Extractos de uma reportagem
da jornalista Clara Viana, que o jornal «Público» divulgou hoje:
“Alunos do 1.º ciclo ao ensino superior foram dizer ao
ministro da Educação o que fariam se estivessem no lugar que ele hoje ocupa.
Sugestões serão tidas em conta na revisão dos currículos que o ministério está
a preparar.
Mariana tem 16 anos, é aluna do ensino secundário, e
tem à frente o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, para lhe dizer o
que faria se estivesse no seu lugar. A seu lado há mais uma dezena de alunos,
do 1.º ciclo ao ensino superior, com a mesma incumbência. «Se fosse ministro da
Educação reduzia as cargas horárias para que tivéssemos tempo de ser crianças e
jovens. Em vez de aulas com o professor a expor a matéria promoveria a
aprendizagem por experimentação e observação, porque assim como é em 50 minutos
de aulas com o professor a falar apenas retemos cinco a 10 minutos do que ele
diz», enumera Mariana.”
“Mariana prossegue: «Os currículos são tão extensos
que nas aulas nem temos tempo para pôr dúvidas. Os professores dizem logo que
temos de passar à frente».”
“Para os alunos do secundário, o tempo é demasiado
curto: «Temos tanta coisa para dizer!»
Entre os alunos do 1.º ciclo, a escola ainda é
basicamente «fixe e divertida», o que já não sucede com os mais velhos. Mas
todos coincidem no retrato da escola que queriam ter: mais aulas práticas, mais
debates, mais trabalhos de grupo, mais visitas de estudo, possibilidade no
secundário de poderem escolher disciplinas em vez de áreas compartimentadas,
mais arte, mais cidadania, maior ligação à prática, turmas mais pequenas, menos
trabalhos para casa, professores motivados e que não desistam dos alunos.
«Precisamos de saber que há mais vida para além da
escola e não estar ali só para ir passando de ano», comenta Manuel, aluno do
9.º ano de escolaridade. Do grupo do secundário vem a seguinte constatação: «A
pergunta que mais fazemos aos professores é saber se o que estão a dar vai sair
nos testes». Consideram que o peso destes e dos exames está sobrevalorizado e
que por causa disso não se podem “dar ao luxo” de aprender o que gostavam. Seja
por causa disto, da extensão das matérias, das metas curriculares, queixam-se
de que «professores e alunos andam todos stressados».”
“Não é isto que querem. Desejam uma escola que lhes «conceda
as ferramentas necessárias para todas as esfera da vida». Mais uma vez do grupo
do secundário vem o recado: «Ainda há muito a fazer nesta matéria. Um aluno que
acaba o secundário, aos 18 anos, não sabe como preencher o IRS, nem pensar por
si próprio para decidir em que partido votar».
Falta espírito crítico. E sobre isso Mariana tem mais
um recado a apresentar: «Não queremos ser jovens formatados, mas sim cidadãos
do mundo». Para eles, a escola do futuro é feita destas grandes mudanças, mas
também de coisas mais corriqueiras como algumas das que foram identificadas
pelo grupo do 2.º ciclo: melhorar a comida do refeitório ou ter papel higiénico
nas casas de banho.”
Desde há algum tempo começaram a ser feitas consultas deste tipo (bem como inquéritos) aos alunos; as respostas contrastam muito com a realidade das escolas; certamente se obteriam resultados igualmente contrastantes (embora diferentes) se se fizessem consultas e inquéritos semelhantes aos professores, aos pais, .... A questão é: se estas indicações forem levadas a sério, será possível continuar a ter um «sistema educativo» tão uniforme como até aqui?
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