Os testes PISA, promovidos pela OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico), realizam-se de três em três anos e
visam aferir a literacia a leitura,
matemática e ciências dos alunos com 15 anos de idade. Em paralelo, os jovens
que neles participam respondem a diversos inquéritos,
pretendendo um deles compreender como eles encaram o seu «bem-estar». A OCDE
divulgou recentemente um relatório acerca das respostas a este inquérito em
2015.
Segundo a jornalista Clara Viana (que se baseia neste
relatório e o cita):
“Saber se os
estudantes estão satisfeitos com a sua vida foi um dos objectivos do inquérito
realizado. Numa escala de 0 a 10, em que 0 corresponde à pior vida possível e
10 à melhor, em média os alunos da OCDE apontaram para um valor de 7,3.
Em Portugal o lugar nesta escala é de 7,36. No valor mais
alto da escala, estão 31% dos alunos portugueses, que dizem estar muito
satisfeitos com a vida (34,1% na OCDE) e na posição oposta existem 8,9%, cerca
de três pontos percentuais abaixo da média.
Mas a satisfação com a vida está também marcada pelo
género: no conjunto dos países da OCDE, existem 39% de rapazes de 15 anos que
se dizem muito satisfeitos com a vida, um valor que baixa para os 29% quando
são as raparigas a falar. Em Portugal o fosso entre os dois grupos é idêntico
(35,6% para os rapazes e 26,3% para as raparigas).”
Papel da escola, dos professores e dos pais
“Uma das conclusões a que a OCDE chegou é a de que a
relação entre satisfação com vida e o desempenho escolar é fraca. Já o ambiente
em que os estudantes aprendem e se desenvolvem têm peso na satisfação com a
vida. E aqui, frisa-se, os professores
têm um «papel particularmente importante»: «Os estudantes mais felizes tendem a
dar conta de uma relação positiva com os seus professores.»
Também os pais têm aqui um papel a desempenhar. Os
estudantes cujos pais passam tempo a falar com eles, que comem uma refeição em
conjunto ou debatem o modo como o filho se está a sair da escola têm uma
probabilidade maior de terem maiores níveis de satisfação com a vida.
Portugal aparece, também aqui, em destaque com 90% dos
alunos a dizerem que comem pelo menos uma refeição em conjunto com os pais
contra uma média de 82% na OCDE. E 92% dos alunos portugueses também dizem que
os pais têm o hábito de falar com eles depois da escola, um valor igualmente
superior à média da OCDE (86,1%).”
“Se o sentimento de pertença à escola é nestas idades um
dos factores que mais conta para se estar satisfeito com a vida, e a maioria
está nesta situação, também se podem viver ali experiências devastadoras. O bullying é uma delas.
No conjunto dos países da OCDE, cerca de 11% dos estudantes
diz-se alvo de gozo, 7% afirmam que são postos à parte e 8% contam que são
objecto de boatos maldosos.
A
violência física repetida é reportada por 4% dos alunos. No conjunto, 18,7%
dizem-se vítimas de um qualquer acto de bullying, um valor que em Portugal
desce para 11,8%.
Os
resultados dos inquéritos mostram que os rapazes têm maior probabilidade de
serem vítimas do que as raparigas, embora estas tenham maior peso se o que está
em causa é ser posto de parte ou ser objecto de boatos maldosos. Por outro lado,
os estudantes com piores desempenhos estão mais expostos a agressões verbais
físicas e psicológicas do que os seus colegas mais bem-sucedidos.”
Papel da Internet e expectativas sobre o futuro
“Portugal é dos países da onde existe uma maior
percentagem de jovens de 15 anos a afirmar que se sentem mal quando não têm
disponível uma ligação à Internet. São mais de 77% os que o afirmam, quando a
média na OCDE é de 54%.
Acompanham Portugal naquele pelotão a França, Grécia,
Suécia e Taipé (…).
Apesar da aparente dependência dos alunos portugueses
face à Internet, o tempo em que estes dizem estar online durante os dias da semana (140 minutos)
está ligeiramente abaixo da média da OCDE (146). Ao fim de semana a situação
inverte-se: os alunos portugueses passam 190 minutos na Net contra uma média de
184 minutos na OCDE.”
“Quase
90% dos jovens inquiridos na OCDE concordam que a Internet «é um óptimo recurso
para obter informação» e 84% consideraram que as redes sociais «são muito
úteis». Na generalidade, a primeira afirmação foi mais apontada por estudantes
de meios socioeconómico favorecidos do que pela dos oriundos de meios
carenciados. Mas Portugal tem, também aqui, um lugar de destaque: o fosso entre
os dois grupos não chega aos cinco pontos percentuais. Há poucas diferenças
entre ambos. Dinamarca, Islândia e Macau alinham com Portugal neste grupo. Já
no México a diferença entre os dois grupos é de 20 pontos percentuais.
No
geral, o uso da Internet «pode aumentar a satisfação com a vida por propiciar
entretenimento e retirar obstáculos à socialização», mas também pode ser uma
fonte de riscos ao bem-estar dos jovens, alerta-se no relatório. Por exemplo,
os jovens que têm um uso extremo da Internet mostram-se menos satisfeitos com a
vida e têm também desempenhos académicos piores.”
“A motivação dos alunos em ir mais longe é outro factor
preditor de uma maior satisfação com a vida, frisa a OCDE. Aos 15 anos, 44% dos
alunos da organização dizem querer completar um curso universitário. Em
Portugal são menos: 39,9%.
Em todos os países, os estudantes mais carenciados tendem
a ter expectativas mais baixas do que os seus colegas de meios favorecidos no
que toca à conclusão do ensino superior. Mas há países piores do que outros e
Portugal sai-se mal do retrato, com um fosso de 50 pontos percentuais a separar
as expectativas dos dois grupos. Na OCDE este valor ronda os 40 pontos
percentuais.”
Fonte: Viana
[2017(c)]
Documentos originais da OCDE: www.oecd.org/pisa,
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