Entrevistado recentemente,
António Nóvoa avaliou assim a situação do nosso sistema educativo, estando
assinaladas algumas intervenções dos entrevistadores:
“A Educação é central, como a
Ciência e Cultura. Julgo que nestas áreas o que tem sido feito tem sido feito
de uma forma correcta — tanto na Educação, como na Ciência e no Ensino
Superior. Mas tem sido pouco. Isto é: tem havido mais um gerir e resolver situações
que vinham do passado ...”
Em 2015 disse que devíamos viver uma revolução nas escolas:
mudança nos currículos, na organização e modelo da escola. Estamos a
atrasar-nos?
“Estamos longe. Infelizmente não
estamos neste momento numa dinâmica do que é o futuro da escola e da educação.
E o mesmo se diga para as universidades, que estão muito ...”
Estagnadas?
“Muito contidas, a palavra
estagnada seria injusta. Há muita coisa que se tem feito bem. Eu, pelo meu
mandato de reitor, tenho um fantasma, que é a burocracia. E o complicador
imenso em que se transformou a vida das escolas, dos professores, a gestão das
universidades, a vida da ciência. Fazer um projecto científico é uma coisa do
outro mundo. E temos de nos libertar disso. O tema da autonomia, que é para mim
central ...“
Tem-se falado muito na autonomia ...
“... mas é conversa. As escolas
deviam ser ambientes vibrantes, estimulantes.”
O que é que custa mais a ultrapassar? Burocracias, as
medidas do Governo, os professores, a sociedade ...
“Há um conjunto dessas coisas
todas. Mas há uma rigidificação burocrática que se criou nas nossas instituições,
que é um factor que dificulta muito essa espécie de liberdade. As pessoas, às
vezes, para fazerem coisas, quase têm de sair das instituições.”
Como é que se ultrapassa isso?
“No caso das universidades é
consagrando um verdadeiro estatuto de autonomia, com responsabilidades claras.
Precisamos de ter uma muito maior autonomia das instituições, dos professores,
das universidades, da ciência. Hoje, a ciência é a chave da sociedade do século
XXI. A chave de tudo o que nos vai acontecer está na ciência e na tecnologia.
Mas não é só a que se faz nos grandes laboratórios, não, é a que se faz dentro
das escolas, na sociedade. Se não formos capazes de fazer isso, vamos andar
enredados ...”
Fonte (citação): Nóvoa (entrevistado por Dinis e Lourenço, 2018; p. 11)
Fotografia (pormenor): Nuno Ferreira Santos
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