sábado, 23 de janeiro de 2021

[0270] Beleza e sombra (IV): a simplicidade das Monocotiledóneas

As plantas com flores (Angiospérmicas), surgidas há aproximadamente 140 milhões de anos, divergiram em três grandes grupos. O que se manteve mais próximo das plantas antecessoras (Gimnospérmicas), o grupo das Magnoliáceas, foi referido na mensagem «0264». Os outros dois grandes grupos foram o das Monocotiledóneas e os das Eudicotiledóneas.

 

Cerca de um quarto das plantas com flor são Monocotiledóneas. Elas caracterizam-se por:

·      Embrião com um só cotilédone (a primeira folha, que possui reservas para alimentar a planta em crescimento);

·      Raiz fasciculada (semelhante a uma cabeleira);

·      Folhas paralelinérvias (as suas nervuras são paralelas).

 

A maioria das espécies de Monocotiledóneas são herbáceas, como são os casos dos cereais (Arroz, Milho, Trigo, …), dos Lírios e das Orquídeas.
Mas também existem espécies de maior porte:

 

Agave-americano: 


Dragoeiro:


Estrelícia-gigante:


Palmeira-das-Canárias:


Fotografias (nalguns casos recortadas): Eva Maria Blum (respectivamente na tapada das Necessidades, no Jardim do Monteiro-Mor, na tapada das Necessidades e no Jardim Tropical – todos estes locais em Lisboa)

sábado, 16 de janeiro de 2021

[0269] As Escolas do concelho de Almada e o Rock (anos 60, 70 e 80)

Durante a preparação da exposição NA MARGEM: uma história do rock, com que o Museu da Cidade de Almada nos brindou em 2019, foi recenseado o surgimento de mais de quinhentos grupos musicais no concelho de Almada no período de 1961-2018 (quase seis décadas).

Mais de metade desses grupos surgiu na década de 1990. Muitos tiveram vida efémera, mas alguns sobreviveram e tiveram audiência nacional, como os «UHF», o mesmo acontecendo a vários músicos, caso do Tim, desde há muito nos «Xutos e Pontapés».

O relativo sucesso das bandas mais recentes, apesar do apoios que perderam, pelas escolas (ao se encerrem em si mesmas) e por algumas infraestruturas (como aconteceu há pouco tempo com o «Ponto de Encontro», em Cacilhas), baseou-se na influência que as rupturas sociais exerceram sobre as musicais nas décadas anteriores.


Na década de 60, a falta de salas de concertos levou os grupos musicais de então a recorrer a colectividades, a cafés e esplanadas, a escolas (à Escola Comercial e Industrial Emídio Navarro, ao Externato Frei Luís de Sousa e, a partir de 1965, à extensão do Liceu D. João de Castro, mais tarde Liceu Nacional de Almada) e aos núcleos urbanos (na Trafaria, no Monte da Caparica, na Sobreda e na Costa de Caparica).
A ampliação da rede escolar nas décadas de 70 e de 80 permitiu que as escolas assumissem um papel central na formação, difusão e fruição dos novos grupos musicais. Às dos anos 60, situadas no eixo central de Almada, juntaram-se a Escola Técnica Elementar D. António da Costa, e a sua secção no Feijó, a futura Pintor Columbano, a Escola Técnica Anselmo de Andrade, as Escolas Preparatórias Elias Garcia, da Trafaria e Comandante Conceição e Silva e a Escola Secundária Nº 1 do Laranjeiro.
A falta de recursos deu frequentemente lugar à criatividade, como a que António Antunes descreveu:

 

Queríamos tocar! Então a gente não tinha nada, não havia uma bateria, não havia uma guitarra … não havia nada … a gente só queria formar uma banda […]. Eu comecei a comprar potenciómetros, trastes, cartões, coisas assim do género, depois fomos aqui algures, talvez à Mecânica Piedense, comprar uma tábua e então foi descocar aquilo, foi fazer um braço … fazer os buraquinhos para, como é que se chama aquelas coisas da guitarra, os captadores de som … aquelas coisas assim … e começamos a montar duas guitarras. E depois o nosso amigo tinha andado na Emídio, percebia alguma coisa de mecânica e começou a montar uns amplificadores e foram os primeiros amplificadores que eu me lembro dos UHF.

 

Algumas escolas tiveram o privilégio de proporcionar um local de estreia a alguns grupos musicais, como aconteceu com os «Procyon» em 1983, na Escola Secundária do Pragal (ex Liceu Nacional de Almada), e os «Brainhead», em 1987, na Escola Secundária de Cacilhas.

 

Fontes: catálogo do Museu da Cidade de Almada (2019; pp. 20, 32, 36 e 40)

domingo, 10 de janeiro de 2021

[0268] Tocá Rufar!!

Começar a perceber o que é o Tocá Rufar é descobrirmos como, num aparentemente simples projecto de percussão, se articula a persistência individual, a cooperação entre os percussionistas e a pujança do associativismo em rede e, claro, é encantarmo-nos com o ritmo vital que os intérpretes deste projecto nos proporcionam: 

O Tocá Rufar foi fundado em 1996, propondo-se formar artisticamente (e desenvolver culturalmente) quem desejasse trabalhar com a percussão tradicional portuguesa.
Em
1998 actuou na Expo realizada em Lisboa, sendo, desde esse mesmo ano, apoiado financeiramente pelo Ministério da Cultura, por ter sido considerado um Projecto de Interesse Cultural. E, em 1999, constituiu-se como Associação dos Amigos do Tocá Rufar (ADAT).
Desde 2019 integra a Rede Nacional de Clubes UNESCO.

A Orquestra Tocá Rufar, uma orquestra de percussão tradicional portuguesa, inclui naipes de bombos, caixas de rufo e timbalões, sendo capaz de interpretar ritmos e temas originais, quer em formato de desfile, quer em formato de palco. Já actuou com artistas como Amélia Muge, o Balett Gulbenkian, os Buraka Som Sistema, Fafá de Belém, Fausto, Gilberto Gil, Jorge Palma, José Mário Branco, Mickael Carreira, Paulo de Carvalho, Tony Carreira e os Xutos & Pontapés, e, fora de Portugal, actuou, entre outros países, em Espanha, na Bélgica, no Reino Unido, na Alemanha, no Brasil, nos EUA, em Macau, na Coreia do Sul, no Japão ...
Mais de 80 % das suas actuações são oferecidas para eventos cujos promotores não têm capacidade financeiras, desde que os respectivos princípios e causas sejam considerados justos e meritórios. Noutras actuações, solicitadas por quem as pode pagar, o Tocá Rufar é financeiramente exigente.

Após o surgimento da Orquestra Tocá Rufar foram criadas em Portugal cerca de cinquenta novas orquestras de percussão. Pelo que o Tocá Rufar decidiu organizar anualmente o festival Portugal a Rufar, que reúne cerca de um milhar de bombos de todo o mundo, juntando, num mesmo acontecimento, a percussão clássica, étnica, tradicional e contemporânea, bem como as dimensões instrumental e académica.
A ADAT organiza desde 2015 o Congresso do Bombo, nesse ano na Aula Magna (Lisboa), nos anos seguintes na Casa do Bombo (Fundão), na Casa das Artes (Amarante), no Fórum Cultural (Seixal), no Governo Civil (Vila Real) e, em 2020, virtualmente, dada a impossibilidade de o realizar presencialmente, em Viana do Castelo (ver: www.bombo.pt).
Em 2016, o Tocá Rufar deu início à preparação da candidatura da prática dos Bombos à lista da UNESCO do Património Cultural Imaterial da Humanidade.

A comunidade associativa em que o Tocá Rufar se integra estende-se, actualmente, por sete países e por trinta distritos e inclui cerca de 350 grupos de percussão criados por portugueses.
Todos os anos este projecto ensina, gratuitamente, cerca de 500 alunos, podendo ser considerado um projecto de intervenção sociocultural, que visa o desenvolvimento da sociedade civil, nomeadamente das suas componentes mais frágeis e mais carentes de atenção. Este contributo foi assim resumido por Rui Júnior, fundador e coordenador do projecto, ao responder a um responsável municipal da educação:

“Os nossos tocadores, quando integram a Orquestra Tocá Rufar assumem a responsabilidade de representar a cultura e identidade de um país – este projecto, pela visibilidade que tem, acarreta esse peso; por isso são-lhes exigidas muitas horas de trabalho árduo, regras de educação e de conduta exemplares e uma apresentação e postura rigorosas. Eles são artistas e, sobretudo, seres humanos exigentes e de valor e - lhe garanto -, saberão tomar as necessárias iniciativas e responsabilidades, hoje e no futuro, de tudo fazer pela sua terra, assim o senhor saiba dar-lhes o respeito e admiração que eles merecem. Qualquer indivíduo que ingresse na Orquestra, seja criança, jovem, adulto, idoso, homem ou mulher é considerado e tratado pelo Tocá Rufar como um ser auspicioso.”

 

Para quem quiser antever a futura «Aldeia do Bombo», a nova sede do Tocá Rufar»: https://youtu.be/kTcWYhgH-Gk.

 

Fonte: sítio do Tocá Rufar

sábado, 2 de janeiro de 2021

[0267] Educação Patrimonial (VI)

Por decisão de Fernando Pessoa, o seu heterónimo Álvaro de Campos, depois de “uma educação vulgar de liceu”, foi “estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval”.
É de Álvaro de Campos este poema

 

O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo. O que há é pouca gente para dar por isso. 



Na imagem, à esquerda, estão os primeiros desenvolvimentos do binómio de Newton, desde n = 0 a n = 6. E, à direita está uma imagem da Vénus de Milo, provável obra de Alexandre de Antioquia, esculpida nos finais do século II a.C..


Três pensamentos que esta provocação poética nos pode proporcionar:

As ferramentas da racionalidade também podem ser belas;
Tanto contactamos com o património nas escolas como nos museus;
Não é de agora a falta de motivação para aprender.

 

Talvez seja interessante, para fazer face a este problema da «motivação», a seguinte opinião do arquitecto Manuel Vicente: “Acho que só assim é que se aprende: primeiro com o encantamento e depois com o conhecimento.” Talvez o engenheiro Álvaro de Campos já o tivesse intuído!

 

Fontes e imagem: Wikipédia (para a Vénus de Milo); Vicente, em entrevista (2011)