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sábado, 25 de agosto de 2018

[0153] Entre o passado e o futuro da construção e reparação naval em madeira no estuário do Tejo


A Muleta que se encontrava em construção no Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos (concelho da Moita) por encomenda da Câmara Municipal do Barreiro (mensagem «0098») está pronta, aguardando a chegada da autorização para navegar. Trata-se de uma embarcação com nove velas, concebida para a pesca de arrasto e usada entre o Cabo da Roca e o Cabo Espichel (desde um pouco a Norte até um pouco a Sul da costa atlântica de Lisboa).

O mestre Jaime Costa está à frente deste estaleiro, propriedade da sua família desde 1955.


Jaime Costa seguiu a arte do pai, carpinteiro naval, que também já fora a arte do avô e do bisavô.

O pai veio da terra dos moliceiros, Pardilhó, perto de Aveiro, chegando a Sarilhos Pequenos, junto ao Tejo, com 17 anos. E Jaime começou a aprender o ofício aos 11 anos, trabalhando a madeira durante o dia e estudando à noite. Concluíu o curso industrial e comercial na Escola do Montijo, pensou em continuar a estudar no Instituto Superior Técnico, mas o trabalho era muito. Era preciso aprender calafetagem, carpintaria e pintura, um saber empírico passado de pais para filhos.

Na década de 1950 haveria perto de 800 barcos a atravessar o Tejo, nomeadamente fragatas. Quando Jaime Costa chegava a Lisboa, ainda miúdo, as docas do Cais do Sodré, do Jardim do Tabaco, do Poço do Bispo e de Alcântara estavam apinhadas destas embarcações, de gente, que aí desembarcavam produtos agrícolas vindos dos campos alentejanos.
Havia, por essa altura, na margem Sul, 42 estaleiros navais a trabalhar, só entre a Lisnave e Alcochete. Hoje resta um único desses estaleiros. O mestre Jaime Costa, agora com 65 anos, continua a não ter dias de folga, pois no seu estaleiro apenas dispõe de três carpinteiros navais, sendo Jaime o mais novo. Tem encomendas até 2021, em grande parte devido ao interesse das câmaras municipais da margem sul pelas embarcações tradicionais. A Câmara da Moita, por exemplo, pretende lançar a candidatura a património imaterial da UNESCO das técnicas de construção e reparação das embarcações tradicionais do estuário do Tejo. Mas, para Jaime Costa, o turismo pode ser outra oportunidade a ter em conta: “Se nós conseguirmos arranjar diversidade [de trabalhos] para os moços, para virem trabalhar não só na carpintaria ou na pintura, eu penso que será mais cativante. De Verão, contactam com as pessoas, de Inverno reparam as embarcações”.

Fonte jornalística: Moreira (2018b), sendo a fotografia de Daniel Rocha

sábado, 18 de agosto de 2018

[0152] O novo sítio e as próximas iniciativas do Centro de Arqueologia de Almada


O «CAA», como é conhecido entre os seus sócios, é uma associação sem fins lucrativos criada em 1972, com estatuto de utilidade pública e de ONG-Ambiente, onde se trabalha na investigação e na divulgação da Arqueologia, do Património e da História.



Nos quatro Sábados de Setembro o CAA anima quatro visitas guiadas:

8 de Setembro 2018: o Centro Histórico de Cacilhas;
15 de Setembro 2018: a Cova da Piedade – Romeira:
22 de Setembro de 2018: a Trafaria – Murfacém;
29 de Setembro de 2018: o Centro Histórico da Trafaria.

Estas informações, os projectos e os contactos do CAA podem ser acedidos no seu novo sítio:
https://carqueoalm.wixsite.com/carqueoalm.

sábado, 11 de agosto de 2018

[0151] A última salina artesanal do Samouco


A existência de salinas entre o Samouco e Alcochete está documentada desde o século XIII.
Entre os anos 30 e os anos 50 do século XX chegou a aí 56 salinas, trabalhando nelas entre mil a mil e quinhentos salineiros, que produziam cerca de 110 a 120 mil toneladas de sal por ano.
Por volta dos anos 70, antes da construção da Ponte Vasco da Gama, estas salinas entraram em declínio, restando uma única a produzir de forma artesanal, a Marinha do Canto.

As marcas deixadas pelas salinas abandonadas, hoje situadas entre dunas, pinhais e sapais, na margem Sul do Rio Tejo, são bem visíveis no seguinte mapa:

Origem: Googlemaps

Tudo no processo de obter artesanalmente o Sal deve ser feito à mão.

Após o Inverno os tanques são limpos. O primeiro tanque, o que se situa a cota mais elevada, serve para armazenar água e ocupa cerca de um terço da área da salina. Neste local do estuário do Tejo a salinidade da água anda pelos 18 a 20 gramas por litro, tendo a do mar cerca de 40. Esta água vai sendo transferida para outros tanques, por meio de comportas, até chegar ao tanque de cristalização, onde, à medida que a água se evapora, a salinidade da que fica vai aumentando.
Actualmente os tanques de cristalização da Marinha do Canto não ultrapassam 60 a 70 m2 de área, e apenas dois salineiros trabalham neles. Quando a salinidade da água ultrapassa os 200 gramas por litro desenvolve-se na água uma microalga cor-de-rosa, que constitui a base de uma longa cadeia alimentar que tem no topo e dá a cor aos Flamingos. Esta microalga desaparece com o escoamento da água onde vive.

Fotografia de Eva Maria Blum

Além do sal (grosso ou fino, conforme a moagem a que é posteriormente submetido) também se obtém a flor do sal, que se forma à superfície, sem contacto com o fundo do tanque, quando a salinidade da água atinge os 250 gramas por litro.

Além do seu uso na conservação dos alimentos e na culinária, o sal chegou a ser usado como moeda (e foi designado por “ouro branco”), sendo hoje usado para muitos outros fins.

A Marinha do Canto, integrada na natureza que a rodeia, é actualmente gerida pela Fundação Salinas do Samouco.

Fonte informativa: André Batista (da Fundação Salinas do Samouco)

Informação complementar: vídeo https://youtu.be/bfSXMhd-x0Q