“O ensino oficial na Sobreda
começou em 1779, quando a rainha Dª. Maria I atribuiu a função de mestres aos
frades Agostinhos Descalços do convento da Sobreda (os Capuchos da Caparica
também receberam essa função). A instrução que ministravam era dirigida apenas
a rapazes, que mais tarde podiam, ou não, professar votos naquela Ordem
Religiosa. O convento encerrou em 1834, devido à lei que extinguiu as Ordens
Religiosas.” Assim começa o capítulo sobre o Ensino no mais recente dos
livros dedicados pelo Centro de Arqueologia de Almada à História e ao
Património da Sobreda (Almada).
Nas décadas seguintes houve, certamente, outras formas de
escolaridade na Sobreda. Sabe-se que, em 1881, existia uma escola laica, para
rapazes, “fruto da iniciativa de alguns moradores”: os seus alunos e o seu
professor surgem numa fotografia tirada nesse ano, e nela a escola está designada
por Escola da Sobreda.
A Escola Primária a que esta mensagem se refere apenas
chegou com a República. E surgiu assim, segundo aquele livro: “Em 1913 abriu a primeira escola pública e mista, no
contexto da reforma educativa levada a cabo pelo governo republicano.” E
paralelamente foi “criada a Caixa Escolar da Sobreda,
uma associação que fornecia livros, materiais escolares, vestuário e calçado,
gratuitamente ou a preço inferior ao do mercado, e também organizava excursões,
conferências e festas. Tinha três tipos de sócios: Efetivos, que eram alunos
inscritos com uma quota semanal mínima; Protetores, que fixavam livremente a
sua quota; e Beneméritos, que prestavam serviços, faziam donativos ou
contribuíam com géneros. É interessante verificar que alguns ideais
republicanos estão patentes nos estatutos: «Os sócios da Caixa professarão o
culto da bandeira e o culto da árvore, e serão protetores dos animais.»”
Capa dos Estatutos (em CAA, 2019; p. 50) |
Em 1918 esta escola era designada nos documentos administrativos por Escola Mista da Sobreda de Caparica, sendo uma das onze escolas primárias oficiais no concelho de Almada.
“No início da década de 1940 o
edifício da escola estava degradado. A família Piano pagou as obras, que
incluíram instalações sanitárias para meninas e para meninos.” E no ano
lectivo de 1943-44 a escola reabriu. “Vinham
crianças da Sobreda, Alto do Índio, Urraca, Vila Nova e Lazarim.”
Presume-se que terá assim funcionado até 1974, quando, após 48 anos de
interrupção democrática, o entusiasmo pela educação regressou. Para os cursos
de alfabetização de adultos, que começaram a funcionar à noite nas suas
instalações, esta escola ainda foi capaz de dar resposta; mas para a crescente
procura por jovens alunos, durante o dia, foi-se mostrando insuficiente; algumas
aulas foram desviadas para o Clube Recreativo Sobredense; e, por iniciativa da
Comissão de Moradores, foram sendo encontrados novos espaços de apoio e
desdobramento, alguns dos quais viriam a dar origem a novas escolas. Até que a
responsabilidade pela actualização da rede escolar foi assumida pelo Ministério
da Educação.
Para quem vinha do Solar dos Zagallos e chegava ao
cruzamento com a N10-1, o edifício da Escola Primária da Sobreda situava-se em
frente, à direita, no início da subida que conduz ao Alto do Índio:
Imagem captada do Google Maps (em 21 de Abril de 2020) e aqui recortada |
E a sua vista aérea, onde a Rua do Alto do Índio começa, era a seguinte:
Imagem captada do Google Maps (em 21 de Abril de 2020) e aqui recortada |
Este edifício foi demolido há escassos dias. Encontrava-se
degradado, mas fazia parte da proposta de edifícios a proteger ao abrigo de Carta do
Património Cultural do Concelho de Almada.
Fonte: catálogo
com um texto de Abreu sobre as escolas de Almada (2005; pp. 13) e livro com o
estudo do Centro de Arqueologia de Almada sobre a Sobreda (2019; pp. 51-54)
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