sábado, 18 de fevereiro de 2017

[0038] A Arte-Xávega» no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

No passado dia 16 de Fevereiro foi publicado na IIª série do Diário da República o anúncio da inscrição da Arte-Xávega (Costa da Caparica, Almada) no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, na sequência de proposta apresentada pela Associação Grupo de Caretos de Podence.

A Costa de Caparica é referida pela primeira vez na cartografia em 1816, designada por «Cabanas da Costa».
Há referências mais antigas, como a que aí reporta 5 mortos como consequência do maremoto que se seguiu ao terramoto de 1755.
Tratava-se de um local insalubre, devido às águas paradas, situadas entre o areal e a arriba.
Há conhecimento da sua ocupação sazonal por pescadores; mas é só em 1770 que aí se instalam algumas companhas vindas de Ílhavo e de Olhão, as primeiras a norte da actual Rua dos Pescadores, as segundas a sul.
Os barcos usados, conhecidos por «Meia Lua», tinham a proa e a popa elevados, para vencer a rebentação, e o fundo chato, para deslizar na areia.

(descrição proveniente da divulgação feita pelo Centro de Arqueologia de Almada)

Caparica, Aguarela, Carlos Pinto Ramos

Esta forma de pesca sofreu nas últimas décadas uma evolução técnica (os barcos já não são os «Meia-Lua», a tracção das redes deixou de ser manual).

No sítio da Direcção-Geral do Património Cultural, que aprovou a inscrição da «Arte-Xávega» como Património Imaterial, pode ler-se e ver-se:

A Arte-Xávega consiste numa técnica tradicional de pesca com recurso a uma rede de cerco, lançada no mar e depois puxada, ou alada, para a praia. A arte, como é designado o conjunto constituído por cordas, alares e saco, é lançada ao mar a partir de uma embarcação, deixando em terra a ponta da corda designada por banda panda. Depois de largar a rede, a embarcação regressa à praia trazendo a outra ponta de corda, designada por banda barca. Logo que a segunda corda chega à praia inicia-se o processo de alagem em simultâneo de ambas as cordas, puxando para a praia a rede, cuja boca é mantida aberta com recurso a flutuadores e pesos.
Na comunidade piscatória da Costa da Caparica (Almada), este tipo de pesca realiza-se ao longo de todo o ano, encontrando-se largamente dependente das condições meteorológicas e do estado do mar, assim como, na época balnear, dos próprios condicionalismos de acesso às áreas de praia concessionadas. Esta comunidade piscatória é atualmente constituída por dois núcleos localizados na freguesia, um na Costa da Caparica e outro na Fonte da Telha, cada qual conta com cinco companhas de Arte-Xávega, que exercem a sua atividade em toda a frente atlântica até, mais a Sul, à Lagoa de Albufeira.


Texto e imagem:

O anúncio (nº 14/2017) publicado no Diário da República pode ser acedido em:

2 comentários:

  1. O que se espera agora é que haja uma atenção maior à voz dos pescadores. O Património imaterial é deles, ou melhor, são eles.

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  2. Sim, foi essa a ideia desta mensagem: destacar os «pescadores», pois se trata da sua vida, pois possuem «saberes» que são o cerne do património que encarnam.
    Neste caso o património são eles. Em geral, o património somos nós.

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