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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

[0205] A revolta estudantil de 2015 e 2016 no Brasil


Em 2015, milhares de alunos do ensino secundário de São Paulo (Brasil), procurando resistir ao projecto de reorganização do ensino público do então governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, ocuparam mais de 200 das suas escolas. Organizaram-se para nelas permanecerem de dia e de noite e aí realizaram assembleias de autogestão e aulas sobre pensamento crítico. Letícia Karen, então com 15 anos, recordou as razões da resistência: “A gente só ficou sabendo do projecto de Geraldo Alckmin através do jornal. Até lá, nem os professores nem as classes estudantis sabiam de nada (…). Todos sabíamos que era um corte na educação pública, que não era para melhorar: para quê fechar escolas quando o que precisamos é de muitas mais?

Imagem retirada de: https://focasnaarea.wordpress.com

A mobilização tinha, aliás, sido iniciada por manifestações de rua, apoiadas por entidades escolares e por sindicatos de professores, mas rapidamente se tornou autónoma. E como os estudantes se aperceberam de que as manifestações não eram suficientes, decidiram ocupar as escolas, inspirando-se no exemplo da Revolução dos Pinguins dos alunos do ensino secundário chilenos, em 2006.
As ocupações duraram dois meses, e o que os estudantes viveram e aprenderam equivaleu ao que viveriam e aprenderiam ao longo de muitos anos. De novo o testemunho, hoje, de Letícia Karen: “A gente desconstruiu aquele ensino baseado na escola ditatorial e construiu junto outra coisa. Fomos descobrindo outras possibilidades de existência ali dentro, coisa que nunca tínhamos feito antes.

No final de 2015, este movimento conseguiu que o projecto de reorganização do ensino público paulista fosse suspenso. Mas ainda havia muitos outros problemas: as más condições das escolas, os salários em atraso das empregadas de limpeza e dos professores, as salas de aula superlotadas (40 a 50 alunos para um professor). “A gente costuma dizer que nós ocupamos as escolas não só porque elas iam fechar, mas por toda a precarização do ensino público”, precisa Letícia.” Por isso, em 2016, os estudantes juntam à sua lista de protestos questões como o desvio do dinheiro das merendas, os projectos de lei ligados ao movimento conservador e retrógrado Escola sem Partido e a reforma do ensino secundário anunciada pelo governo de Michel Temer. De São Paulo, a mobilização estende-se a outras cidades, com manifestações e mais de 1000 escolas e universidades públicas ocupadas.
A repressão policial aumenta. “Havia muita perseguição, eles já sabiam quem nós éramos. Havia, do nada, espancamentos na rua de companheiros nossos”, diz Letícia. Obrigados por decreto-lei a sair das escolas e com a polícia à porta para os receber à saída, os estudantes estavam “muito afectados psicologicamente” e não sabiam “como continuar” este tipo de luta.

O projecto de reorganização do ensino acabou por ser posto em prática, de outro modo, com outro nome, e as escolas continuaram precarizadas.
Os estudantes, no entanto, perceberam que tinham uma voz: “Surgiram várias associações estudantis dentro das escolas, muitas direcções foram derrubadas e a gente recebe notificações de manifestações todos os dias. Criou-se uma rede de apoio a partir do movimento.” E também perceberam que podiam agir por outros meios: A ocupação não era mais viável, então resolvemos continuar a resistir através da arte.

Fonte: notícia de Duarte (2019), livremente resumida nesta mensagem

A mensagem «0023», de Outubro de 2016, já havia referido este movimento estudantil

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