Francisco Alves Rito descreveu no jornal «Público» a seguinte experiência pedagógica, em curso na Escola Básica Navegador Rodrigues Soromenho (Sesimbra):
“Alunos de escola de Sesimbra aprendem sobre o oceano mergulhando nele
A
Escola Básica Navegador Rodrigues Soromenho, em Sesimbra, está a viver, há um
mês, uma experiência de ensino inédita em Portugal, em que o oceano é
transformado em novas salas de aulas.
A primeira edição do Programa Atlantis, promovido pela Oceans and Flow, que se
propõe levar educação ecológica subaquática às escolas, abrange 470 alunos de
Sesimbra entre sessões de freediving (mergulho livre), limpeza de praia,
palestras com especialistas e até um workshop para incluir algas na dieta
alimentar.
No dia 22 de Março, Dia Mundial da Água, os responsáveis por esta inovadora
proposta educativa apresentaram-se aos 21 alunos do oitavo ano que vão estar
mais directamente envolvidos nas diversas actividades previstas até dia 16 de
Junho. São três meses de mergulhos no mar de Sesimbra, aulas de biologia
marinha, visita a uma pradaria marinha e outras iniciativas sempre próximas da
maresia oceânica.
Até agora já participaram em sessões do oásis, um jogo criado no Brasil que
mobiliza a comunidade para o desenvolvimento de um projecto colectivo. «Estamos
a jogar em Sesimbra e a envolver as pessoas, a ouvi-las, sobre as necessidades
ligadas ao mar, e escutamos os seus sonhos», relata ao PÚBLICO a coordenadora
do Programa Atlantis.
Com este jogo, os estudantes desenvolvem a relações interpessoais e mobilizam a
vila. «As actividades têm sempre a ver com mais consciência sobre o oceano, com
cuidar do mar de Sesimbra», diz Violeta Lapa, que é uma das educadoras
subaquáticas responsáveis pela idealização do programa.
A responsável, que é terapeuta aquática, mostra satisfação pela forma como o
projecto está a decorrer, com o interesse crescente dos jovens participantes. «Está
a correr muito bem. Eles estão muito entusiasmados e cheios de vontade de ir
para o mar. É bom sentir este envolvimento. Já se vê uma grande transformação,
mais atenção, vontade e alegria», afirma.
A
anterior fase de confinamento em que o programa arrancou «alterou um pouco» o
que estava planeado, designadamente quanto à logística das embarcações que
transportam os alunos e obrigando a que algumas sessões presenciais tivessem de
ser feitas à distância, mas, agora, com maior abertura e dias mais quentes, os
grupos voltam a poder sentir a água no corpo e a areia nos pés. E é isso que
faz a diferença.
«Este é o único programa do género que é mesmo no mar. O conceito do Programa
Atlantis é trazer os jovens para os espaços naturais, para eles aprenderem como
estar em segurança no mar e cuidar do mar», sublinha Violeta Lapa. A coordenadora
destaca a componente de «ecologia profunda» do projecto. «Traz uma dimensão
ética à ecologia, sem hierarquia entre Homem e Natureza, e permite que as
pessoas despertem, abram o olhar e os sentidos, e isto provoca uma transformação
e a vontade de cuidar», explica.
«Vamos ensinar como podem cuidar do mar, através da forma como consomem, como
cuidam do lixo e noutros pequenos comportamentos. O programa tem esta
componente pedagógica, de ensinar como cuidar de uma forma simples e divertida»,
acrescenta a terapeuta.
O que une os elementos da Oceans and Flow envolvidos nesta missão em Sesimbra é
o gosto pelo mar. «Somos freedivers e vivemos diariamente o poder
transformador de uma relação mais próxima com o oceano. Partilhamos a paixão
pelo mar e a missão de despertar nas novas gerações o cuidado e afecto pela
vida marinha. Com formações distintas na área do desenvolvimento humano, artes
e movimento aquático, as nossas valências convergem num método único de
educação», sintetiza a educadora subaquática Cris Santos.
O Programa Atlantis inclui acções abertas à comunidade, como palestras online
e um workshop «de corpo e alga», em que os participantes recolhem algas
para aprenderem sobre a sua utilidade alimentar, e vai terminar com uma
exposição na marginal da Avenida 25 de Abril, em Sesimbra, com fotografias de
todas as etapas do projecto, numa galeria ao ar livre.
Esta primeira edição é financiada pelo EEA Grants e Hydrokompass, com o apoio
da Câmara Municipal de Sesimbra e quase duas dezenas de parceiros. A segunda
edição ainda não está definida, mas os organizadores planeiam continuar em
Sesimbra.”
Fonte (texto e imagem): artigo jornalístico de Rito (2021)
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