A Muleta que se encontrava em construção no Estaleiro Naval de
Sarilhos Pequenos (concelho da Moita)
por encomenda da Câmara Municipal do Barreiro (mensagem «0098») está pronta, aguardando a chegada da autorização para
navegar. Trata-se de uma embarcação com nove velas, concebida para a pesca de
arrasto e usada entre o Cabo da Roca e o Cabo Espichel (desde um pouco a Norte
até um pouco a Sul da costa atlântica de Lisboa).
O mestre Jaime Costa está à frente deste
estaleiro, propriedade da sua família desde 1955.
Jaime
Costa seguiu a arte do pai, carpinteiro naval, que também já fora a arte do avô
e do bisavô.
O pai
veio da terra dos moliceiros, Pardilhó, perto de Aveiro, chegando a Sarilhos
Pequenos, junto ao Tejo, com 17 anos. E Jaime começou a aprender o ofício aos 11
anos, trabalhando a madeira durante o dia e estudando à noite. Concluíu o curso
industrial e comercial na Escola do Montijo, pensou em continuar a estudar no Instituto
Superior Técnico, mas o trabalho era muito. Era preciso aprender calafetagem,
carpintaria e pintura, um saber empírico passado de pais para filhos.
Na década de 1950 haveria perto de 800 barcos a atravessar o Tejo, nomeadamente fragatas. Quando Jaime Costa chegava a
Lisboa, ainda miúdo, as docas do Cais do Sodré, do Jardim do Tabaco, do Poço do
Bispo e de Alcântara estavam apinhadas destas embarcações, de gente, que aí
desembarcavam produtos agrícolas vindos dos campos alentejanos.
Havia,
por essa altura, na margem Sul, 42 estaleiros navais a trabalhar, só entre a
Lisnave e Alcochete. Hoje resta um único desses estaleiros. O mestre Jaime
Costa, agora com 65 anos, continua a não ter dias de folga, pois no seu
estaleiro apenas dispõe de três carpinteiros navais, sendo Jaime o mais novo. Tem
encomendas até 2021, em grande parte devido ao interesse das câmaras municipais
da margem sul pelas embarcações tradicionais. A Câmara da Moita, por exemplo,
pretende lançar a candidatura a património
imaterial da UNESCO das técnicas de construção e reparação das embarcações
tradicionais do estuário do Tejo. Mas, para Jaime Costa, o turismo pode ser outra
oportunidade a ter em conta: “Se nós conseguirmos arranjar diversidade [de trabalhos]
para os moços, para virem trabalhar não só na carpintaria ou na pintura, eu
penso que será mais cativante. De Verão, contactam com as pessoas, de Inverno
reparam as embarcações”.
Fonte jornalística: Moreira (2018b), sendo a fotografia de Daniel Rocha
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