimentarem
a nossa pessoa e cada vez menos os comportamentos sociais. Um aluno sabe cada
vez menos sobre o passado, nem lhe interessa saber, e isso é terrível, pois há
uma erosão que vem da transformação do valor da realidade do passado e da
transmissão pela tecnologia que traduz tudo em imagem. Tudo isso é metabolizado
e instrumentalizado pelo capitalismo, que só conta cada vez mais com o que gera
uma mais-valia.
João Céu da Silva:
Como é que se confronta pessoalmente com esta mudança de
paradigmas?
José Gil:
Não acho que haja mudança de paradigma, porque tal não
existe para o nosso presente. Estamos a mudar de paradigma sem que tenhamos
aquele para o qual queremos mudar. Isto em tudo, como é o caso da educação para
a cidadania. Havia antes uma educação para a transmissão e acumulação na área
das humanidades, agora é o da cidadania. O que é que os professores vão
ensinar? E como vão formar turmas tumultuosas. Isto é uma coisa ridícula, porque
quando não se dão meios nem se preparam os professores para a cidadania não há
formação possível: ou seja, não há paradigma, tanto mais que a questão da
cidadania leva a ponderar questões totais na sociedade.
Fonte: Gil,
entrevistado por Silva (2019)
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